sexta-feira, abril 24, 2020

Posso ir à praia?


Leio que, devido à crise sanitária, é bem possível que o acesso às praias, este Verão, passe a ficar condicionado, para evitar aglomerações. Já estou a imaginar o que vão ser as filas matinais para inscrições!

Como eu só costumo ir para a praia cerca da quatro da tarde, estou curioso sobre como vai funcionar o esquema para “late risers”. Mas não é nada de que eu não tenha já alguma experiência.

Em 1980, vivendo na Noruega, deu-me para ir passar uma semana de férias em Ialta, no mar Negro. Vivia-se o tempo soviético, em todo o seu esplendor burocrático.

Na receção principal do hotel - escrevo “principal” porque, na URSS desse tempo, os hotéis tinham, além dessa, uma receção em cada andar, onde ficavam guardadas as chaves dos quartos - foi-nos entregue, à chegada, um boletim individual, com o nosso nome, com espaço para dois carimbos, por cada dia de estada: era a “autorização” para ir à praia. Na véspera, informávamos se queríamos ir de manhã ou de tarde e era colocado, no espaço próprio, um carimbo permitindo esse acesso. Achámos bizarríssima a ideia, mas, como logo aprendemos, não era mais do que a que tivéramos ao ter escolhido fazer férias soviéticas...

O nosso hotel era imenso, dando sobre a praia. Acedia-se a esta por um único elevador. À sua entrada, havia uma senhora a quem era necessário mostrar o tal boletim e que cuidadosamente, com cara patibular, verificava se, para o período do dia e data em que se estava, estávamos autorizados a descer até à praia. E que contava cuidadosamente o número de passageiros. Chegado o elevador ao nível da praia, à saida, lá estava outra senhora, a quem tínhamos de mostrar de novo o cartão e que, percebi, repetia a contagem. Já não recordo o procedimento de regresso.

Na primeira noite, ao jantar, inquiri da guia norueguesa que nos acompanhava o que é que aquilo significava: é que, a menos que tivesse “nascido” alguém no curso da descida, as pessoas que saíam do elevador eram exatamente as mesmas que nele tinham entrado, umas dezenas de metros mais acima.

A guia, que passou todas essas férias numa preocupação com os meus constantes protestos e observações, aculturada que já estava àquelas práticas, explicou-me: “É muito simples: a primeira funcionária é a responsável pelo número de passageiros que segue no elevador, e segunda faz o controlo sobre o trabalho da primeira, não vá ter ido gente a mais”. Creio, mas não estou certo, que não se riu ao dizer isto...

Agora que passam 150 anos sobre o nascimento de Lenine, constato que não notei se, no seu túmulo, na Praça Vermelha, em Moscovo, para ver o seu corpo embalsamado, é feita uma contagem dos visitantes à entrada e outra à saída. É que, na realidade, pode dar-se o caso de ficar lá por dentro alguém...

quinta-feira, abril 23, 2020

“Olha quem ele é!”



Há uma semana, ao ver o “J’Accuse!”, um belo filme de Roman Polansky, numa cena em que surge muita gente a assistir a um espetáculo musical, descortinei, por instantes, o rosto inconfundível do realizador, como figurante silencioso no seu próprio filme.

Lembrei-me então das muitas vezes em que Alfred Hitchcock fazia essa aparição nos seus filmes, o que, muito provavelmente, terá levado outro génio da realização, e seu confessado admirador, François Truffaut, a proceder de idêntica forma.

É um “vício” antigo de alguns realizadores deixarem nas suas obras essa marca curiosa, as mais das vezes silenciosa. Scorsese, Spielberg, Godard e alguns outros fizeram essa graça. E alguns até “trocaram”: estou a lembrar-me de ver Truffaut com um papel nos “Encontros imediatos...”, de Spielberg.

No dia seguinte, num canal de cabo, “comprei“ o “Parque Mayer”, de António-Pedro de Vasconcelos, que não tinha conseguido ver na estreia.

Faço parte de quantos gostam muito do cinema que o público gosta de ver. Digo isto porque há uma escola de atitude que adora filmes que ninguém vai ver. Está no seu pleno direito. Em toda a minha vida, creio ter visto todas, repito, todas as longas-metragens portuguesas - desde as mais populares àquelas que apenas são vistas pelos amigos do autor e pelos que detestam as dos outros, sendo que estes dois últimos universos geralmente coincidem. Sinto-me, assim, à vontade para dizer que gosto muito de quase toda a filmografia de António-Pedro de Vasconcelos. Desde o “Perdido por Cem” até este belo “Parque Mayer”.

