Surgiu ontem a história de uma chinesa que, impedida de entrar num avião com uma garrafa de cognac, decidiu bebê-la toda de seguida e, claro, acabou muito mal...
Esta história trouxe-me à memória um episódio que faz parte dos anais de uma certa boémia de Vila Real, nos anos 50/60.
Havia na cidade um grupo de amigos, sob a liderança benévola de António Fernandes, um homem abastado e "bon vivant", conhecido pelo "Antoninho do Talho", que se dedicavam a grandes "tainadas" e imemoriais convívios. Às vezes, o convívio prolongava-se mesmo em viagens ao estrangeiro, de que há anedotas deliciosas, algumas das quais citadas em livros.
Havia, porém, uma limitação forte na logística dessas deslocações: a necessidade de levarem o próprio vinho, aparentemente por não confiarem na capacidade de um abastecimento à altura, lá pela estranja. Ficou mesmo nas lendas o despacho de uma partida de garrafões numa ida ao Brasil, no famoso "Voo da Amizade", então promovido pela Tap e pelas desaparecidas Panair e Varig.
A historieta de hoje, que veio a propósito do drama da chinesa, é bastante mais prosaica e, ao que se conta, teve lugar na fronteira entre Quintanilha e San Martin del Pedroso, na estrada de Bragança e Zamora.
À passagem do automóvel da divertida comitiva, que iria com destino a Paris, a polícia espanhola, como era de regra, mandou abrir a bagageira da viatura e, deparando com uma imensidão de garrafões de vinho não declarados "para exportação", fez menção de reter a vital mercadoria. O pânico pela iminente desaparição dos néctares instalou-se nos viajantes, que tentaram explicar que todo aquele "material" era, muito simplesmente, para consumo. Os guardas vestidos de cinzento, abotoados até ao pescoço, com os famigerados chapéus pretos em forma de tricórnio, não se mostravam convencidos do destino não comercial do vinho.
Terá sido então que o Magalhães, uma divertida figura da família dos Macário, sacou a rolha de um dos garrafões e iniciou o respetivo emborcanço, para estupefação dos cívicos, apenas como forma de revelar o nível de consumo que era expectável no grupo. Um dos polícias mandou então suspender o ato e, ao que reza o mito urbano, terá constatado: "Van ustédes muy mal suministrados"... E lá os deixou seguir!
11 comentários:
Embaixador, esse Antoninho do Talho era fera.Dele já tenho pouca ideia, conheci bem foi o filho também já desaparecido(Carlos Fernandes).Também me contam que em tempos idos quando o Vila Real no auge da sua epopeia(anos 40 e 50),quando ia jogar lá para os lados do Minho ou do Porto os autocarros de adeptos também iam bem abastecidos de "gasosa", mas as vezes diz que ao chegar ao Alto Espinho, já grande parte da mercadoria tinha sido despejada. Eram bons bebedores estes nossos conterrâneos.Dessa trupe do Antoninho do Talho parece que também faziam parte entre outros um dos Taboadas, Doutor Zé Zé, Alfredo Teixeira, todos estes que referi já desaparecidos.
Caro Anónimo das 12:48. Essa era uma cidade diferente da de hoje, muito mais pequena, em que todos conheciam todos. Era também mais provinciana, pelo que a "diferença" se destacava, era invejada e (talvez) sobrevalorizada. Essas figuras que mencionou, com os seus defeitos e qualidades, marcaram gerações e por alguma razão sobrevivem na memória coletiva, às vezes em caricatura, muitas vezes cruel, outras vezes edulcorada face à realidade objetiva das coisas. Hoje, a cidade vive melhor e outras tertúlias e redes de amizade juntam as pessoas, creio que com uma valorização mais inclusiva das famílias. Lembrar o passado não deve ser confundido com nostalgia.
Por falar em avião das muitas do senhor Antoninho e amigos recordo a ida ao Brasil em que embarcaram na Varig com cerca de 50 garrafões de vinho da quinta de Almodena. Como não era possível transportar tamanha carga colocaram os ditos em sacos de plástico da companhia e pediram aos passageiros para transportarem o vinho que seria recolhido à chegada ao Rio de Janeiro. Porém ali chegados muitos foram os que se fizeram de esquecidos e se preparavam para levar a carga para casa. Ficou celebre a preocupação do Senhor Antoninho a correr o aeroporto em altos berros "Atenção aos Váriges, Atenção aos Váriges"
No longínquo ano de 1968, no Recife, nordeste do Brasil, fiz uma encomenda de chouriços à família em Portugal para ajudar a confecionar um "cozido à Portuguesa". A encomenda chegou pelo correio e fui avisado para levantá-la lá no edifício central. A empregada perguntou o que continha a embalagem e eu disse tudo "direitinho". A seguir, a empregada informou que ia despejar creolina sobre os chouriços lá num canto da sala. Era proibida a entrada daqueles produtos no Brasil. Ainda hoje sinto a falta daquele paladar no cozido...
