sábado, abril 04, 2009

Márcio Moreira Alves (1936-2009)

Não era um homem muito conhecido fora do Brasil, salvo para aqueles que com ele privaram nos seus tempos de exílio. Mas Márcio Moreira Alves, que ontem faleceu, foi uma personalidade de grande coragem que, em plena Câmara de Deputados, em 2 de Setembro de 1968 (na foto), ousou desafiar a ditadura militar, apelando, entre outras coisas, a que os pais brasileiros não deixassem casar as suas filhas com membros das forças armadas brasileiras. Esse seu discurso de denúncia da situação política é hoje uma peça da História do Brasil.

O regime militar não lhe perdoou e o seu caso acabou por ser a gota de água que justificou a introdução do Acto Institucional nº 5, que marcou o início de um surto repressivo sem precedentes no país.

Moreira Alves era jornalista de profissão e fez política pelo Movimento Democrático Brasileiro. Esteve exilado em vários países, entre os quais a França, onde se doutorou em Ciências Políticas. aqui em Paris.

Mais tarde, residiu em Portugal, onde o conheci, quando dava aulas no Instituto Superior de Economia de Lisboa. Vim a procurá-lo e a encontrá-lo, já com a saúde muito abalada, no Brasil.

sexta-feira, abril 03, 2009

"Muda de Vida"

Os "Humanos" foram (são?) um grupo que juntou figuras como Manuela Azevedo (dos Clã), Camané e David Fonseca, interpretando temas de um dos mais originais criadores portugueses de sempre, António Variações.

Vale a pena começar o fim-de-semana a ouvir "Muda de Vida".

Uma frase

"Gosto tanto de Portugal que chego a gostar dos nossos defeitos".

Helena Sacadura Cabral (num comentário neste blogue)

A excepção e a regra


Em 1966, o presidente De Gaulle cansou-se do que entendia ser uma insuportável tutela americana sobre a segurança e defesa europeias. A saída da estrutura militar integrada da NATO foi o modo como a França entendeu poder garantir caminho livre para a criação da sua “force de frappe” nuclear e, de certo modo, iniciar o que viria a ser a sua política de “excepção” no quadro ocidental.


A França, contudo, não saiu da Aliança Atlântica, não se dessolidarizou nunca dos seus objectivos, mas conseguiu criar, numa gestão de colaboração cujo casuísmo identificou a sua diferença, uma independência reforçada, a qual, em especial durante a Guerra Fria, não deixou de ter consequências interessantes no seu posicionamento à escala mundial.


Entretanto, o muro de Berlim caiu, a Alemanha reergueu-se, o terrorismo passou a global, a Europa alargou-se até às portas de Moscovo e os EUA, depois de mais um ciclo de unilateralismo, redefinem o modo de proteger os seus interesses no mundo. É neste contexto que a NATO discute o seu novo conceito estratégico, ao qual não será indiferente a jurisprudência de segurança resultante da sua acção “out of area”, na qual a França amplamente participa.


Para a França, ficar fora da NATO já só significava manter um símbolo datado, face ao interesse maior de preencher em pleno um lugar de decisão. Para a NATO, a França representa a possibilidade de ter no seu seio uma voz aculturada a um registo de alguma singularidade estratégica. Na perspectiva de Portugal, o pleno regresso da França à NATO pacifica a dimensão transatlântica, que é nosso interesse reactualizar construtivamente, coloca o peso francês no comando em território português e, de certo modo, reequilibra uma relação de forças intra-europeia que deve servir de base à densificação de uma dimensão de segurança e defesa à escala da UE, na qual estamos interessados.


Por isso, o fim da “excepção” francesa na NATO, com a retoma da regra da sua participação plena, é, para Portugal, uma excelente notícia.


(Artigo de Francisco Seixas da Costa publicado na edição de hoje do "Diário Económico)

quinta-feira, abril 02, 2009

João Moniz

Vive entre Portugal e Paris, onde tem um atelier na zona de Montmartre.

Saiba mais sobre este "pintor do branco ou do quase branco" aqui.

Em Setembro, a meu convite, vai expor na Embaixada.

Paris Match

Fez 60 anos o Paris Match.

Vale a pena lembrar esta sua capa, de 1961, com a reportagem sobre o assalto feito ao paquete Santa Maria pelo grupo do capitão Henrique Galvão.