Porque não conhecia alguns dos atores deste filme (problema de quem não vai muito ao teatro), estive muito atento, no fim, à enunciação do elenco. E o meu espanto foi encontrar, na base da lista, o nome do António-Pedro, na personagem de “Ministro”. Dei voltas à cabeça e não consegui descortinar nenhuma figura similar que tivesse visto no filme - e não é fácil ele passar despercebido. Lá fui eu, de comando em punho, à procura de APV, em toda a película. Não o descortinei.

No dia seguinte - para grandes males, grandes remédios! -, porque a curiosidade é um “defeito” que nunca curei, telefonei ao realizador: “Olha lá! Onde é que tu entras no filme, que não te consegui encontrar?”. O António-Pedro riu-se e recomendou-me que fosse rever uma cena à saída do prostíbulo, em que um figurante passa ao lado de duas das principais personagens do filme. Assim era, um instante APV. Falei-lhe então da “mania” de Hitchcock e de Truffaut. Ele notou que também Charlie Chaplin tinha feito um papel na “Condessa de Hong-Kong”. Não me recordava.

Nessa mesma - mesma! - noite, a RTP 1 passou a “Condessa de Hong-Kong”, uma comédia (tardia) de Chaplin, com Marlon Brando e Sophia Loren. Diga-se: um filme menor, que parece uma peça de Feydeau, com portas a abrir e a fechar, com excelentes atores a fazerem um “frete” a um génio em decadência. Aproveitei para rever o filme e, claro, como o APV tinha avisado, nele surge, a certo ponto, o velho Chaplin, por duas vezes, no papel de um camareiro. Mas mais: o “resto” da família, desde Geraldine a umas netas sem graça, também por ali acabam por figurar, metidas “a martelo”.

Voltando à “vaca fria”: recomendo que vejam o “Parque Mayer”! É um belo filme, ao mesmo tempo uma excelente homenagem a uma certa Lisboa, que se enfarpelava para ir ver as revistas, se divertia nos seus subentendidos e trocadilhos, e que, antes das sessões (duas sessões por dia, três aos fins de semana), ia jantar ao Chico Carreira ou ao Manel, arriscava um “vai um tirinho, ó freguês!” e, em tempos pouco abonados, batia palmas com “bilhetes de claque”, como eu próprio fiz, algumas vezes. Noutras noites, já mais “profundas”, acabava-se no Galo, lembram-se?

quarta-feira, abril 22, 2020

Leonardo

 

O sorriso era a sua imagem de marca. A simpatia era o seu estilo natural. A rapidez e o brilho da sua inteligência eram a evidência que se impunha, de imediato, a quem o conhecia. O patriotismo era o seu ADN.

Leonardo Mathias, que agora nos deixa, tinha a imensa qualidade daquelas pessoas que conseguem dar a impressão de que tudo o fazem, por mais complexo que seja, é sempre levado a cabo com facilidade, com leveza, sem a angústia dos afogueados.

Interrogou-me sempre muito essa atitude e um dia percebi porquê: porque o Leonardo era feliz naquilo que fazia, tinha a sorte de adorar a profissão que desempenhava, sabia dela extrair o essencial para poder sentir-se satisfeito no seu trabalho. Tinha imensa confiança em si próprio e, felizmente, tinha toda a razão para isso.

Um dia, não há muitos anos, senti coragem para lhe dizer uma verdade que já tinha partilhado com alguns amigos: ele tinha sido um dos meus modelos na carreira - e eram só dois ou três. Era “assim” que se devia ser diplomata: fruir os aspetos lúdicos da vida, saborear as coisas e as pessoas, saber olhar uma mulher bonita, dizer uma boa graça, degustar um bom vinho e um bom jantar, e, ao mesmo tempo, saber sempre concentrar-se no essencial, ter a apurada perceção do interesse nacional, a firmeza no terreno negocial, a agudeza do argumento “espetada” com o sorriso da razão que é a nossa, muito “my country, right or wrong”. O Leonardo era assim e eu tentei ser também assim.

Nunca tive a sorte de poder trabalhar diretamente com Leonardo Mathias, e essa é uma mágoa eterna que sinto. Convidou-me a ir para Bruxelas, onde foi um excelente embaixador junto das instituições comunitárias, provando que a carreira tinha gente qualificada, ao contrário do que alguns à época ainda pensavam, para garantir que os diplomatas podiam fazer esse lugar como ninguém. Por opções pessoais, não pude aceitar esse seu convite e não apreciou que lhe tivesse dito que não. Disse-mo, mas sempre com um sorriso, o seu.

