sexta-feira, agosto 21, 2015

Os genéricos não funcionam?

Quando cheguei ao Brasil, em 2005, algumas pessoas que fui conhecendo, pertencentes a setores poderosos da sociedade, diziam-se "envergonhados" com o presidente que tinham. Sempre "à boca pequena", escarneciam de Lula da Silva, chamavam-lhe analfabeto e contrastavam-no com Fernando Henrique Cardoso, que tinha deixado a presidência dois anos antes.

A minha linha argumentativa contra esta ideia era simples: com FHC, o Brasil tinha ganho um estatuto internacional que a "velha" política brasileira nunca tinha obtido. O facto de um intelectual da craveira de FHC, uma figura impoluta e um homem com grande visão estratégica, ter sido sucedido, sem o menor sobressalto, por um líder sindical com forte sentido social, sem radicalismos nem pulsões revanchistas, mostrava a vitalidade do modelo político brasileiro e a maturidade da sua sociedade. Os brasileiros tinham fortes razões para estarem orgulhosos de ambos.

Não tenho a certeza de ter convencido os meus interlocutores. Com a passagem do tempo, com o evidente êxito de Lula, esses setores acalmaram, no entanto, as suas críticas. O Brasil crescia, as tensões sociais pareciam amainadas, a pobreza reduzia-se fortemente, a marca do país estava em alta, o Brasil “dava certo”. Foi o tempo do “bolsa-família” e do “fome zero”, o biodiesel parecia um maná, o “pré-sal” anunciava amanhãs gloriosos e, o que era mais importante, um futuro de desenvolvimento imparável e sustentado. O Brasil “dava cartas” pelo mundo, tratava por tu o G8, era estrela no G20, na OMC, nos BRICS, no IBAS, cortejado pelo Norte, visto como farol no Sul.

O escândalo do “mensalão” provou que o PT, que chegara ao poder sob uma agenda de “pureza” regeneradora, se comportava basicamente como aqueles que criticara. Para se defender da desilusão, o Brasil “fez de conta” que acreditava que Lula nada sabia das tramóias feitas para o manter no poder. E reelegeu-o. O segundo mandato foi menos glorioso, mas, ainda assim, beneficiou do facto da crise internacional ter chegado tarde ao país, convertido por algum tempo, como outros emergentes, em refúgio de capitais, perante a anarquia financeira que se vivia a Norte. 

Lula não podia ser reeleito, com pena de muitos brasileiros e de grande parte do empresariado. Para lhe suceder, impôs a ministra política com perfil técnico mais evidente. “Lula elege um poste”, dizia-se no Brasil. Mas Dilma Rousseff não era Lula e nunca criou um laço afetivo com um país em derrapagem económica. Perante uma vaga de escândalos, entrou numa alucinante perda de legitimidade. Completamente inábil na relação com o Brasil, confirmou o receio de muitos hipocondríacos: os genéricos não funcionam.

(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")

17 comentários:

Anónimo disse...

O mais engraçado é que, mesmo perante o exemplo desta Dilma mais o da sua congénere argentina, ainda continuamos a aturar diariamente aquela asquerosa pretensão de que "as mulheres na política são diferentes".

Anónimo disse...

E em breve vamos levar com a Maria de Belém mais todo o chorrilho de lugares comuns sexistas esquerdoides.

Maurício Barra disse...

"Os genéricos não funcionam".
Grande mot d'esprit, Senhor Embaixador.
Vai ficar no léxico de debate político !

Joaquim de Freitas disse...

Bom, há genéricos que funcionam muito bem, Senhor Embaixador ! George Bush ...
E quem sabe, Hilary ?

Joaquim de Freitas disse...

Talvez o Senhor Embaixador tenha razão, mas é claro que se a oposição pudesse dar um pontapé na Dilma e pô-la fora, por não importa qual meio, antes das eleições de 1918, para evitar o regresso de Lula, seria excelente !

."O Brasil da ditadura militar e dos chefes políticos que fizeram do país uma quinta dos Estados Unidos da América, nadando em ávida e incontrolável corrupção, está ao ataque servindo-se dos mais sagrados dos direitos democráticos, entre eles o de manifestação. Nada que não se passe igualmente na Venezuela, ou na Bolívia, ou no Equador, e que não se tenha passado nas Honduras e no Paraguai ou na europeia Ucrânia. Os métodos podem variar pontualmente, aqui, ali ou acolá, mas os objectivos são sempre os mesmos: inverter uma situação política determinada em democracia quando as práticas dos eleitos não são do agrado das estruturas, dos interesses e das ambições dos que se acham ungidos pelo direito eterno de governar.
Lula, Dilma e os seus governos foram e são perfeitos? Quem o for que lhes atire a primeira pedra. " Mundo Cão

Anónimo disse...

E o Freitas que não fosse buscar a sua obsessão antiamericana... Doentio!

Anónimo disse...

Infelizmente setores internacionais, que estão longe da realidade brasileira, ainda acreditam que o Lula (PT) vez alguma coisa para o Brasil. Ledo engano, não arrumou o que precisava e destruiu o que estava arrumado. Foi tudo só para inglês ver, e parece que ainda colhe alguns, dessas mentiras. Nós brasileiros somos testemunhas e vítimas dessas incompetências e irresponsabilidades. FORA CAMBADA DE IMPRESTÁVEIS.

Anónimo disse...