Há dias, Geneviève Chauvel, escritora e jornalista do Paris Match, contava-me como, em inícios dos anos 70 do século passado, acompanhou Spínola pelas matas da Guiné, como antes havia visitado o Norte de Angola com as tropas portuguesas. E de como conheceu Otelo Saraiva de Carvalho, depois da Revolução de Abril.

O Paris Match, publicação de grande expansão, que sempre teve a fotografia como imagem de marca, esteve presente na cobertura de muitos dos grandes acontecimentos de Portugal contemporâneo.

Tell Barroso

O presidente da Comissão Europeia colocou à disposição dos cidadãos um site para o qual os cidadãos europeus podem escrever-lhe para dar sugestões sobre a Europa.

O site tem versões em inglês, francês, alemão, espanhol e polaco.

quarta-feira, abril 01, 2009

Nós e o G20

Muitos se interrogam sobre o verdadeiro significado da reunião dos G20, que hoje se inicia em Londres.

Este fórum de concertação, ao qual estão presentes bem mais do que 20 participantes, existe já há uma década, mas pode dizer-se que é talvez a primeira vez em que a sua convocação vem acompanhada por uma atenção global como a que actualmente lhe é dirigida. A crise, e a incapacidade de algumas grandes economias de conseguirem meios de combate à mesma sem a ajuda de outros parceiros fora dos G8, levou estes a aceitarem utilizar este mecanismo para uma cooptação de sócios de oportunidade, numa lógica que originariamente estava principalmente focalizada nas negociações do comércio internacional, mas que, no momento, se pretende alargar a outras dimensões económico-financeiras à escala global.

Na realidade, o G20 é hoje um grupo relativamente inorgânico que reune os antigos G8, acompanhados pelos grandes países emergentes e algumas economias mais desenvolvidas do chamado "Norte". A sua última convocatória a este nível teve lugar em Novembro de 2008 e, entre outras tomadas de posição, saldou-se por um compromisso solene de todos os seus membros de cumprirem uma moratória em matéria de medidas de natureza proteccionista. O resultado está à vista: 18 desses países não cumpriram essa promessa, de acordo com o Banco Mundial. Esperemos melhor sucesso desta vez.

Para um país como Portugal, a racionalidade subjacente ao G20 só é aceitável numa dimensão conjuntural ou de produção de efeitos que se projectem, em primeiro lugar sobre o próprio grupo, podendo, se assim suceder, servir de útil "benchmark" num quadro mais global. Não tendo nós problemas de maior em aceitar grande parte das ideias para as quais se pretende obter um novo compromisso, também nos não revemos, naturalmente, na possibilidade de este grupo poder vir a firmar-se como uma espécie de novo "directório" político-económico do mundo.

Sem pôr em causa a legitimidade de reuniões desta natureza, em especial se delas puderem resultar acordos firmes em matéria de "governança" entre os seus pares, entre os quais se encontram alguns dos fautores maiores da onda de desregulação que afecta a economia global, o primeiro-ministro português teve já ocasião de adiantar a nossa visão sobre a necessidade de alargar a sua representatividade futura, em especial nelas fazendo projectar estruturas de natureza regional. Caso tal não suceda, importará lembrar que existem instituições de natureza multilateral onde estas questões podem e devem ser discutidas e acordadas, estruturas essas dotadas de regras de decisão próprias e mecanismos de representação e controlo aprovados e ratificados por todos os Estados. Coisa que o G20 estará sempre longe de ter.

terça-feira, março 31, 2009

Será verdade?

Às vezes, há notícias que são verdadeiramente inesperadas, pela positiva.

Quem havia de dizer que a APD (Ajuda Pública ao Desenvolvimento) de 22 membros da OCDE iria ter, em 2008, um crescimento de 10,2 %?

E que tal notarmos que, no caso português, esse esforço de apoio aos países em desenvolvimento aumentou 21,1 %?

Ou será isto uma mentira do 1º de Abril ?

Obama

A deslocação do presidente Obama à Europa está a suscitar a maior expectativa que alguma vez se criou face a uma nova administração americana. Seja pelo contraste com a anterior chefia dos EUA, seja pela imagem de esperança que o novo líder americano arrasta consigo, sendo que uma coisa não é independente da outra, Obama tem hoje o mundo a olhar para ele - para o que dirá e para o que fará. E o ambiente de crise global que se atravessa torna ainda maior essa responsabilidade.