Vou contar duas histórias de Leonardo Mathias.

Ao tempo em que era secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, com André Gonçalves Pereira como ministro, em 1981, o embaixador britânico, Hugh Byatt, procurou-o, com urgência, para poder obter luz verde para que aviões britânicos, em trânsito para irem apoiar as suas forças armadas, na guerra das Falkland/Malvinas, pudessem escalar território português. Leonardo exigiu que o pedido fosse feito à luz da “velha Aliança”, de que os ingleses só se lembram nos discursos. O britânico reagiu, Leonardo insistiu e Londres acabou por aceitar. Era a História a impôr-se, na cabeça do diplomata feito político.

O outro episódio passou-se em Israel, durante a presidência portuguesa das instituições comunitárias, em que Leonardo Mathias era nosso enviado especial para a região. Perante uma qualquer diatribe do interlocutor local, ele atirou-lhe à cara uma realidade pouco conhecida: Israel tinha fornecido, a pedido dos americanos, treino à guerrilha independentista da FNLA, de Holden Roberto, que combatia as tropas portuguesas. E deixou claro que, em Lisboa, isso não era esquecido.

Era assim Leonardo Mathias. Frontal e patriota. Era conservador, e aí divergíamos, mas nunca tivemos o menor dissídio. Tínhamos alguns “azares” (acordámos não lhes conferir o estatuto dignificante de “ódios”) comuns. Nos últimos anos, éramos parceiros de uma tertúlia almoçante, na qual ele me tinha introduzido. Cada vez falava menos, mas, ao vê-lo, aquele sorriso aberto e cordial fazia sempre o meu dia.

Vou ter muitas saudades do meu amigo Leonardo Mathias. Deixo um beijo à Teresa e um abraço de pesar ao Marcello e a toda a sua Família.

Uma televisão pública



Os portugueses descobriram agora que a RTP conseguiu montar, num prazo curto, um espaço de ajuda educativa que permite, em tempo de pandemia, suprir algumas das aulas presenciais que é inviável realizar. O êxito desta operação é revelado pela generalidade das apreciações e até pelo nível de audiências.

Toda a gente achou normal que fosse a RTP a fazer isso, ninguém se perguntou por que não foram os canais privados a ter esta iniciativa. Porque os portugueses sabem que a RTP é a sua televisão, que é a ela que se recorre para ações de serviço público. E talvez as pessoas desconheçam que o Estado não colocou nem um euro extra para a montagem deste novo projeto, que tem como parceira a Fundação Calouste Gulbenkian.

A RTP - e quando escrevo RTP, quero significar também as diversas rádios, todas sem receitas de publicidade, num conjunto de 19 canais, alguns servindo as Regiões Autónomas e várias zonas pelo mundo – é um serviço eminentemente público, financiado por uma contribuição ínfima dos cidadãos, inferior à que, lá fora, sustenta empresas congéneres.

Hoje, a tutela da RTP é um Conselho Geral Independente (CGI), que escolhe a administração, dá linhas genéricas de orientação e vela pelo cumprimento das obrigações de serviço público, sem se imiscuir na informação e na programação. A RTP é uma televisão “pública”, não é uma televisão “do Estado”, como foi no passado, onde os governos intervinham a seu bel-prazer.

A RTP vive hoje com metade do tempo de publicidade dos canais privados e tem as suas contas em dia. É, também com as suas rádios, um instrumento indispensável de ligação às comunidades portuguesas pelo mundo, um importante promotor da nossa língua, um auxiliar da projeção externa do país. E onde é que hoje se pode ouvir música clássica na rádio, sem ser na Antena 2? E quantos elogios não testemunhamos, todos os dias, à qualidade da programação da RTP 2?

A RTP é um “oásis“? Longe disso! Pode discutir-se a sua linha da informação? Pode e deve. A programação pode ser melhorada? Claro que sim! Em tempos normais, há por ali futebol a mais? Como espetador, sou dessa opinião. Como membro (não remunerado) do CGI da RTP, órgão a que é vedado intervir na informação e na programação, apenas nos cumpre velar por que as regras de serviço público sejam cumpridas pela empresa E é com gosto que constato que, nesta crise, a RTP esteve bem à altura daquilo que se lhe pode pedir, como televisão de todos os portugueses. E se começássemos a pensar num canal permanente RTP Educação?

terça-feira, abril 21, 2020

Clara Ferreira Alves


Não conheço Clara Ferreira Alves. Ou melhor, lembro-me de termos feito parte de uma delegação, creio que à Hungria, nos anos 90, e de ambos termos estado numa conversa, com mais gente, no hall de um hotel de Budapeste. É tudo.

