Aquele diplomata não fazia a mais leve ideia da razão pela qual o colaborador do ministro se mostrara tão efusivo, quando o cumprimentou, tratando-o logo pelo nome e por tu. Reagiu a toda aquela cordialidade mantendo uma sorridente distância. O homem era muito simpático, mas a verdade é que a cara nada lhe dizia, pelo que o continuou a intrigar toda aquela intimidade, a qual, no entanto, parecia sincera.
A reunião acabou e coincidiu sairem da sala juntos. O homem, tendo notado o alheamento do diplomata, fez-lhe luz: “Já não te lembras de mim, pá?! Gandas noitadas no Nina! A malta ali, na segunda mesa, à direita de quem entra. Tás a ver?”
O diplomata não se lembrava de nada. Nem se lembrava sequer de ir ao Nina. Aliás, quem ia às casas como o Nina perdia, além de outras coisas, a memória do que por lá se tinha passado. Vagamente, com esforço, pensou que, se acaso alguma vez tivesse ido ao Nina, o que estava longe de ser seguro, a sua mesa era quase sempre a do fundo, à esquerda, perto do bar. Mas, se calhar, o diplomata nunca tinha ido ao Nina. Era até o mais certo. Mas, a partir desse dia, o diplomata passou a tratar pelo nome e por tu o homem com que, com toda a certeza, nunca se tinha encontrado no Nina. Onde seria o Nina?
Passei lá há pouco. Há muit que já não há Nina. E o que é feito desses meus dois amigos?
6 comentários:
Então e do Elefante Branco, não fala? Nunca lá foi? E os seus ex-colegas, não iam?
Caro Franciscamigo
Só para relembrares...
Denominação: SOCIEDADE COMERCIAL ALCUDA, LDA (ATIVA)
Morada: RUA PAIVA DE ANDRADA, 7/13
Localidade: 1200-310 LISBOA
Atividade (CAE): Estabelecimentos de bebidas com espaço de dança
Data da Constituição: Dezembro 1943
Abç do Henrique, o Leãozão
Durante a minha vida de boémia frequentei muitos locais de diversão noturna [como agora se diz] mas nunca se ía ao Nina.
Era assim um espaço tabu.
Havia uma espécie de entendimenro tácito de que aquilo era "um local mal frequentado" e também nunca nos deu na gana de frequentar o Nina para avacalhar aquilo de verdade mesmo.
Nem nas noites de quartas feiras, depois da ópera semanal, em S.Carlos, de "smoking" e vestido comprido, nos dava jeito para a ceia.
O que o Luís Lavoura vem recordar...
-Isso não era para se dizer...!!!
Quem frequentava o Nina era o Copus Night por oposição ao irmão que era da Opus Dei.
In, Alexandra Alpha, José Cardoso Pires.
O que eu me ri com este seu post...
É, de facto, preciso ter-se já alguma idade - que simpática que sou comigo! - para recordar as "estórias" do Nina e dos seus frequentadores. Na minha família havia um tio materno que era assíduo da casa. A minha avó sofria, silenciosamente, com a vida do filho mais novo. Mas o olhito azul do meu avô revelava alguma tolerância e a minha mãe e uma irmã, pediam, melhor "chantageavam" o caçula para ele as levar lá só para ver.
Caro Francisco, obrigada por me ter feito retroceder à minha infância. É que se eu fosse a minha mãe - quem me dera - era muito capaz de ter feito como ela. Aliás, "quem sai aos seus não degenera"!
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