Nesta sua visita à Europa, Barack Obama sabe que não terá uma segunda oportunidade para criar uma primeira impressão.

Eiffel

Faz hoje 120 anos que foi inaugurada a Torre Eiffel, construída em 26 meses, para a Exposição Mundial de Paris de 1889.

Vale a pena lembrar que o responsável técnico, o engenheiro francês Gustave Eiffel, trabalhou em Portugal onde foi responsável por uma quantidade muito significativa de obras na modernização da nossa rede ferroviária (ver o site oficial), com especial destaque para a ponte Maria Pia, no Porto, e a ponte de Viana do Castelo.

Um mito que importa desfazer é a tradicional ligação do nome de Eiffel ao elevador de Santa Justa, em Lisboa, que não é da sua autoria.

Dancemos no Mundo

Não me perguntem porquê, mas apeteceu-me dar hoje a ouvir aos leitores deste blogue o "Dancemos do Mundo", uma canção de 2000, de Sérgio Godinho.

Se não gostarem, o que duvido, passem à frente.

segunda-feira, março 30, 2009

Portugal na cidade universitária

Regressei hoje à cidade universitária de Paris, para visitar a casa de Portugal - Residência André de Gouveia - agora remodelada: 169 quartos, ocupados por portugueses e estrangeiros, com as condições mínimas fundamentais para a finalidade a que se destina.

Paris é, ao que sei, a única cidade do mundo onde, num largo espaço, se distribuem dezenas de grandes casas para habitação de estudantes, a maioria das quais com o seu nome ligado aos países que as doaram.

Por aqui passaram muitas centenas de portugueses, desde há décadas. Recordo-me de lá ter visitado, aí por 1973, entre outros, bons amigos como José Carlos Serras Gago, a viver na casa do Líbano, e Joaquim Pais de Brito, na casa da Noruega. Acho mesmo que era tempo de procurar reunir esses portugueses para quem a cidade universitária de Paris foi escala da vida.

A cidade foi palco de cenas complicadas no Maio de 1968, com a residência portuguesa a ser alvo de acções de ocupação contra o regime de Lisboa. E chegou a haver por lá tragédias, como a luta entre facções cambodjanas, ao tempo de Pol Pot.

Criada nos tempos pacifistas dos anos 20, para favorecer o intercâmbio entre estudantes de todo o mundo, a ideia generosa da cidade universitária de Paris não conseguiu, contudo, convencer a União Soviética e os seus aliados, razão pela qual essa parte do mundo continua a não estar por lá representada.

Tem uma arquitectura ecléctica, com alguns belos edifícios, da autoria de reputados arquitectos, outros nem por isso. E há o nosso, originalmente do traço de Sommer-Ribeiro, mas que foi objecto de uma intervenção arquitectónica recente, de um gosto, para mim, um tanto discutível, mas que lhe aumentou a dimensão e funcionalidade.

Sob a orientação de Manuel Rei Vilar, a Residência André de Gouveia, criada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1967 e agora entregue à gestão da cidade universitária, necessita ainda de alguns apoios para ser completada - em especial o seu magnífico espaço de exposições/concertos e a área de teatro.

Esse foi um dos temas que hoje também suscitei junto dos empresários da Câmara do Comércio Portugal-França, que reuniram na Embaixada a sua Assembleia Geral, sob a presidência de Carlos Vinhas Pereira. Apelei à sua ajuda, através do mecenato, para se completarem as obras da residência, que também pode ser aproveitada por estruturas associativas da comunidade luso-francesa.

Se queremos vir a ter uma força colectiva em França, se pretendemos que a segunda e a terceira gerações de portugueses e luso-descendentes afirmem nesta sociedade a sua diferença, temos de saber trabalhar e agir em torno daquilo que reforça a nossa identidade. Como é este caso.

Herald Tribune

A partir de hoje, o "International Herald Tribune" passa a ser apenas, de forma ainda mais clara do que já o era desde há uns tempos, uma simples edição mundial do "The New York Times".

O jornal foi, no seu início, um órgão de informação destinado à comunidade americana residente ou expatriada na Europa. Chamava-se então "New York Herald Tribune" e os cinéfilos recordam-se bem de ver Jean Seberg a anunciá-lo em Paris, Champs-Elysées abaixo, ao encontro de Jean-Paul Belmondo.