Depois disso, para mim, há duas Clara Ferreira Alves.

Uma delas é a pessoa que faz parte dos debatedores do “Eixo do Mal”. Quase que deixei de ver o programa, apenas por causa dela, pelo que me irrita, sempre que a vejo e oiço.

A outra é a escritora. Tenho uma quase veneração pela qualidade da sua escrita, dos seus livros àquelas crónicas na revista do “Expresso”, num português magnífico, com uma construção soberba, que, todas as semanas, me dá um prazer imenso a ler. Até já quase me fez esquecer o quanto gostava de encontrar por ali, naquele mesmo lugar, o José Manuel dos Santos.

Decididamente, não quero que a Clara Ferreira Alves do “Eixo do Mal” polua a imagem da escritora, de cuja qualidade de texto sinto, frequentemente, inveja - e a inveja não faz parte dos meus defeitos, e tenho vários, estimados e alguns, julgo, estimáveis.

Barris


Ao preço a que o barril está, deixa de fazer sentido a prometedora exploração de petróleo no Beato.

Os olhos agora voltam-se, ali ao lado, para o Poço do Bispo. Ainda haverá barris na Abel Pereira da Fonseca?

(As novas gerações saberão de que é que eu estou a falar?)

Para alguém embrulhar


Brasília e as duas igrejas


Faz hoje precisamente 60 anos que foi inaugurada a cidade de Brasília, a nova capital do Brasil.

Por lá, imagino que os tempos não vão para grandes comemorações, mas, não obstante, quero deixar aqui um abraço aos muitos amigos que ali deixei, com alguns dos quais mantenho um contacto regular.

Nesse abril de 1960, Portugal foi convidado a estar presente, ao nível religioso mais elevado, nas cerimónias: o cardeal Gonçalves Cerejeira celebrou a missa inaugural da nova capital. Diz-se que a homilia do prelado luso foi de muito difícil compreensão por parte do auditório, o que ocorre muitas vezes quando o português de Portugal é falado de uma forma muito cerrada. Acresce que o “ch” beirão do amigo de Salazar deve ter agravado ainda mais essa dificuldade.

Ao seu lado na celebração, Cerejeira tinha um arcebispo brasileiro. Era um nome, à época, ainda pouco conhecido. Mas, curiosamente, era um homem que iria ficar na História do Brasil, por, anos mais tarde, ter tomado posições de grande coragem, ao lado dos pobres e dos perseguidos pelo sinistro regime militar que, quatro anos depois, iria tomar conta, por quase duas sangrentas décadas, do quotidiano sócio-político do país.

A missa inaugural de Brasília seria assim celebrada pelo prelado que abençoou a ditadura portuguesa, Gonçalves Cerejeira - pessoa que não levantou um dedo face às perseguições de que foi alvo o padre Abel Varzim ou António Ferreira Gomes, bispo do Porto - e por Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, que seria a face da dignidade da igreja brasileira face ao arbítrio da ditadura brasileira.

Uma imensa ironia, nesse dia 21 de abril de 1960. Faz hoje 60 anos.

(Há trze anos, a convite da TAP, publiquei na sua revista de bordo uma espécie de homenagem à cidade. Tirando referências de conjuntura, o texto permanece válido, para quem tiver interesse em lê-lo aqui.

segunda-feira, abril 20, 2020

Exame prévio


Não sei quem é o autor do título desta notícia, nem se as duas jornalistas tiveram alguma coisa a ver com a escolha desse mesmo título. Dito isto, voluntária ou involuntariamente, estamos perante uma seleção genial de palavras. Quem não perceber, tem agora a Telescola...

Cartas antigas


Não tenho por hábito guardar nada. Porém, durante alguns anos - no governo, nas embaixadas - alguém, quase sem que eu desse conta, guardava por mim toda a imensa correspondência pessoal: o que chegava e o que partia, com fotocópias de quase tudo. Eu tinha uma confiança cega nessas pessoas, e nunca me arrependi.

