Este post é só para quem gosta muito de futebol. E, principalmente, para quem já o acompanha há muito.
É que o início deste Mundial 2010 traz-me, inevitavelmente, a memória da primeira vez em que Portugal chegou a uma fase final. Estávamos em 1966. Não ganhámos - nunca ganhámos! - mas perpassou então pelo país um sonho de vitória, desfeito nas célebres lágrimas de Eusébio, gravadas no preto e branco de uma foto de Nuno Ferrari que correu mundo. Era selecionador Manuel da Luz Afonso e treinador Otto Glória - de há muito que as duas funções passaram a ser exercidas, em toda a parte, por uma mesma pessoa.
Vale a pena recordar estes magníficos "magriços" (nome inventado por "A Bola"). A fotografia é da equipa que disputou e ganhou o segundo jogo, contra a Bulgária (3-0).
De pé, temos a barba serena e alcantarense de Germano, que só assegurou o centro da nossa defesa neste jogo, lugar que seria ocupado pelo sportinguista Alexandre Baptista. Depois, Jaime Graça, então do Vitória de Setúbal, que o Benfica recrutaria em breve e que garantiu sempre a direita do meio-campo, embora com um posicionamento bastante livre nesse setor. A seguir está Festas, um lateral direito do FC do Porto, que viria a dividir o lugar com o sportinguista Morais, há pouco falecido, como aqui se notou. Segue-se o insubstituível Hilário, um permanente "gigante" leão na esquerda da defesa. Depois, o subtil Vicente, do Belenenses, irmão do mítico Matateu, que também garantia o centro da defesa, descaído para a esquerda, que viria a ser substituído, por lesão, nos dois últimos jogos, por José Carlos, também do Sporting, na então chamada posição de "quarto defesa" (para sublinhar a função de apoio ao meio-campo). Finalmente, o guarda-redes do Belenenses, José Pereira, que fez a maioria dos jogos, se descontarmos o primeiro, contra a Hungria, em que Carvalho, do Sporting, esteve na baliza.
À frente, claro, a mítica e indiscutível linha avançada do Benfica: José Augusto, Torres, Eusébio, Coluna e Simões. Como Portugal jogava em 4x2x4, Jaime Graça (na direita) e Coluna (na esquerda) garantiam o "2" do meio campo, para onde Eusébio às vezes recuava, setor que, igualmente, era também apoiado pela subidas de Hilário e/ou Morais (menos por Festas, que sempre jogou mais recuado), o que criava episódicos 4x3x3. Em permanência, apenas Torres estava na zona frontal de área, com os extremos "colados à linha", Simões e José Augusto, embora este sempre um pouco mais "livre" e incursivo no meio campo.
De quantos foram ao Mundial de 1966, não jogaram então o guarda-redes do Porto, Américo, três atacantes do Sporting - o extremo-esquerdo Peres e os avançados-centro Figueiredo (o "Altafini de Cernache") e Lourenço, a quem vi marcar numa tarde, um ano antes, quatro golos ao Benfica, na Luz -, o defesa esquerdo benfiquista Cruz (que tive o gosto de conhecer nos Estados Unidos, em 2002) e os avançados Duarte, do Leixões, e Custódio Pinto, do FC do Porto. Olhando em retrospetiva, as opções de Manuel da Luz Afonso, quanto a deixar estes jogadores no "banco", foram corretas.
Deixo os resultados: começámos por ganhar à Hungria 3-1; depois, como referido. ganhámos 3-0 à Bulgária; de seguida, 3-1 ao Brasil de Pelé. Nos quartos de final, ganhámos à Coreia do Norte por 5-3, depois de estarmos a perder por 3-0. Nas meias finais, perdemos 2-1 com a Inglaterra e, finalmente, na disputa do (inexistente) 3º lugar, derrotámos a Rússia por 2-1. Com quatro vitórias sobre "países comunistas", não admira que a governação salazarista tivesse condecorado tão generosamente os "magriços"...
