terça-feira, agosto 11, 2015

Áfricas

O estabelecimento de um ambiente de plena normalidade diplomática com os países saídos da colonização portuguesa, em especial depois das longas guerras mantidas com três dentre eles, representa um dos aspetos mais positivos do nosso quadro de relações externas em democracia. O posterior estabelecimento da CPLP veio consagrar a plena maturidade desse entendimento, que tem a língua portuguesa como cimento, permitindo desenhar, ao longo da última década, um modelo de cooperação que, não obstante as suas limitações, fez já um caminho interessante e promissor.

Não tem sentido tentar esconder, por detrás de um qualquer discurso congratulatório, a subsistência de naturais diferenças, na abordagem de certas temáticas, nomeadamente as que se prendem com questões de democracia, de Direitos humanos e do funcionamento do Estado de direito. Se algum exemplo mais concreto fosse necessário, aí estaria o recente caso do acesso da Guiné-Equatorial à CPLP como prova de que nem sempre as perspetivas coincidem. Mas isso faz parte da natureza de Estados que nascem e evoluem em contextos diferentes, com histórias e processos internos muito díspares. A sabedoria de uma diplomacia madura reside, precisamente, na capacidade de sublinhar os fatores de identidade e de potencial aproximação, não deixando que a magnificação das diferenças prejudique aquilo que é essencial.

Ao longo das quatro décadas que passaram desde a independência das colónias africanas, não raramente o, também variado, olhar de Lisboa divergiu do dos governos desses novos Estados, quer na avaliação dos esforços para a sua reconciliação interna, quer no modo como alguns valores comummente aceites pela comunidade internacional, em matéria político-institucional, neles mereceram observância. Curiosamente, e em tempo mais recente, vimos também emergirem, da parte desses Estados, críticas a determinados aspetos do sistema institucional português.

Às vezes, o tom de algumas dessas apreciações ultrapassa o razoável, roça a ingerência, pode ser lido como desrespeitoso das ordens jurídico-políticas. A linha é muito fina entre aquilo que pode configurar uma legítima observação sobre certas disfunções dos sistemas e um tom crítico que pressupõe a não aceitação dos fundamento da ordem de valores em que eles se apoiam.

Compete aos agentes políticos manter a serenidade e ver um pouco para além da espuma polémica de alguns dias, de algumas vozes mais excitadas e de alguns títulos de jornais. Cabe às diplomacias, sob a sua orientação, preservar e desenvolver o tecido comum de relações e olhar para ele na perspectiva da História e dos interesses comuns de que se alimenta.

(artigo que hoje publico no "Acção Socialista")

9 comentários:

Jaime Santos disse...

O Sr. Embaixador refere-se provavelmente às 'diatribes' com que o 'J́ornal de Angola' periodicamente 'mima' Portugal. Que o faça com o beneplácito do Governo de Luanda, mostra apenas quão consciente está esse poder da dependência do nosso País relativamente ao Capital Angolano e quanto Portugal se dispõe a ser subserviente em relação a esse mesmo Capital. Quem não se dá ao respeito, não merece ser respeitado, pois claro.

Anónimo disse...

Caro Chico

Eu que vivi em África, mais precisamente e, Angola, durante oito anos, entendo bem o que escreves... Ainda por cima no meu "Portugal Socialista" de que fui chefe da Redacção e Director-adjunto do Manuel Alegre, e colaborador na clandestinidade do Manuel Tito de Morais. Obrigado pelo que escreveste

Abç do Leãozão

Anónimo disse...

"em especial depois das longas guerras mantidas com três dentre eles.."

foi uma tragédia, os jovens soldados portugueses não queriam ir para lá, a minha prima rezou e chorou durante, seriam 2 anos, pelo regresso do seu único filho, que felizmente voltou... um outro familiar meu em Moçambique dava graças a Deus por nunca ter encontrado um combate onde se isso acontecesse seria obrigado a participar, durante os patrulhamentos...tragédia imensa para os "africanos" das colónias que também queriam viver em paz e para os quais ainda seria destinada uma sangrenta guerra civil de cerca de 20 anos depois da saída dos portugueses

que Deus nos dê paz a todos

Anónimo disse...

Este "Antunes Ferreira" está sempre a puxar o lustro aos galões. Que coisa!

Retornado disse...

Aquilo que os governantes dos palopes mais detestam, vindo de Lisboa, é ouvir constantemente insinuações, que devem a sua independência aos anti-salazaristas que nunca viveram nas colónias.

Que são os que mais falam.

E a outra coisa que mais detestam, é que nunca ouvem uma palavra de agradecimento dirigida a eles, pelos anti-salazaristas, que foi graças à luta dos palopes que se deu o 25 de Abril.

Anónimo disse...