Essa montanha de coisas jaz em dossiês cujo estado físico exterior cada vez mais me repugna. Por um lado, não queria que tudo aquilo fosse para diretamente o lixo, sem eu previamente verificar se, lá pelo meio, não haveria algo que, de facto, ainda me pudesse interessar. Mas o interesse potencial que eventualmente pudesse ter nessas coisas nunca tinha sido suficiente para me estimular a vencer a preguiça de ir folhear aqueles milhares de páginas.

No passado fim de semana, aproveitando o sol e o confinamento, fiz uma tarde de busca da parte desses arquivos (outra grande parte anda lá por Vila Real) correspondente ao tempo em que andei pelo governo - mais de cinco anos! Percebi então a verdadeira utilidade das máscaras da moda. Conseguir abrir aqueles dossiês, de onde caem aranhas secas, traças feitas fósseis e uma poeira que imagino muito pouco sã, só se consegue, sem espirrar, com a cara tapada. E no jardim.

Encontrei alguma coisa interessante? Pouca, confesso! Lá estavam muitas (não todas, claro!) cartas recebidas e cópia das minhas respostas, quando era o caso, que as minhas amigas e dedicadas secretárias - Ana Cristina, Irene, Sabrina, Aida, Antónia, terei falhado alguém? - iam pacientemente arquivando. Ali estão coisas de gente que já morreu, de outra que ainda por aí anda, alguns de quem me mantenho próximo, outros que deliberadamente se afastaram (eu nunca me afastei de ninguém, creio). Pessoas a pedirem emprego (para si ou para os seus), algumas a queixarem-se de supostas injustiças, outras a quererem um “jeitinho” para uma promoção ou colocação, amigos a zangarem-se comigo por falta de atenção, outros a darem-me novidades da sua vida (quando isso se fazia por carta) e muita, imensa, correspondência burocrática. Também alguma correspondência “dura” com outros membros do governo, mesmo ministros! Nunca me tinha dado conta de ser tão refilão!

A nostalgia nunca me ataca, pelo que, no destino definitivo daquilo, fui impiedoso e drástico. O lixo vai fazer desaparecer quase tudo nos próximos dias. Mas guardei ainda algumas coisas, por graça.

Ontem, relembrei a uma amiga uma carta, muito formal, que ela me tinha dirigido, há precisamente 22 anos, a cortar “relações políticas”, em nome do partido de oposição que ela representava, como protesto por algo que eu teria dito numa entrevista a um jornal. A resposta imediata dela, numa SMS, foi: “Que divertido! Bons tempos!”. Eram, mas estes, apesar de tudo, também são.

Debater Abril no 25 de Abril


Todos os nomes

Um dia, no Brasil, numa conversa, saiu-me esta: “andam para aí uns fabianos a mandar bocas sobre tudo...”

O meu amigo Arnaldo olhou para mim, franziu o sobrolho e disse: “Como sabe, Francisco, o meu filho chama-se Fabiano”.

Lá tive que explicar que, em Portugal, e para uma certa geração, o termo “fabiano” tinha a mesma aceção com que se usa “fulano”, “sicrano” e “beltrano”. E creio que também esclareci que os “fabianos” eram, além disso, uma conhecida e bem respeitável escola britânica do pensamento socialista moderado do século XIX.

Razão têm os que dizem que Portugal e o Brasil são dois países separados por uma língua comum.

Aqui deixo um abraço saudoso, e com votos de saúde, à Josina, ao Arnaldo e, claro, ao Fabiano.

Liberais e outras raças

Lembro-me bem do tempo em que, quando se dizia que “fulano é um liberal”, isso era visto como um elogio.

Quem é que, entretanto, terá dado mau nome ao vocábulo “liberal”?

Não vai ser fácil ...


... e imagino que os “likes”, tão importantes para alguns, vão baixar. Mas vou tentar, até ao dia 26 de abril, não falar por aqui nem do vírus nem das peripécias em torno da cerimónia na Assembleia. Se não conseguir, em absoluto, desculpem lá.

domingo, abril 19, 2020

“Então almoçamos depois...”


Um dia, estava a almoçar num restaurante em Belém, no Brasil. A certo passo, vi que o céu se adensou e, quase subitamente, caiu uma fortíssima bátega de água. Comecei a ficar preocupado, porque tinha ainda um programa a cumprir, nas horas seguintes.

Sossegaram-me logo: “No máximo, daqui a quinze ou vinte minutos, isto já passa!”. E não é que passou mesmo? O ambiente rapidamente clareou e o resto do dia ficou magnífico. Alguém, local, explicou-me então que aquela chuva fazia parte da “rotina” diária da cidade e da região.