Embaixador, é verdade esse seu comentário ao meu comentário. Talvez por isso muitas das pessoas mais velhas da Cidade, sobretudo alguns que pertenceram a uma determinada "elite" citadina, hoje tem alguma difuldade em entender os novos vectores da urbe, mas curiosamente alguns deles conseguem conviver bem com a modernidade. Tento sempre analisar factos com a época em questão. Muitas vezes as pessoas criticam comportamentos passados, mas esquecem que as épocas eram e são sempre diferentes. A melhor homenagem que se poderá fazer a qualquer pessoa, será sempre recordar com episódios as suas vivências. Tenho 46 anos, mas gosto imenso de conversar com pessoas mais velhas, sobretudo aquelas que tal como o Embaixador tem memórias fotográficas. Gosto de ouvir e ler sobre o nosso passado colectivo enquanto sociedade. Alguns gostam de rezar pelas pessoas, mas como não tenho crença em Deus algum prefiro recordar as pessoas para as perpetuar a elas e aos episódios. Pena que nem sempre se tenha valorizado muitas vezes a perpetuação de toda uma Memória colectiva. Será de todo importante um bom conhecimento do Passado para entendermos o presente e quiçá projetarmos da melhor maneira o futuro.
Da família dos "MacárioS", perniciosa mania de errar o plural dos apelidos. Seixas da Costa leu Os Maia ou os Maias? Eça não será suficiente para que se saiba fazer os plurais dos apelidos? Por que carga de água os macários hão-de ser só um, de acordo com a norma francesa que nunca, nunca foi a portuguesa?
Perniciosa mania que fez Os Simpsons correrem bem na RTP, mas correrem erradamente no singular na analfabeta Fox. Ainda na RTP, vimos, bem, Os Sopranos, mas no cabo temos de levar com Os Bórgia e com Os Tudor.
Já agora, qual é o plural de Seixas da Costa? ou Cavaco da Silva?
Cavacos das Silvas?
Cumprimentos
F.Crabtree
Eu não sei tudo. E há casos em que a dúvida surge. Mas ainda sei que Maia é um apelido único com um título no cânone literário português, bastante fácil de usar como mnemónica, e adaptar a títulos de séries ou filmes ou livros, tal como os Sopranos, os Tudors, os Braganças, os Bórgias, os Simpsons.
Quanto às perguntas concretas, slavo melhor opinião, optaria por os Seixas da Costa, que Seixas já é igual no singular e no plural, como Magalhães, por exemplo.
E ainda os Cavacos da Silva, mas, por outro lado, os Cavacos Silvas - que é o nome da família daquela criatura que habita em Belém de Lisboa. De qualquer modo há regras para fazer os plurais compostos em português, que podem seguir-se. Não é o caso de um nome próprio isolado - que é bastante mais simples, e lembrado pelos Maias.
Ainda nos nomes, que são uma cena que se pluraliza, há dias ouvia um apresentador na televisão a dizer que alguém fazia parte das listas "dos mais sexy". Ora, que vos parece a correção de dizer "os mais lindo", "os mais gordo", "os mais esperto"?
Sobre plurais de apelidos, veja-se:
http://linguagista.blogs.sapo.pt/apelidos-no-plural-em-todo-o-lado-1371682
http://linguagista.blogs.sapo.pt/821251.html
http://linguagista.blogs.sapo.pt/plural-dos-apelidos-990315
http://linguagista.blogs.sapo.pt/plural-dos-apelidos-monjardinos-1357469
http://linguagista.blogs.sapo.pt/444744.html
http://linguagista.blogs.sapo.pt/670439.html
http://linguagista.blogs.sapo.pt/779613.html
http://linguagista.blogs.sapo.pt/36763.html
http://linguagista.blogs.sapo.pt/171778.html
http://linguagista.blogs.sapo.pt/202452.html
http://linguagista.blogs.sapo.pt/240469.html
O anónimo das 17:36, não deve ter mesmo nada mais para fazer que não seja isto!
Sabe, 28 de agosto de 2015 às 17:02, independentemente do que eu tenha ou deixe de ter para fazer, não lhe vou esclarecer a alma de coscuvilheira a meter-se na vida dos outros, mas com o meu comentário sempre ilumino eventuais ignorâncias, já V., pelos vistos ocupadérrimo, perpetra lavares de alma tão úteis como os de uma vizinha de bairro xunga. Dá-lhe Aufredo.
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