Habituámo-nos e já nem nos apercebemos deste tropismo vulgar que é o facto de nos permitirmos, com regularidade, dar opiniões sobre a vida política interna das colónias que já foram portuguesas. Não há partido político nacional que, de quando em vez, contra ou a favor, se não permita dar “bitaites” sobre eleições ou conflitos políticos nos Palop. Há figuras nacionais que têm o hábito de tomar partido sobre o que se passa nas “nossas” Áfricas ou em Timor-Leste, com uma naturalidade que se torna chocante, sendo legítimo perguntar por que diabo o não fazem, com a mesma regularidade, sobre as eleições no Vanuatu ou na Gâmbia. Por cá tivemos, por muito tempo, apoiantes da Unita contra do MPLA, da Renamo conta a Frelimo, e vice - versa. Já assistimos mesmo ao espetáculo triste de ver parlamentares nacionais presentes num escrutínio num desses países, ao lado de candidatos.
Aqueles territórios foram colónias portuguesas, autodeterminaram-se, tornaram-se independentes. Desde logo, de nós. Se têm problemas e, às vezes, pedem a nossa ajuda, isso não nos dá o menor direito de nos imiscuirmos na sua vida política, tomando partido entre uns e outros. Os políticos portugueses, que têm tantas e importantes questões internas que não conseguem resolver, fariam bem melhor se se dedicassem mais à sua “paróquia” e deixassem de se meter na vida política dos outros. Particularmente dos Estados que foram suas colónias. Isso tem um nome. Neocolonialismo.
17 comentários:
Sr. Embaixador,
Mas como País temos interesses a preservar.
Que falem em público é de lamentar. Que estejam atentos é de louvar.
Embaixador, de facto o que diz é verdade. Mas penso ser um problema transversal a quase todos os antigos impérios. Mas não se esqueça que também existe muitas vezes o contrário de ex colónias darem o seu palpite sobre as antigas metróples, principalmente quando elas estão em baixo.
Ninguém previu, em Portugal , a criação dum "Senhor África" como fizeram os Franceses. "Monsieur Afrique" em França chegou a ter como interlocutor o Presidente da República, somente. Todos os interesses franceses nas ex colónias estavam sob a autoridade deste "civil" que não era membro do governo mas dispunha de altos poderes e era finalmente respeitado pelas elites que os antigos mestres tinham posto no seu lugar.
Este "Senhor" continua a existir.
Trata-se de neo-colonialismo? Claro.
É uma pena que não tenham primeiro dado a opinião e depois combatido no Cuito Canavale ou em Medina do Boé! Ninguém de juízo liga a palradores,veja-se a opinião dos esclarecidos sobre o afilhado Marcelo ou sobre o mínimo Mendes!
com exceção de Angola, penso que sim.
um abraço,
josé ricardo
De facto para quem foi sempre "dependente" daquilo , desde o futebol até à política, é muita petulância emitirmos opinião.
Quem nos dera termos políticos ao nível dos caboverdeanos.
Diziamos os retornados no 25/4, que os as colónias mais complicadas para se governarem iam ser a Guiné e Portugal.
Mas isso eram conversas entre nós, porque não podiamos abrir o bico em público.
Só não adivinhavamos que os africanos um dia entupiriam o mediterrâneo e o Túnel da Mancha.
O sr. está, MESMO, a comparar a nossa ligação com a Guiné (etc) com a Gâmbia ou o Vanuatu?! O sr. acredita, MESMO, no que escreveu?!
Ó Catinga: só porque foi colónia portuguesa, temos "direito" a mandar bocas sobre se é o PM ou o PR da GB que tem razão no conflito que hoje os divide? Por que luas?
Por vezes concordo em absoluto com o que escreve. Este é um caso. Tem sido raro ultimamente!
Não é uma questão de "direito" mas sim de "naturalidade". É natural que alguém solte uma "boca" sobre algo que nos é próximo, que está na nossa esfera de interesses e influência, que mexe connosco. Terras onde temos negócios, imigrantes, que viram nascer muitos dos nossos compatriotas, que falam a nossa língua, que exportam cronicamente gente para cá, pelas quais nos batemos e onde tivemos uma presença de séculos não são quaisquer terras. Portanto, a sua ideia pode ser defendida mas não recorrendo a comparações com a Gâmbia e o Vanuatu. Fazê-lo vai além da crítica e - no fundo -, é uma menorização da nossa relação com os PALOP (maiúsculas, já agora - é uma sigla).
A sua comparação é como dizer que um pai tem tanto direito a expressar-se sobre as escolhas dos seus filhos como sobre as dos filhos do padeiro. Isto, obviamente, não faz qualquer sentido, por mais que se aceite e defenda que os filhos, uma vez saídos de casa, devem de ver a sua independência respeitada.
Sr. Embaixador por esses termos será que não nos remete para a tal situação do Egas Moniz sempre "com a corda ao pescoço" ?
algumas palavras por ventura mal colocadas, "merecem " esse termo de neocolonialismo?
e o que por aí vai nos dias de hoje: "invasão de países vizinhos", "raptos e sequestros", "envio de tropas", "defesa de interesses vitais", "grupos radicais", "ataques a alvos estratégicos", "apoio a organizações terroristas", etc. etc..
não me parece ser um grande problema, há 1 ou outra figura que ocasionalmente toma partido por este ou aquele, joão soares, p ex, apoiando a unita e denunciando sempre que pode o governo mpla (a figura que poderá estarimplicita no post?) mas a regra é não se intrometerem. vamos a ver qual o comportamento agora com a gb.
Por outro lado houve frequentemente intromissão de governantes, politicos e figuras partidárias ao se referiram à grecia e syrisa.
Senhor Retornado:
A «pretalhada» aprendeu bem com o mestre.
~Depois da invasão de África pelos europeus, temos a invasão da Europa pelos africanos.
Lá se fazem, cá se pagam.
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P. S. É evidente que a desestruturação de sociedades num grau de desenvolvimento e de organização social bastante mais primitivo do que na Europa daquela época, e traçar fronteiras a régua e esquadro, tinha que trazer consequências.
Tal como a desestruturação recente do Iraque (pela besta do Bush) e, depois, da Líbia e da Síria (por outras bestas com visão estratégica semelhante) nada têm que ver com a recente vaga de refugiados do Mediterrâneo.
Esqueci-me de dizer que o Sr. não queria dizer neocolonialismo. Queria dizer idiotas! Pessoas que não sabem tratar da sua casa mas "sabem de cátedra" como se deve tratar a dos outros. Tal é assim a minha concordância absoluta.
isso não nos dá o menor direito de nos imiscuirmos na sua vida política, tomando partido entre uns e outros
Concordando eu totalmente consigo, faço notar que isso é o que os países europeus repetidamente fazem em relação a outros. Tal como, por exemplo, a Sìria ou a Líbia.
É um péssimo mas arreigado costume que os países europeus têm, o de se imiscuírem nas questões políticas internas de outros países.
Um texto á "Américo Tomaz" do século XXI, coitadinhos dos africanos actuais...
"Não há partido político nacional" é uma afirmação absolutamente absoluta. E falsa, claro.
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