Mas foi-me dito mais: por ali, os encontros informais entre as pessoas, quando não tinham de obedecer a uma hora rigorosa, eram marcados da seguinte forma: “Vemo-nos depois da chuva!”

Lembrei-me disto há pouco, quando telefonei a um amigo para saber da sua saúde, nestes tempos bizarros que vivemos. É que acabámos a conversa a dizer: “Vamos então almoçar, logo que isto passe!”. O “isto” era, claro, o vírus que nos atazana o quotidiano.

Falei-lhe do dito similar de Belém. Ele conhecia-o bem. Aprende-se bastante quando, como foi o seu caso, se esteve muitos anos exilado no Brasil.

Um abraço, Eduardo!


Há uma regra de ouro em política: quando um amigo e homem de bem é vilmente atacado pelos que não são do nosso campo, mesmo que pudéssemos achar que ele estava a incorrer num erro, há uma forte probabilidade de sermos nós, afinal, quem não tinha razão. 

Um forte abraço ao meu amigo Eduardo Ferro Rodrigues.

sábado, abril 18, 2020

Para além dos números

Por que será que ninguém explica que nos saiu em rifa, como único vizinho, um dos países mais afetados pelo vírus, que éramos parte de um espaço de livre circulação que tinha todas as suas fronteiras desativadas, que havia, no início da crise, um imenso e incontrolado influxo de turistas e que igualmente se verificou uma entrada súbita de muitas pessoas vindas da nossa imensa diáspora, de origens onde a epidemia já grassava?

sexta-feira, abril 17, 2020

25 de abril

É discutível - e é um debate respeitável, se desenvolvido em termos de saúde pública - a questão da realização da sessão parlamentar comemorativa do Dia da Liberdade.

A polémica, porém, teve uma incontestável vantagem: fez sair da toca os que detestam a data, mas que, às vezes, se acanham (ia a escrever “acobardam”, mas depois arrependi-me) em afirmá-lo.

“Posso pedir um disco?”


Idade é quando uma estação de rádio nos convida a fazer a nossa “playlist” e nos damos ao luxo de recusar, não lhes dizendo que o fazemos apenas para bem deles, para não gastarem o que lhes resta de vinil e para que ninguém os confunda com a “Rádio Sim”.

A cor do charme

Hoje, um amigo perguntou-me: ”Olha lá! Onde é que consegues arranjar tinta para manteres o teu cabelo branco? É que, daqui a dias, vou começar a sair à rua com o meu cabelo original, que já voltou a ser preto, e isso tira-me todo o charme“.

Não lhe disse o meu truque.

Christophe


Há muitos anos, Christophe, que hoje morreu, cantava “Aline”, que foi um imenso êxito. Ouçam aqui: https://www.youtube.com/watch?v=-E_Hyn53acA

Letra morta

Não sou um grande leitor de ficção, confesso desde já. Mas conheço (com proveito, diga-se) alguma coisa de Rubem Fonseca, que aliás cruzei um dia, num divertido almoço no Brasil, com Agustina Bessa Luís e Lígia Fagundes Telles. Humildemente, digo, alto e bom som, que nunca li uma linha que fosse de Luís Sepúlveda, de que bastante ouvira falar e de cuja escrita vejo agora dizer tão bem. E, também com a modéstia dos que assumem, sem complexos, as suas lacunas, atrevo-me a revelar que não conhecia, nem de nome, Luiz Alfredo Garcia-Roza. Todos estes escritores latino-americanos morreram nos últimos dias.

Falta-me ler tanta coisa! Mas, se não mantivesse a certeza de que ainda vou a tempo de ler muito daquilo que me falta, “sem razão seria a vida, sem razão!”, como canta o meu amigo Manuel Freire.

“À poeta”

Alguns, poucos, eram mesmo poetas, mesmo que apenas nas horas vagas. De outros, em tempos idos, na minha terra, só se dizia que tinham um “cabelo à poeta”. Era um estilo de penteado “négligé”, usado por homens de idade madura, que deixavam o cabelo crescer na parte traseira da nuca, subindo pela gola. Raramente isso lhes ficava bem, em geral dava-lhes mesmo um ar desmazelado.