21 de agosto de 2015 às 16:38, a direita brasileira é golpista e pró-DOPS, o resto é balela contra pardos, pretos e brancos pretos de tão pobres.

Anónimo disse...

21 de agosto de 2015 às 10:48, a direita é que é sexista. está sempre vendo novidades e vantagens nas mulheres contra os homens (não há nenhuma, embora seja uma obrigação cumprir a paridade sem quotas: as mulheres são 50 por cento da humanidade e só depois de cumprido essa obrigação sem levantar paternalismos imbecis é que podemos ter um governo só de mulheres ou um Governo só de homens sem que isso se constitua como novidade). O problema de Maria de Belém não é ser mulher, assim como o ser mulher não será vantagem. O problema de Maria de Belém é ser Maria de Belém (tal como o problema de Barroso é ser Barroso).

Se alguém pensa que há especiais vantagens nas mulheres não passa de um sexista paternalista e na verdade nem sequer é de esquerda. Depois, nunca esteve em lugares paritários, onde comprovaria que a estupidez, a filhadaputice e a sensibilidade não escolhem géneros

Anónimo disse...

Ó filho, ops, ó Sr. Embaixador, nem genéricos conseguem ser. Nem serão. Se fossem estaríamos salvos.

Aquilo são cápsulas de cicuta. Da pura, da melhor qualidade.


Saudações não genéricas.

Joaquim de Freitas disse...

Se o anónimo "doente" dos americanos, das 16:17, quer compreender o mundo (se sabe ler uma língua estrangeira internacional ), leia o que diz um Americano, (não o apresento: deve conhecê-lo !) do seu próprio país. A minha aversao por este paiz tem aqui as suas bases.
Se substituir os negros americanos por negros brasileiros, a história é quase a mesma. Os capatazes dos colonos Portugueses não valiam melhor.
"Noam Chomsky :
Les États-Unis que les noirs ont toujours connus ne sont pas très jolis. Les premiers esclaves noirs ont été amenés aux colonies il y a 400 ans. Nous ne pouvons pas nous permettre d’oublier que pendant cette longue période les Afro-Américains, en dehors de quelques exceptions, n’ont eu que quelques décennies pour intégrer pleinement la société états-unienne.
Nous ne pouvons pas non plus nous permettre d’oublier que les abominables camps de travail esclavagistes du nouvel « Empire de la liberté » étaient une source de richesse essentielle pour la société américaine, avec ses privilèges, mais aussi pour l’Angleterre et le continent. La révolution industrielle avait comme ressource principale le coton, lequel était pour une bonne part produit dans les camps de travail esclavagistes des États-Unis.
Comme on le sait maintenant, ces derniers étaient très rentables. La productivité augmentait encore plus vite que dans l’industrie, grâce à la technologie du fouet et pistolet, l’efficace pratique de la torture, comme l’a montré Edward E. Baptist dans sa récente étude « The Half Has Never Been Told ». Le résultat ce n’est pas seulement la grande richesse accumulée par l’aristocratie des planteurs, mais ce sont aussi les manufactures états-uniennes et britanniques, le commerce, et les institutions du capitalisme d’État moderne.
Il est bien connu, il devrait être bien connu, que les États-Unis se sont développés en rejetant radicalement les principes d’ « économie saine » que prônaient les grands économistes à l’époque. Les derniers venus dans la course au développement connaissent bien ces principes aujourd’hui. Par contre les colonies américaines dès leur libération ont suivi le modèle de l’Angleterre : l’État intervint puissamment dans l’économie, notamment avec de hauts tarifs douaniers pour protéger l’industrie naissante, surtout le textile, puis plus tard pour l’acier, puis ensuite pour le reste de la même façon."

Anónimo disse...

21 de agosto de 2015 às 20:29

No Brasil não existe esquerda, centro ou direita, o que existe é uma roubalheira desenfreada, o Lula diz que a "elite branca" também chamada de "coxinha" é contra as obras sociais do seu governo, se diz pobre e perseguido, só para lembrar, em 2014 quando a Dilma ganhou as eleições Lula comemorou abrindo uma garrafa de vinho de R$ 30.0000,00, e seu filho de guarda de zoológico, depois que Lula passou pela presidência é um dos "pobres" mais rico do Brasil. E viva a esquerda do Lula, que se aposentou com 18 anos como inválido, por ter mandado cortar o dedinho da mão esquerda.

Anónimo disse...

Que peninha do Lula, com seu dedinho amputado, o que o incapacitou irremediavelmente para o trabalho, mas não para a pilhagem.

Tadinho, uma vítima das más condições de trabalho dadas aos operários brasileiros.

Anónimo disse...

"a direita é que é sexista. está sempre vendo novidades e vantagens nas mulheres contra os homens" - Em que mundo vive você?!

Anónimo disse...

Será que esse tal J. Freitas, o poliglota, merece resposta?
comentário de 21 de agosto de 2015 às 21:33

Joaquim de Freitas disse...

Ao anónimo das 14:29 :

Não se incomode , homem! Já todos compreenderam aqui, que o que sabe não lhe permite responder. Boa decisão!

Anónimo disse...

por acaso, acho que Freitas merece mais reposta que o 24 de agosto de 2015 às 14:29.

sempre foge dos lugares comuns e do bom-senso moderado dos que sabem e gostam de estar por cima da carne preta, um bando a quem os pobres repugnam, mas que, em compensação, se apresenta sempre bem magnânimo com golpistas quando não chegam a com eles acompanhar.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...