A grande vantagem do IHT era o facto de, durante muitos anos, nos trazer o melhor, não apenas do New York Times, mas igualmente dos excelentes The Washington Post e do Los Angeles Times. Era um retrato de uma certa América, com magníficos textos de opinião, que nos ajudavam a ultrapassar a visão mais eurocentrada do Le Monde ou do Financial Times. Um dia, o jornal perdeu para a publicidade a sua última página, onde até então apareciam as deliciosas crónicas do Art Buchwald e em cujo rodapé emergiam pequenos anúncios, desde o eufemismo das primeiras "escort girls" às casas de campo por essa Europa fora. Por décadas, desde 1924, o Herald Tribune incluiu nesse espaço a publicidade a esse expoente americano da bebida que ainda é o Harry's Bar, aqui em Paris, onde o respectivo endereço - 5, rue Daunou - era apresentado em transcrição fonética, por forma a permitir ao consumidor yankee dizê-lo com facilidade ao taxistas parisienses: "Just tell the taxi driver: sank roo doe noo".

Com esta sua mudança, consagra-se o fim de uma época do IHT. Por mim, confesso, tenho alguma pena. Mas não deixarei de lê-lo todos os dias, como faço há muitos anos.

domingo, março 29, 2009

Solidariedade

Um belo exemplo de solidariedade foi a sessão a que ontem assisti em Monfermeil, nos arredores de Paris, que reuniu centenas de portugueses e luso-descendentes, em torno da Association Portugaise de Bienfaisance, a qual, ininterruptamente desde há 21 anos, leva a cabo jantares de recolha de fundos para fins caritativos. Desta vez, foi o hospital da cidade quem foi beneficiado por um significativo donativo.

Nada pode traduzir melhor o sucesso da integração dos portugueses em França do que este belo gesto, mobilizado pelo entusiasmo de Manuel de Oliveira, um empresário que consegue induzir os seus compatriotas a se mostrarem solidários com a sociedade que os acolhe.

Nulos

A primeira vez que assisti a um jogo internacional de Portugal foi no Estádio Nacional, no Jamor, em 1955. Eu era muito miúdo, mas ficou-me sempre na memória que perdemos por 6-2, com a Suécia. Nessa altura, as prestações portuguesas, em termos de jogos internacionais de futebol, eram de nível baixo e as derrotas quase que se comemoravam, quando eram por números reduzidos.

Curiosamente, a minha última experiência de uma partida ao vivo da selecção portuguesa foi em Brasília, contra o Brasil, em 2008, quando perdemos por ... 6-2! Foi uma humilhação para Portugal e para os portugueses no Brasil. Já nem falo no resultado, falo da displicência da atitude em campo.

Ontem, felizmente, não estive no Porto, para ver o nulo com a Suécia, que nos coloca à beira da eliminação para o Mundial da África do Sul, onde a presença nacional daria uma alegria muito grande a uma Comunidade portuguesa que aí tem passado tempos bem difíceis.

Mas isso importa alguma coisa a alguns dos jogadores portugueses? Será que percebem o que significa representar Portugal e a importância dos resultados que obtêm, em especial para os nossos compatriotas que vivem no estrangeiro? Ou o mais que conta são as modelos que trazem à ilharga, as roupas de marca e os carros espampanantes? Para alguns, as bandeiras dos respectivos clubes parecem ter substituído, em afectividade, a bandeira nacional portuguesa.

sábado, março 28, 2009

Notícias da Beira

A edição informática do Le Figaro dá conta da tomada de posição do bispo de Viseu, Ilídio Leandro (na foto), defendendo o direito (e o dever) dos portadores de sida de utilizarem preservativo no caso de terem relações sexuais.

O bispo viseense acha, no entanto, que o Papa, ao ter-se pronunciado, há dias, da forma como o fez, "não podia dizer outra coisa enquanto chefe da Igreja".

Este é um debate a que ninguém pode fugir.

Salazar em Austerlitz

Ao passar, há pouco, em frente à Gare de Austerlitz, ponto de chegada a Paris de muitos e muitos milhares de portugueses a quem a Pátria foi madrasta, veio-me à ideia um dos mistérios nunca resolvidos da política portuguesa do século XX: a famosa e nunca confirmada viagem de Oliveira Salazar à Bélgica, nos anos 20, para assistir a um congresso católico.