A pergunta que se me coloca, nestes tempos de confinamento, é saber quando é que poderei, finalmente, ir visitar o meu barbeiro, o senhor Joaquim Pinto, com vista a evitar que alguém, gente da minha idade e da minha terra, me possa vir a mandar a “boca” de que ando já com “um cabelo à poeta”.

quinta-feira, abril 16, 2020

Forum Demos


A Europa e a nova crise financeira, vista pelo Forum Demos. O que eu disse por lá está aqui.

De culto


Há dias, passando de carro por um bairro de Campo de Ourique quase deserto, olhei o lugar onde, durante muitos anos, existiu aquele que foi um restaurante “de culto” de Lisboa: o “Stop do Bairro”.

O “Stop” mudou-se, já há uns tempos, para um novo espaço, em Campolide, por onde também já passei e onde, a bem dizer, comi assim-assim.

É, com certeza, defeito meu nunca ter engraçado muito com o “Stop” e com o que ali nos era servido. Não era mau, mas nunca me recordo de nada de muito especial que por lá houvesse alguma vez comido. Mas havia sempre quem fizesse comentários superlativos, que, infelizmente, nunca encontrei razões para subscrever.

Tenho amigos que se mantinham verdadeiros fãs daquele espaço acanhado, onde estávamos todos em cima uns dos outros, em mesas coladas, sem a menor privacidade nas conversas. Era típico por isso, o que, num certo sentido, podia ser considerado simpático.

Pelas paredes do “Stop”, havia camisolas de jogadores de futebol, onde as referências ao Belenenses, clube da predileção do dono, tendiam a ser dominantes. A simpatia de quem servia às mesas era, aliás, a compensação pelo carão que o patrão sempre fazia questão de exibir, no que parecia ser uma apreciada marca da casa.

Se o “distanciamento social”, essa praga anticomunitária que por aí se instalou por via do vírus, acabar por vir a ser a matriz futura dos locais comerciais de convívio coletivo, não sei o que virá a acontecer a tanto espaços esconsos que existem por esse país fora, como era o “Stop do Bairro” (ou o “Baralto”, quem ainda se lembra?).

Esse mundo vai mesmo mudar? O importante é continuar a andar por cá, com o pretexto de assim poder constatar se isso acontecerá ou não. O resto é conversa fiada.

quarta-feira, abril 15, 2020

A carta de Rio


Rui Rui escreveu uma carta aos militantes do PSD. Nela se diz, por exemplo:

Dada a gravidade da situação - seja na vertente da saúde pública, da economia ou nos aspetos de ordem social que dentro em breve se irão agravar - temos todos de estar unidos e solidários, de molde a que o nosso País consiga enfrentar este combate com o menor número de vítimas e o menor desconforto possível.

Lamentavelmente, na vida política nem sempre essa união contra o inimigo comum acontece, pois, não raras vezes, aparecem os que não resistem à tentação de agravar os ataques aos governos em funções, aproveitando-se partidariamente das fragilidades políticas que a gestão de uma tão complexa realidade sempre acarreta.

Em minha opinião, essa não é, neste momento, uma postura eticamente correta. E não é, acima de tudo, uma posição patriótica. O que as pessoas querem (e bem!) é eliminar o vírus o mais depressa possível, dispensando uma instabilidade política que só dificulta o que já, de si, não é fácil de resolver.

Parece que muitos não estão a gostar daquilo que um líder que mostra ter sentido de Estado recomenda àqueles a quem falta isso e muito mais.

Extraordinário!


A inveja é uma “qualidade” que não me assiste, como dizia o outro. Até ver isto! A genialidade de quem organizou esta estante devia merecer um prémio! 

Rubem Fonseca


Detestava aparecer. Era uma das figuras mais geniais da escrita brasileira. No dia das mentiras de 1964, declarou-se ao lado dos “milicos”. Depois, com a censura por estes imposta, sofreu alguns dissabores. Morreu agora, com 95 anos. Chamava-se Rubem Fonseca.

Talvez Bolsonaro, se acaso soubesse quem ele foi, pudesse, em sua homenagem, enviar Mandrake para o lugar do Supremo por que Moro anseia. Afinal, já quase só falta dar uma oportunidade ao sub-mundo.

Um abraço a dois amigos


José Ferreira Fernandes e Catarina Carvalho demitiram-se de diretores do “Diário de Notícias”, como consequência da decisão da administração da empresa de efetuar alguns cortes drásticos, com efeitos no funcionamento do jornal.

Deixo aqui um abraço solidário a esses dois bons amigos, dois excelentes jornalistas, que tiveram a coragem de “agarrar” o jornal num tempo muito complexo. Logo que possível, Zé e Catarina, voltaremos ao nosso almoço no “Galito”.

