O ministério francês dos Negócios Estrangeiros apresentou uma queixa judicial para tentar apurar a origem de fugas, para o semanário satírico "Canard Enchaîné", de algumas comunicações oficiais oriundas dos postos diplomáticos franceses espalhados pelo mundo. É que, nos últimos tempos, um seu funcionário pouco escrupuloso estará a pôr em causa a segurança do Estado, à luz de um peculiar conceito de transparência da coisa pública.
Esta é uma questão que, num tempo ou noutro, tem afectado quase todas as carreiras diplomáticas, embora normalmente com maior incidência em momentos de forte tensão política, interna ou internacional. Recordo-me do escândalo provocado pela reprodução de uma célebre comunicação do meu querido amigo "Chencho" Arias, antigo embaixador espanhol na ONU, que surgiu na imprensa de todo o mundo, ao tempo da invasão americana do Iraque, em 2003.
Trata-se de um problema que é sempre de extrema delicadeza, porque a falta de confiança no secretismo de uma determinada rede diplomática conduz ao natural empobrecimento da informação por ela produzida, pelo facto de provocar uma compreensível retracção por parte de quem transmite por essa via. Os diplomatas não são espiões, trabalham com a chamada "informação aberta", colhida através de meios totalmente legais, mas a sua produção escrita inclui valorações opinativas que, porque destinadas em exclusivo aos seus governos, não agradariam necessariamente a outras entidades que a elas pudessem ter acesso.
Portugal não escapou, no passado, a este tipo de questões mas, verdade seja, de há muito que me não lembro de ver reproduzida correspondência diplomática portuguesa na imprensa - ou nos blogues, o que seria o mesmo. O que talvez nos deva levar a concluir que o sentido de Estado dos nossos funcionários - diplomatas ou outros que têm acesso a esse tipo de comunicações - tem vindo a prevalecer sobre qualquer tendência para a indiscrição.
Esta é uma questão que, num tempo ou noutro, tem afectado quase todas as carreiras diplomáticas, embora normalmente com maior incidência em momentos de forte tensão política, interna ou internacional. Recordo-me do escândalo provocado pela reprodução de uma célebre comunicação do meu querido amigo "Chencho" Arias, antigo embaixador espanhol na ONU, que surgiu na imprensa de todo o mundo, ao tempo da invasão americana do Iraque, em 2003.
Trata-se de um problema que é sempre de extrema delicadeza, porque a falta de confiança no secretismo de uma determinada rede diplomática conduz ao natural empobrecimento da informação por ela produzida, pelo facto de provocar uma compreensível retracção por parte de quem transmite por essa via. Os diplomatas não são espiões, trabalham com a chamada "informação aberta", colhida através de meios totalmente legais, mas a sua produção escrita inclui valorações opinativas que, porque destinadas em exclusivo aos seus governos, não agradariam necessariamente a outras entidades que a elas pudessem ter acesso.
Portugal não escapou, no passado, a este tipo de questões mas, verdade seja, de há muito que me não lembro de ver reproduzida correspondência diplomática portuguesa na imprensa - ou nos blogues, o que seria o mesmo. O que talvez nos deva levar a concluir que o sentido de Estado dos nossos funcionários - diplomatas ou outros que têm acesso a esse tipo de comunicações - tem vindo a prevalecer sobre qualquer tendência para a indiscrição.
4 comentários:
Senhor Embaixador, antes as "fugas" tinham mais condimento. Sentimental, claro. Veja-se o velhinho "caso Profumo". Agora, as estórias têm menos enredo amoroso!Nem para uma sérizita dão...
Muitos diplomatas, alguns deles portugueses,como o senhor Embaixador sugere no último parágrafo, elevaram a fuga ao estatuto de obra prima. São émulos de velho Johann Sebastian, virtuoses da "Die Kunst der Fuge" diplomática, pequenos Bach da manipulação.
Em música, a fuga é um tipo de obra assente no contraponto, nasce de um tema que vai sendo repetido por outras vozes que o retomam sucessivamente em tonalidades diferentes, terminando habitualmente, com uma polifonia das diversas vozes.
Não é, pois, muito diferente o caso da fuga diplomática: o "artista" sussurra à imprensa um tema aliciante e fácil de desenvover; o primeiro jornal modula a(s) frase(s) "fugadas", segue-se um ou mais comentadores avulsos que "variam" o tema venenoso, para tudo acabar, se a coisa resulta, numa polifonia de posições públicas que, nesse caso, são a apoteose do diplomata.
No seu íntimo, tenho a certeza que ouve pelo menos uma vozinha que grita: "encore! encore!"
Mas a fuga, se partir (anonimamente, claro) do próprio poder, pode até ser uma poçãozinha venenosa de grande efeito.
Não será isto verdadeiro?
E como na musica a fuga é sempre orquestrada.
Creio que tudo na vida tem que ter "fugas". Até nos, como seres humanos as temos :-)
As "fugas" sao rachas que servem de escape a tudo, incluindo a diminuir a pressao. Inevitaveis portanto, tanto do ponto de vista fisico, como do ponto de vista logico.
E nao serao até algumas dessas "fugas" que contribuem, queiramos ou nao, a relativamente manter em vida o que chamamos "a democracia" ? Nao tenho uma verdadeira resposta a esta questao, mas tenho uma ideia sobre o assunto.
Concordo com a ultima frase do comentario de Joao Antelmo, porque todos sabemos, com provas ao alcance, que "as fugas" servem por vezes de arma ao proprio poder, que veste uma "fuga" de roupa de "fuga", quando se trata de uma simples estrategia.
E assim corre a vida, com as suas fugas, reais ou inventadas...
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