segunda-feira, novembro 27, 2017

Dois anos


Nos últimos meses destes dois anos, várias coisas têm corrido mal para o governo de António Costa. Algumas têm razões conjunturais que ajudam a justificar os azares, em outras houve erros de monta que só a ele podem ser imputados. E porque o governo tem vários ministros, mas todos se chamam António Costa, é sobre ele e sobre mais ninguém que aterram as núvens negras. Por isso foi irrelevante a saída da ministra da Administração Interna, embora eu aconselhe a que se esteja atento à qualidade muito rara do seu substituto.

As pessoas têm a memória curta. Já não se lembram das previsões catastróficas que se faziam sobre a sustentabilidade da “geringonça” (a começar por mim, que não tenho o menor pejo em reconhecer que me enganei), da reação externa negativa ao modelo de acordo político (ter um presidente “de direita” a dar-se bem com o executivo ajudou a desanuviar esse ambiente, como me dizia um amigo dos “States”), do “diabo” a vestir o fim anunciado do “quantitative easing” e de coisas assim. A economia ajudou, com a Europa (em especial o BCE) a portaram-se bem e a confiança dos portugueses acabou por variar na razão inversa do mal-estar das oposições. Marcelo ajudou até ao momento em que percebeu que a viatura tinha um pneu furado; regressará, logo que pressentir que o furo foi remendado. 

António Costa tem cometido alguns erros escusados, como foi o caso do Infarmed, como já tinha sido o episódio das férias, como foi o discurso pós segunda leva de incêndios. E sofre - e vai sofrer mais, a partir de agora - com o facto do vento ter definitivamente mudado. Há um momento na vida dos governos em que a tempestade passa a surgir de frente, em que a imprensa deixa por completo de dar o benefício da dúvida, em que as mentiras “pegam” com mais facilidade, agora ajudadas pelos “clikbaits” e pelas partilhas acéfalas de títulos nas redes sociais. O manhoso de Santa Comba não viveu para ver que são os dias de hoje que lhe dão razão quando dizia que “em política, o que parece é”.

Creio prematuro pensar-se que o governo entrou em decadência terminal. Claro que o otimismo da Primavera passada já não vai voltar. Cada erro, a partir de agora, passa a ser pago com língua de palmo. Mas se as pessoas perceberem que, de facto, a sua vida muda para melhor graças às medidas do governo, se este não tropeçar demasiadas vezes em si próprio e se souber mostrar, simultaneamente, direção, firmeza, eficácia e humanidade, o PS pode estar para lavar e durar no poder. Assim aceitem esta realidade e isso convenha aos seus “camaradas” de jornada.

12 comentários:

A Nossa Travessa disse...

Chico

Não posso deixar de dizer que concordo 123456 vezes contigo e o mais são tretas...
E acrescento:se o Tony não se põe a pau está feitio!

Abç do Henrique, o Leãozão

Cícero Catilinária disse...

"em que a imprensa deixa por completo de dar o benefício da dúvida"
Mas alguma vez a imprensa deu o benefício da dúvida a este governo?
Tudo o que tem feito, esta dita imprensa que por desdita temos, é tentar deitar
abaixo esta governação, valendo-se de tudo o que lhe vem à mão, quando não de
"factos" inventados ou distorcidos.

Anónimo disse...

Cada vez que os media lusos repercutem duvidas da Comissão sobre Portugal fazem um favor a outros. Agora é Padoan que os franceses sacam sa cartola para o Eurogrupo...

Anónimo disse...

Não é muito original. O senhor não é o primeiro a decretar o fim da geringonça. Há quem ande a fazer isso há dois anos e é sempre para o dia seguinte. É como as Testemunhas de Jeová.

Luís Lavoura disse...

com a Europa (em especial o BCE) a portaram-se bem

Eu diria que "a portarem-se bem" é uma expressão muito suave. Seria mais correto dizer "a fazerem o que é correto".

Além disso. não é a Europa quem se está a portar bem, é única e exclusivamente o BCE. É ele o grande responsável pelo surto de crescimento que surgiu na Europa desde que ele adotou o quantitative easing.

Anónimo disse...

Obviamente a imprensa nunca deu um único dia de tréguas a esta solução governativa. Ainda ontem isso ficou bem claro: aprovado o OE, o assunto das noticias foi o amuo da Mortágua. Não percebo como se pode sugerir uma "novidade" naquilo que tem sido uma constante.

MRocha

As Bombinhas da Catrina disse...

Costa também se cansa e os nervos não são de aço...Costa faz «corpo morto» como estratégia.

Este ADN é raro, pode chegar aos limites, não digo que chegue a ficar momentaneamente inanimado ou chegue a uma «greve de fome».

Mas daquele ADN é de esperar qualquer surpresa.

Passos e Seguro, Catarina e PCP que o digam.

Marcelo e nós todos que nos cuidemos.

A JOGATANA disse...

Naquela verborreia da Mortágua, verborreia e mais nada, não haverá teatro a mais?
Não será conversa fiada para "português" votar?
E mais nada, após espremer?

Anónimo disse...

Estão outra vez as coisas mal postas pelo embaixador.

Os companheiros de jornada aceitem a realidade? que culpa têm os companheiros de jornada da traição na EDP ou do Infarmed?

O PS que actue com honestidade e decência em vez de mergulhar na trafulhice e os companheiros de jornada não lhe faltarão.

Infelizmente o PS parece apostado em cair nos braços do habitual arco da governação, no habitual arco dos interesses.

Anónimo disse...

P manhoso de 2017, está agora cheio de ganas.....

A JOGATANA disse...

Aquele espetáculo verbal da Mortágua, a fingir-se de” virgem ofendida” pela traição do Costa, foi uma caça ao voto no Bloco mais descarado e cínico que se possa imaginar.
Será que ser de esquerda em Portugal, é preciso chamar de parvo ao “pobinho”?

Anónimo disse...

Belo texto, Senhor Embaixador!

Ao PM deseja-se menos autismo e menos sorrisos. Aos membros do Governo? Mas riem de quê?

Reuniões, como a de Aveiro, basta ver as fotos... As caras dos(das) ministros(as) metem medo! Agoniados, uma seca, uma vergonha... Para salvar a honra, sempre aquele que não foi nunca erro de casting - tem a Segurança Social, Emprego e Trabalho. E tem calma. E respeito pelas pessoas, quando fala.

Vergonha

Esta senhora faz de conta de que só agora se deu conta do que se passa em Gaza, depois de várias dezenas de milhares de mortos e de perceber...