sexta-feira, agosto 07, 2015

Genialidade ou cretinice?

Com a idade, tornamo-nos mais sábios? Não tenho essa certeza. Comigo, a idade teve como efeito interrogar-me cada vez mais sobre as opções que tomo na vida, tentar evitar que a precipitação, num juízo ou numa atitude, constitua um erro desnecessário. É claro que essa hesitação pode ser lida por alguns como calculista, como derivada de uma "agenda" ou da necessidade de nos preservarmos para poder vir a tê-la. Num outro registo, esta pausa deliberada para reflexão pode ser interpretada como alguma angústia na decisão, aquele estado de incapacidade de escolha, típico de quem se baralha nos prós-e-contras das coisas, num reflexo da idade. Como, felizmente, o primeiro caso (já) não se me aplica, só posso caber na segunda e frágil opção. Constato-a com pena, mas sou suficientemente lúcido para não me inquietar demasiado com o assunto.

Ontem, ao olhar para o cartaz em que o PS coloca uma senhora a dizer que está desempregada desde há cinco anos, isto é, desde o tempo do governo Sócrates, dei comigo a pensar: este cartaz ou é uma imensa genialidade ou é uma enorme cretinice. Mas porque não acredito que, no seio de uma campanha que imagino deva ser altamente pensada, profissional e responsável, se façam cretinices com tal ligeireza, sou conduzido à conclusão de que o cartaz, na sua (só) aparente irracionalidade, corresponde afinal a uma estratégia profundamente estudada, testada e "straight to the point". O cartaz tem, assim, de ser genial. Apenas em teoria me atrevo a admitir outra opção, sem sequer ousar expressar o que pensaria dos responsáveis da campanha, se acaso assim não fosse. 

9 comentários:

Anónimo disse...

A culpa é do brasuca! É que nem vale a pena perder mais tempo a procurar culpados. O brasuca é que não sabe ler estatísticas.

António Pedro Pereira disse...

Caro Senhor Embaixador:
Se não vivêssemos um tempo a que uma figura pública agora bem conhecida, e que espero ainda venha a ser mais no futuro imediato, chama «tempo detergente».
Porque cada ideia que surge tem de «lavar mais branco» do que a anterior e só tem tempo de validade da espuma do detergente: o momento efervescente.
Se não vivêssemos nesse «tempo detergente» o cartaz não seria motivo de chacota por parte da Direita apoiante deste governo, antes seria um forte libelo contra o actual governo.
Porquê?
Porque no tempo do anterior havia desemprego, pelo que é possível a senhora ter ficado desempregada.
Mas não só não arranjou emprego durante 1 ano como agora, com este governo salvador da pátria e competente, ao fim de mais 4 anos continua desempregada.
Mas as coisas não são assim, não é a racionalidade que impera, é a força da espuma do detergente, talvez por fazer muitas bolhinhas.

Anónimo disse...

"O cartaz tem, assim, de ser genial. Apenas em teoria me atrevo a admitir outra opção, sem sequer ousar expressar o que pensaria dos responsáveis da campanha, se acaso assim não fosse."

Helas, a Diplomacia...

Anónimo disse...

Assim se pode concluir: "Quem assim fala não é gago..."

Anónimo disse...

O que eu aprecio cada vez mais em si é a liberdade de pensar pela sua cabeça, mesmo sabendo que pela certa muitos dos seus amigos vão ficar furiosos com o que escreve. Gosto de genfe assim até pirque há pouca

CSC

inconfessável disse...

Não vi ainda o cartaz, mas é sincero, no mínimo. Há desempregados desde 2009/10, foi quando começou a sangria dos PACKs.
Dizendo a verdade, começam a enfrentar o tempo de Sócrates, penso eu.

Bartolomeu disse...

A Senhora do cartaz até podia estar sem emprego, desde 5 de Outubro de 1143, data da fundação da nacionalidade.
A porra toda é que, nos últimos decénios, cada governo, tem prometido à senhora que lhe vai criar um emprego e até hoje, ainda nenhum foi capaz de cumprir a promessa.

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Cada tiro cada melro

Joaquim de Freitas disse...

Ao Senhor Bartolomeu, que escreve: "A porra toda é que, nos últimos decénios, cada governo, tem prometido à senhora que lhe vai criar um emprego e até hoje, ainda nenhum foi capaz de cumprir a promessa"

Nao acha que nao é possivel satisfazer toda a gente? Imagine que alguém escreveu isto, onde seria?

" “Cleptocracia” é como o antigo ministro define o Estado

“Enfrentámos uma imensa aliança de interesses instalados e de práticas oligárquicas, um verdadeiro triunvirato do pecado : primeiro, os bancos, os bancos falidos que são mantidos vivos com o dinheiro dos contribuintes mas sem que os contribuintes possam dizer seja o que for sobre o que eles fazem. Em segundo lugar, os media, particularmente os jornais e os meios electrónicos, que também estão falidos. Mas são controlados pelos bancos, que usaram o dinheiro do resgate para apoiar os jornais e assegurar que cumprem o seu papel de propaganda. Em terceiro lugar, os interesses associados aos investimentos públicos.”
Para explicar este último ponto, o ex-ministro lembra que o custo de construção de um quilómetro de auto-estrada é três vezes mais do que na Alemanha ou França, “e não é porque as pessoas trabalham menos ou são menos eficientes… Se querem saber o porquê, estudem as villas sumptuosas e quantos donos e presidentes dessas empresas vivem por lá”,

Nova Iorque, sempre

Desembarquei pela primeira vez em Nova Iorque em dezembro de 1972. Recordo uma cidade gélida, ventosa, com um sol sem calor. Mas tudo tinha ...