Foi um belo Mundial!
É que o início deste Mundial 2010 traz-me, inevitavelmente, a memória da primeira vez em que Portugal chegou a uma fase final. Estávamos em 1966. Não ganhámos - nunca ganhámos! - mas perpassou então pelo país um sonho de vitória, desfeito nas célebres lágrimas de Eusébio, gravadas no preto e branco de uma foto de Nuno Ferrari que correu mundo. Era selecionador Manuel da Luz Afonso e treinador Otto Glória - de há muito que as duas funções passaram a ser exercidas, em toda a parte, por uma mesma pessoa.
Vale a pena recordar estes magníficos "magriços" (nome inventado por "A Bola"). A fotografia é da equipa que disputou e ganhou o segundo jogo, contra a Bulgária (3-0).
De pé, temos a barba serena e alcantarense de Germano, que só assegurou o centro da nossa defesa neste jogo, lugar que seria ocupado pelo sportinguista Alexandre Baptista. Depois, Jaime Graça, então do Vitória de Setúbal, que o Benfica recrutaria em breve e que garantiu sempre a direita do meio-campo, embora com um posicionamento bastante livre nesse setor. A seguir está Festas, um lateral direito do FC do Porto, que viria a dividir o lugar com o sportinguista Morais, há pouco falecido, como aqui se notou. Segue-se o insubstituível Hilário, um permanente "gigante" leão na esquerda da defesa. Depois, o subtil Vicente, do Belenenses, irmão do mítico Matateu, que também garantia o centro da defesa, descaído para a esquerda, que viria a ser substituído, por lesão, nos dois últimos jogos, por José Carlos, também do Sporting, na então chamada posição de "quarto defesa" (para sublinhar a função de apoio ao meio-campo). Finalmente, o guarda-redes do Belenenses, José Pereira, que fez a maioria dos jogos, se descontarmos o primeiro, contra a Hungria, em que Carvalho, do Sporting, esteve na baliza.
À frente, claro, a mítica e indiscutível linha avançada do Benfica: José Augusto, Torres, Eusébio, Coluna e Simões. Como Portugal jogava em 4x2x4, Jaime Graça (na direita) e Coluna (na esquerda) garantiam o "2" do meio campo, para onde Eusébio às vezes recuava, setor que, igualmente, era também apoiado pela subidas de Hilário e/ou Morais (menos por Festas, que sempre jogou mais recuado), o que criava episódicos 4x3x3. Em permanência, apenas Torres estava na zona frontal de área, com os extremos "colados à linha", Simões e José Augusto, embora este sempre um pouco mais "livre" e incursivo no meio campo.
De quantos foram ao Mundial de 1966, não jogaram então o guarda-redes do Porto, Américo, três atacantes do Sporting - o extremo-esquerdo Peres e os avançados-centro Figueiredo (o "Altafini de Cernache") e Lourenço, a quem vi marcar numa tarde, um ano antes, quatro golos ao Benfica, na Luz -, o defesa esquerdo benfiquista Cruz (que tive o gosto de conhecer nos Estados Unidos, em 2002) e os avançados Duarte, do Leixões, e Custódio Pinto, do FC do Porto. Olhando em retrospetiva, as opções de Manuel da Luz Afonso, quanto a deixar estes jogadores no "banco", foram corretas.
Deixo os resultados: começámos por ganhar à Hungria 3-1; depois, como referido. ganhámos 3-0 à Bulgária; de seguida, 3-1 ao Brasil de Pelé. Nos quartos de final, ganhámos à Coreia do Norte por 5-3, depois de estarmos a perder por 3-0. Nas meias finais, perdemos 2-1 com a Inglaterra e, finalmente, na disputa do (inexistente) 3º lugar, derrotámos a Rússia por 2-1. Com quatro vitórias sobre "países comunistas", não admira que a governação salazarista tivesse condecorado tão generosamente os "magriços"...
Foi um belo Mundial!
8 comentários:
As tuas recordações esmagam-me!
