O atentado de ontem em Bangkok veio chamar uma vez mais a atenção para a imensa fragilidade que sofrem, nos dias de hoje, as economias que têm uma forte dependência das receitas do turismo. Aos movimentos e forças políticas, internas ou externas, que pretendem instabilizar esses países basta-lhes "plantarem" uma bomba ou organizarem um atentado, que terão uma expressão mediática global, para induzirem nos potenciais visitantes um automático receio, que os levará à escolha de destinos alternativos. As férias são um tempo de lazer, normalmente com famílias, nas quais se procura precisamente a calma, o sossego e a segurança. Ao mais leve sinal de distúrbio num destino turístico que alguém estiver a considerar, é óbvio que o viajante irá procurar outras paragens.
Não vale a pena iludir que Portugal, e Lisboa em particular, está a beneficiar muito da instabilidade que afeta outros destinos turísticos tradicionalmente interessantes para os europeus. O que se passa no norte de África e até o ambiente social na Grécia acabaram por colocar Portugal na rota de muita gente que nunca nos tinha no mapa das suas preferências para férias. O surto de construção de hotéis e de instalação de hostels deve-se muito a este movimento, o qual, contudo, não nos deve iludir em definitivo.
Portugal tem condições excecionais para o turismo, desde o clima à gastronomia, da capacidade acolhedora das pessoas aos preços baixos, do golfe a destino para seniores. Mas é bom que se entenda que não somos, nem seremos nunca, um destino turístico com uma identidade própria muito forte, como é Paris ou Londres, como Nova Iorque ou Roma, que sempre serão polos de atração mundial, aconteça o que acontecer por lá. Também não temos pirâmides como o Egito, não temos Machu Pichu como o Perú, não temos Petra como a Jordânia, não temos Angkhor como o Cambodja. Assim, em caso de por cá vir a acontecer - lagarto! lagarto! - uma desgraça securitária, a nossa capacidade de recuperação, como destino turístico de massas, será muito mais difícil do que em qualquer daqueles outros destinos, à partida privilegiados por condições de atração únicas.
O que quis dizer com isto? Duas coisas: que a preservação da segurança deve, cada vez mais, estar na nossa agenda pública de preocupações e que é importante não nos deixarmos iludir muito pelo papel que o turismo pode continuar a ter na nossa economia.
Aproveitar esta "onda" turística, explorá-la inteligentemente para melhorar e qualificar as nossas estruturas, materiais e humanas, de acolhimento é um imperativo. Mas, em matéria de planificação dos caminhos de futuro para a nossa economia, nunca devemos perder de vista que o turismo é uma atividade que depende muito da vontade dos outros, tem o caráter de um produto supletivo e não essencial e é passível de fortes variações conjunturais. Não ter isto em permanente conta pode acabar por conduzir o país a uma imensa ilusão.
8 comentários:
Por acaso, o tal "ambiente social na Grécia" não provocou nenhuma fuga de turistas para outro lado qualquer, incluindo Portugal.
http://www.reuters.com/article/2015/08/06/us-eurozone-greece-tourism-idUSKCN0QB0UH20150806
http://www.ibtimes.com/greek-debt-crisis-2015-tourism-sector-remains-stable-despite-greeces-economic-woes-1979709
Mas eu sei que alguma imprensa apresenta a Grécia como um local permanentemente ocupado por manifestantes em fúria, de onde os estrangeiros fogem :)
Um bom turismo em Portugal só precisa de uma boa polícia, bem preparada (secreta, visível, dinâmica, motivada) com o sentido à antiga, em que só se perdiam as que caíam no chão.
Aí até os vistos gold eram tipo-calouste, e não a troco de T3 com piscina.
Um bom turismo em Portugal só precisa de uma boa polícia, bem preparada (secreta, visível, dinâmica, motivada) com o sentido à antiga, em que só se perdiam as que caíam no chão.
Aí até os vistos gold eram tipo-calouste, e não a troco de T3 com piscina.
A propósito do potencial do turismo em Portugal, que estará sempre ligado à segurança, fiquei estupefacto quando ouvi o SE doa Transportes dizer que nos próximos 50 anos Portugal não precisa de novo aeroporto, ou seja, será um dos poucos países de turismo do mundo onde não aterram os principais aviões comerciais que ligam a Ásia à Europa (o A380, o novo Boeing gigante e o que aí virá em meio século). Por isso me dizia no outro dia o nº 2 da Embaixada da China que era uma pena Portugal não ter aeroporto, se não teriam voos diários de Pequim, com o que Madrid está a fazer enormes lucros.
Fernando Neves
Eu acho bem que venham visitar-nos. Sou pela abertura ao Mundo e também gosto de sair da terra. Precisamos de uma polícia atenta e educada, bem paga e motivada. Não é o que vejo nas ruas, a começar pela minha, em que bêbados e graffiteurs são mais que muitos e parecem fora de controle.
a) Astrance
Sr. Embaixador
"nunca seremos"
Diz-se que nunca se deve dizer nunca,
jamais!
A eventual construção de um novo aeroporto, na "outra banda", poderá vir a suceder, se calhar mais cedo do que se pensa. Isto porque a ANA quando foi comprada pelo tal grupo francês, uma das coisa que ficou de se resolver foi exactamente o de aumentar o tráfego aéreo da Portela, com mais vos de Low-cost a fim de se ultrapassar o tal número dos 20-25 milhões de passageiros e deste modo se justificar a construção da 3ªponte sobre o Tejo e de seguida o tal "novel" aeroporto. A Lusoponte e a Moto-Engil estão neste futuro negócio com a ANA dos franceses. E claro, as portagens a pagar, sine die, sobre essa ponte, revertiam para esses três. Deixemos os pássaros pousar e vão ver que um dia destes esse negócio avança. Primeiro o anúncio da construção do aeroporto, depois o da ponte. Os franceses que compraram a ANA não a compraram só para se ficarem pela Portela. O escritório de advogados que está a trar disso, que evito de mencionar, que o diga.
A corrupção no seu melhor...neste país à beira-mar plantado!
Senhor Embaixador,
Comento, apenas, ao seu últmio parágrafo: “os homens que nos governam, ultimamente, têm embandeirado em arco o turismo em Portugal e como que este seja o futuro do engrandecimento da nossa economia, o que é falso.
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O turismo de um país pode hoje se encontrar vigoroso e amnhã decadente, dependendo da estabilidade da economia global e de outros fatores.
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Não se pode pensar no turismo como o sentarmo-nos à sombra da bananeira e deixar correr o marfim!”
Saudações de Banguecoque
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