Salazar era parco em deslocações. Conhecidas são as suas duas viagens a Espanha, a Badajoz e a Sevilha, onde se foi encontrar com Franco. Fora disso, o homem que liderou o governo português, durante cerca de quatro décadas, nem aos Açores ou à Madeira alguma vez foi, muito menos ao Ultramar que tanto cantava nos seus discursos. Por isso, esta viagem à Bélgica, a ter tido lugar, representaria a mais ousada digressão de Salazar.

Deu-me hoje para imaginar a figura seráfica de Salazar em Paris, provavelmente de botas, a sair do "Sud Express" e a tentar ligação para a Gare du Nord, depois de muitas horas perdidas a olhar por aquelas janelas em cuja base figurava o prudente aviso: "Ne pas se pencher".

sexta-feira, março 27, 2009

A nova Europa

A situação económica de extrema gravidade que afecta hoje alguns dos países da União Europeia, que fizeram parte das últimas vagas do alargamento, prova, a meu ver, três coisas.

Em primeiro lugar, revela que o euro é hoje uma excelente protecção para os países que a ele acederam, contribuindo para reforçar as respectivas economias e dar-lhes meios para melhor resistirem aos embates de uma crise global como a que atravessamos. Os países da UE hoje atingidos são, precisamente, os que não fazem parte do euro – embora, também legitimamente, se possa dizer que são os que não conseguiram fazer parte do euro devido à sua fragilidade económica.

Em segundo lugar, o que se está a passar parece ter deixado evidente que o facto de alguns desses Estados terem seguido receitas de cariz hiperliberal, com políticas sócio-laborais de grande precariedade e modelos de captação de investimento directo estrangeiro altamente apelativos, acabou por não lhes garantir uma situação mais sólida e por funcionar como factor de estabilização. Alguns dirão, com ácida ironia, que o "dumping social”, a prazo, não compensa.

Finalmente, e por muito que possamos registar que as respostas imediatas à crise foram, até agora, de carácter muito mais nacional do que europeu, creio que uma ponderação mais serena sobre futuro do mercado interno terá, forçosamente, que conduzir os Estados da UE, a prazo mais ou menos curto, a uma maior aproximação (não uso a palavra harmonização para não chocar a sensibilidade soberanista de alguns) das suas políticas ficais e sociais, bem como uma melhor clarificação do conceito de "ajudas de Estado". A preservação do mercado interno é incompatível com a repetição da deriva para fórmulas de "salvação nacional" como estamos a observar, com "ajudas de Estado" mais ou menos encapotadas, acompanhadas de pressões políticas para conseguir a complacência da Comissão Europeia para a heterodoxia de algumas dessas mesmas práticas.

Um nota final, de natural tristeza: não é nada agradável para o prestígio da UE, enquanto entidade política, observar que alguns dos seus Estados se vêm obrigados a recorrer ao FMI para se recomporem economicamente, pelo facto de a própria União não ter sido capaz de encontrar uma resposta solidária para as dificuldades desses parceiros.

Ainda recordo bem a angústia com que, no final dos anos 70 e 80, assistíamos à chegada a Lisboa das equipas da Senhora Teresa Ter-Minassian...

quinta-feira, março 26, 2009

Portugal em Paris

Há poucas horas, no Centro da Fundação Gulbenkian em Paris, António Lobo Antunes contava, durante um magnífico improviso, no contexto de uma palestra sobre o romance histórico, que Mário Soares terá um dia dito que "aos amigos nunca se mente, às mulheres e à polícia (polícia política, claro) mente-se sempre".

Soares esteve hoje em Paris, a caminho de Lille, onde foi entrevistar para a RTP a lider do PSF, Martine Aubry, antes de aqui regressar amanhã, para idêntico exercício com o jornalista e escritor Jean Daniel. Não pude vê-lo porque, com o pintor José David e uma trintena de amigos, estava a essa hora a manifestar o nosso respeito ao pintor José Alvess, na despedida final no cemitério do Père Lachaise.

À saída da Gulbenkian, encontrei Júlio Pomar, que também tinha ido ouvir Lobo Antunes. Deixo aqui o seu famoso e polémico retrato de Soares.

Portugal acaba por ser um país bem pequeno, no bom sentido.

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...