segunda-feira, agosto 10, 2015

Rivais


Num final de tarde de 2007, aterrei no aeroporto de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Durante a viagem no taxi que me conduzia ao hotel, vi passar carros com bandeiras, no que me pareceu ser o prelúdio de um qualquer evento desportivo. Perguntei ao motorista de que se tratava. O homem olhou para mim com cara de poucos amigos e, claramente, com algum desprezo justificado pelo meu desconhecimento: "Hoje o Grêmio joga com o Inter".

Foi então que me veio à memória que, em Porto Alegre, existe uma das maiores rivalidades que opõem clubes na América Latina. O Grêmio de Porto Alegre e o Internacional de Porto Alegre são, desde há anos imemoriais, adversários ferrenhos, numa conflitualidade que já produziu mortos e que transforma o clássico Fla-Flu (Flamengo-Fluminense) carioca numa rixa de infantário. Quando um desses clubes gaúchos joga com uma equipa da Argentina, um país ali ao lado pelo qual nenhum brasileiro morre de amores, metade de Porto Alegre "vira", por 90 minutos, argentina...

Não estimulado pela má catadura do meu condutor, hesitei uns segundos antes de colocar a pergunta: "E o meu amigo de que clube é?" O sentimento de pena do homem para comigo acentuou-se ao ter de revelar o que sentia dever ser óbvio: "Sou do Grêmio. Só pode, não é?!".

Já não me recordo do correr da conversa, mas fixei para sempre as palavras de quase ódio com que, a certo ponto da verborreia anti-Inter por que enveredou, me falou de um filho que se tinha convertido em adepto do Inter, por via do namoro com uma jovem de uma família que era adepta do rival. "Mandei ele sair de casa na noite em que soube que ele se dava com gente dessa! Com roupa e tudo. Foi há quatro anos, vive noutra zona da cidade. Não quero saber dele. Nunca mais."

Chegámos ao hotel. Paguei, não lhe desejei felicidades para o jogo. À noite, na televisão, vi que o Grêmio tinha perdido. Ontem, ganhou por uns rotundos 5-0 ao Inter. Se ainda é vivo, o meu motorista deve ter apanhado um "porre" de caixão à cova!

5 comentários:

Anónimo disse...

Gente estúpida.

Anónimo disse...

Embaixador, sou Português, mas vivo e trabalho no Brasil tem alguns anos. Já agora sou do Sporting(ontem lá ganhamos mais uma para a nossa coleção). Efetivamente essas rivalidades existem em praticamente todos os Estados do Brasil como sei que sabe. Mas estando já eu também em Buenos Aires na Argentina, nenhuma destas rivalidades aqui do Brasil se pode comparar com a de River Plate e Boca Juniors. Para além disso claramente o futebol na Argentina é muito melhor jogado que o que se assiste no Brasil. Sinceramente vou acaompanhdo apenas muito pontualmente os resultados e classificação do Brasileirão, porque o futebol jogado é muito fraco. Claramente continuo a interessar-me pelo campeonato Português, como não podia deixar de ser e aqui na América do Sul o meu preferido é o Argentino

Anónimo disse...

Públicos que são os gostos futebolísticos do Senhor Embaixador, estou certo que em breve haverá pessoas que mal intencionadas tentarão relacionar este "post" com um jogo qualquer realizado ontem no Algarve.

Enfim, uma infâmia atroz.

N391111

Carlos Fonseca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Caríssimo Chico

Também já vivi o Fla-Flu no antigo Maracanã já lá vão uns anitos quando o meu irmão (éramos três mas o mais novo suicidou-se com 33 anos) Braz, que então vivia no Rio,me convidou para o derby. Nunca tinha estado no estádio que então se gabava como sendo o maior do Mundo e foi um misto de deslumbramento e de medo... pelo comportamento dos torcedores...

E também assisti justamente em Porto Alegre o Grêmio - Inter; mais outro susto...

Porém, ontem, vi na televisão o Sporting - Benfica no estádio do Algarve e não me acagacei: pudera ganhámos e jogámos bem; mas não me deslumbrei. Foi um jogo disputado, aqui e além com umas sarrafadas, casos e coisas e finalmente ganhou o melhor, ou seja o nosso O Jesus sabe da poda; é malcriado - mas sabe da chincha...

Abç do Leãozão

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...