Só me lembo de ver a extraordinária recuperação de Portugal frente à Coreia do Norte (de 3-0 para 5-3), tendo visto com os meus olhos o Prof. Miguel Galvão Telles atirar-se ao chão da sala, a espernear, ao quinto golo!
Era 1966... mas eu nunca percebi muito de futebol. Esta área é mais com o meu filho. Como diz um grande camarada nosso do Sporting sobre o meu filho Miguel : "este é como nós!" (ao contrário do pai, que é tontaço...)
Este post é só...
Ah!...
Quem nos impede.
Que precisão... O Sr. seria o verdadeiro comentador de serviço, permita-me... como observador externo profundamente envolvido e deslumbrado.
Ainda bem claro...
Temos alguma opção em considerar sequer a possibilidade de Substituir nas nossas vidas o futebol por...Negar a evidência... É no mínimo ...
Pelo menos quem decide a vitória são os jogadores o árbitro e a bola embora os meandros dos poderes instituídos também se manifestam... Mas pelo menos ainda podemos competir...
Por exemplo no festival da Eurovisão já sabemos que mesmo que tenhamos toda a matéria prima... Não temos Dias.
Isabel Seixas
Futebol de boa memória, em que o mais importante se passava no campo, sem coreografias de claques tatuadas de raiva, enjauladas em quadrados de segurança policial a caminho da "guerra".
Lembro-me particularmente do Portugal-Coreia a que assisti na Gomes, do lado da cervejaria, cheia que nem um ovo.
Ao progressivo silenciar dos ânimos, foi-se seguindo uma evolução do entusiasmo, da cerveja e dos tremoços voadores, proporcionais aos golos que Eusébio ia marcando.
44 anos. Era o Desporto-Rei
Que mais fica assim focado com esta nitidez na nossa memória?
Talvez os resultados deste campeonato do Mundo, quem sabe? Ou não.
Um abraço
Senhor Embaixador
Ainda estou especada a olhar o seu post.
Eu que tanto gosto do Sporting - sabe-se lá porquê, a fulminância deste amor - rendo-me à sua memória. É que só me lembrava de parte delas. Mas agora que as avivou elas vieram em catadupa.
Grandes magriços. Bem nossos.
Lindo post!
Não há memória é do corrente coro zângão...
Meu Deus... é uma agressão à acuidade auditiva...
Sinceramente prefiro a espontaneidade das expressões e gritos de júbilo...
Isabel Seixas
Não sou fã de futebol, mas confesso que, desde 1988, ano em que a França ganhou, pela primeira vez, o título de campeão do mundo, sigo vagamente, com um certo patriotismo, a seleção portuguêsa nos campeonatos europeus e mundiais. Normalmente, teria “saltado” este post e passado ao seguinte, mas o “1966” despertou-me imediatamente a memória dessa célebre final. Estava em casa quando, de repente, ouvi berros, assobios, grítos lancinantes de entusiasmo e de decepção que vinham do rés-do-chão. Desci a correr os dois andares que nos separavam e quando cheguei à sala, vi o meu tio Fernando, o Raul Solnado e o Jaime Mourão-Ferreira, debruçados sobre a televisão, aos saltos, eufóricos a “torcer” por Portugal. Nos escassos minutos que fiquei a olhar, espantada, para aquele espectáculo, ouvi, pela primeira vez, “o forte lexico luso” muito abundante nestas ocasiões. O desânimo foi proporcional à expectativa de uma grande vitória...
Foi um belo Mundial, lá isso foi.
Uma equipa excelente e um fora de série : Eusébio.
Cumprimentos
Ó Manuel Serra adorei essa das "tias comentaristas"...
No meu caso é mais para "avó comentarista". Mas lá se ia à vida o comentário "classista"!
O tempo das tias, com a voragem da crise - desculpe lá, Senhor Embaixador, o pessimismo - foi-se e já não volta!
Mas adorei a ternura do comentarista. :))
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