O Estado português procura proporcionar, pelos Natais, um apoio especial aos cidadãos portugueses que estão presos por esse mundo fora, cumprindo os mais diversos tipos de penas, infelizmente em condições de encarceramento nem sempre com um mínimo de dignidade.
Um dia de 2011, com o Conselheiro Social da embaixada em Paris, Victor Gil, acompanhados por uma freira portuguesa que se voluntariava para dar apoio aos nossos presos, decidi ir visitar o diretor da cadeia de alta segurança existente em Fresnes, perto de Paris, onde cumpriam longas penas alguns portugueses, acusados de crimes graves. O objetivo era tentar discutir a possível melhoria das suas condições de vida (acesso a televisões era, ao que me lembro, um dos problemas), assunto para o qual uma simpática freira portuguesa a viver em França, a Irmã Elisa, nos tinha sensibilizado.
Já não tenho presente o saldo útil da nossa conversa, para as questões que ali nos tinham levado, mas recordo bem uma coisa que o diretor de Fresnes me disse: “Tenho aqui portugueses a cumprir longas penas, alguns pela prática de crimes muito violentos, de vários assassinatos. Mas, em geral, tenho boa impressão desses homens”. Recordo-me que fiquei surpreendido com a aparente contradição. Mas ele explicou: “Esses homens chegam aqui e querem logo começar a trabalhar, em qualquer setor. Porque vêm habituados a fazê-lo, no seu anterior dia-a-dia. Na esmagadora maioria, trata-se de gente muito simples, sem cadastro anterior, não estando ligados a modelos de criminalidade organizada. Cometeram, quase sempre, crimes ”de honra”, tentando vingar o que entenderam como traições ou a sua dignidade ofendida, ou de familiares. Às vezes fizeram-no com uma extraordinária violência, o que levou a pesadas penas“.
Lembrei-me disto ontem, ao ver o secretário de Estado das Comunidades entregar algum apoio de Natal aos presos de Fresnes. Quem está a pagar o preço que deve à sociedade tem os seus direitos cerceados, mas a sua dignidade como seres humanos tem de ser respeitada.
2 comentários:
Lido.
Despacho:
Deferido com muito gosto.
[ Acima de tudo são seres humanos que deviam esperar serem recuperados durante o cumprimento das suas penas. Muitas vezes saiem das prisões piores do que entraram. Ele é uma má escola. ]
crimes ”de honra”, tentando vingar o que entenderam como traições ou a sua dignidade ofendida, ou de familiares
Crimes próprios de pessoas que não acreditam no sistema de justiça, como qualquer português educado em Portugal não pode deixar de não acreditar.
Quando a pessoa vê que a agressão que lhe foi feita, ou à sua família, ou àqueles que ama, não é vingada pelo sistema de justiça, não pode deixar de querer fazer justiça pelas suas próprias mãos.
E é isso que, infelizmente, não raras vezes se observa em Portugal. Em particular, mas não exclusivamente, nas estradas portuguesas.
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