Embaixador, são efetivamente relações muitas vezes complexas. Claro que se formos depois ver situação a situação acabaremos por chegar á conclusão de que essa complexidade é bem mais saliente na questão de Angola.Possivelmente porque ela foi sempre a principal ex provincia ultramarina portuguesa,era lá que viviam mais portugueses(europeus)e porque efetivamente é a mais rica em matéria de recursos naturais. Nunca estive em África, tive familiares meus que lá viveram e outros que foram para lá combater.Vivo e trabalho no Brasil,recordo perfeitamente quando os ditos retornados vieram para Portugal, eu tinha nessa época uns 6 ou 7 anos, ficaram sempre feridas de um lado e outro. Mas quer queiramos quer não de um lado existe sempre um antigo colonizador e do outro um antigo colonizado, criando sempre uma espécie de rivalidade. O senhor que foi Embaixador no Brasil, sabe perfeitamente que embora o Brasil se tenha tornado independente de Portugal há quase 193 anos, ainda hoje está entranhado em muitos brasileiros que os portugueses vieram roubar o ouro. Aquilo que eu sempre tento explicar aos brasileiros é que tem que ver as coisas á luz do Direito Internacional da época. Para todos os efeitos o Brasil foi durante 322 anos território portugu~es, como tal Portugal limitou-se a transportar mercadorias e bens entre as várias partes dos seus territórios. Por outro lado chegamos ao ridiculo de termos ás vezes até descendentes de emigrantes Italianos, Alem~es e Japoneses a dizerem que Portugal roubou o Brasil, pergunto o que é que nós roubamos a esses descendentes de povos que vieram para o Brasil já este tinha feito a sua independência? quanto aos descendentes de portugueses que aqui nasceram, já lhes disse muitas vezes que ao enveredarem também por essa ignorância de chamarem ladrão a Portugal, não estão mais do que a chamar ladrões aos seus antepassados que para cá vieram.Eu já estive m muitos Países, mas a minha génese é sempre a portuguesa, embora critique profundamente a cambada de politiqueiros que temos tido, isso sim ladrões e ignorantes da pior espécie com raras excepções.

Portugalredecouvertes disse...


Li o comentário anterior e também me faz confusão esse mito de que Portugal roubou o ouro do Brasil sendo que se tratava de uma espécie de imposto que a coroa recebia para a administração do reino, como existem impostos hoje para a policia, as escolas, a gestão do estado, etc.

na altura era preciso também dinheiro para o exercito, para os mosteiros que providenciavam o ensino e a assistência aos doentes, para os artesãos e artistas que eram enviados para o Brasil, para os arquitetos que construíam as cidades, para a construção de barcos, etc.

se vemos as igrejas que foram construídas no Brasil, são em muito maior numero e mais luxuosas do que os monumentos feitos por cá (só em São Salvador serão umas 300), a maior parte do ouro ficou no Brasil de certeza, senão vejam alguns exemplos:
obrigada

https://www.youtube.com/watch?v=YJ4sqB6QFuU
Igreja São Francisco, Salvador, Bahia, Brasil

https://www.youtube.com/watch?v=0PjgEEGZX8E
Basílica do Pilar de Ouro Preto

https://www.youtube.com/watch?v=aSVgVcafAno
Mosteiro de São Bento de Olinda –

https://www.youtube.com/watch?v=ZIWaIYys0mo
Barroco: descoberta do ouro fez florescer arte com características próprias

https://www.youtube.com/watch?v=_xDb-Ih_nfc
- Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro

https://www.youtube.com/watch?v=HTHyXYqbGHM
Igreja do Carmo-Antiga Catedral e Igreja Matriz de STA. Rita no Rio de Janeiro

https://www.youtube.com/watch?v=9j0x6ujpjpk
Catedral de Sao Joao del Rei -Minas – Brasil

https://www.youtube.com/watch?v=Bhv3Xx1g63s
Igrejas de Salvador - Catedral Basílica Primacial São Salvador

estarei errada?

Retornado disse...

Ó anónimo brasileiro, será toda a vida um gozo do caraças ter sido colonizador à maneira portuga, principalmente aí no Brasil.

Sabemos que o maior desgosto de muitos brasileiros é uns não terem sido descobertos por ingleses, outros por alemães outros por italianos e ainda outros por americanos(USA).

Já haverá chineses e japoneses também desgostosos.

E hoje, nem da escravatura africana nos devemos envergonhar, pois como se verifica hoje, os africanos aceitam qualquer boleia (carona) mal veem um barco, e ir para o Rio e Bahia, sempre era mais agradável do que para a Grécia e Lampedusa.

O Brasil não foi uma colónia, foi uma orgia.

Não só Brasil, mas toda a América Latina.

Se os Apaches tivessem chegado ao Brasil antes de Pedro Alvares Cabral, como alguns brasileiros lamentam, nem o Cristo nem o Corcovado existiam.

Mas de facto a nossa politicagem portuga, complicam tudo até um simples caso de dentistas brasileiros ou brasileiras de bragança,

Anónimo disse...

Ó RETORNADO, NÃO ME CHAME DE BRASILEIRO, SENÃO TENHO QUE O CHAMAR DE OUTRA COISA. O FACTO DE ESTAR AQUI PRESENTEMENTE A TRABALHAR NÃO FAZ DE MIM MENOS PORTUGU~ES. ao contrário de muitos não me envergonho de ser de onde sou.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...