O DN vai agora continuar, sob a direção de Leonídio Paulo Ferreira. Só lhe posso desejar muitas felicidades, bem como para o futuro do DN.

Um “nabo” em quarentena



Não tenho “stock” de lâmpadas. E fundiram-se já duas. Haverá por aí lojas de material elétrico abertas? Ou um “take-away” de eletricistas? O rebordo de madeira de uma janela abriu um buraco. Está tudo podre por dentro. Por onde andais, carpinteiros do meu país? Hoje, de manhã (vamos ser honestos, ao fim da manhã, porque os fusos mudaram muito, cá por casa), interroguei-me: e se o comando automático dos estores das portas/janelas para o jardim, que abro da cama (já tenho idade para ter estes luxos, não acham) para ver se está sol ou se faz chuva, se avariam? O “senhor dos estores”, como diria a minha empregada (que já não vejo há um mês e que só espero que esteja bem), estará disponível para cá vir, em caso desse desastre ocorrer? Até temo que falhe a pilha (deve dizer-se bateria?) da balança? Esta, no entanto, seria a única “tragédia” sem drama: não constataria o que tenho engordado, nesta quarentena, sem dieta pascal, como acontece aos ímpios.

Quando vivi na Noruega, tinha um amigo (que será feito de ti, Erik? E da Marta?) que construiu, ele próprio, a sua casa. Construiu? Sim, de cima abaixo, das fundações ao telhado. Uma moradia, que recordo bem confortável. Deve ser uma sensação muito boa, viver na casa que é produto do nosso esforço pessoal. Lembro-me bem de que, quando ele me contava, com o orgulho contido dos nórdicos, os pormenores dessa árdua tarefa, que lhe levou largos meses, muitos fins-de-semana completos, eu me sentia bem “pequeno”. Hoje, quando, apenas por premente necessidade, entro a medo num AKI, quando vejo alguns amigos dedicados, com amesquinhante êxito, às tarefas caseiras de “bricolage”, quando constato que “rebento” com um parafuso (acontece-me muito) porque usei, com a brutalidade dos nabos, uma chave de fendas (na minha terra, dizia-se “desandador”) inadequada, sinto um princípio de vergonha. Mas é só um princípio, porque passa-me logo: cada um é para o que nasce, não é? Se não é, eu faço de conta que é.

A bolsa e a vida


“Governar é escolher, por muito difíceis que sejam as escolhas”, disse Pierre Mendès-France. Lembrei-me da frase do antigo primeiro-ministro francês ao imaginar o que poderá ser, por estes dias, o dilema de quem nos governa, quanto ao tempo e ao modo de retoma da atividade do país, sem que tal ponha em causa a travagem da epidemia que a todos nos traz sob temor.

Uma decisão precipitada, forçada por quantos desesperam por ver a sua vida estiolada e a economia a degradar-se, poderia ter consequências trágicas, como o reacelerar da propagação do vírus, deitando a perder o esforço feito. A clausura cautelar feita doutrina, que seria realmente a única receita infalível para prevenir a disseminação, teria como consequência pôr o país num insustentável “coma induzido”. Conseguir encontrar o ponto de equilíbrio razoável entre ambas as perspetivas, garantindo que o estado da bolsa de cada um não se deteriora a extremos, sem pôr em causa a sua própria vida, é a decisão que hoje se pede a quem dirige o país.

Há muito que uma classe política se não via confrontada com um desafio desta dimensão, porque nunca, na existência coletiva dos portugueses de hoje, tinha ocorrido algo de tão dramático.

Num tempo como este, exigir-se-ia uma extrema racionalidade nas decisões, baseada em pareceres técnicos irrefutáveis. Se a racionalidade é sempre um bem escasso num ambiente emocional, com muitos mortos e vidas em risco, o rigor científico incontestável tem visivelmente escasseado. É assim um pouco por todo o mundo, o que justifica que as políticas seguidas estejam longe de ser uniformes. É que os especialistas em quem se apoiam os decisores políticos vivem, eles próprios, numa navegação à vista, lendo os sinais que retiram de exemplos alheios, aprendendo com as más e as boas práticas, incorrendo, aqui ou ali, em inevitáveis contradições, que a cruel memória da informação se compraz em relembrar.

Esse é o pasto ideal para a chicana política, ansiosa por escapar da “quarentena” de relativo silêncio a que um mínimo artificial de decência a confinou, e que hoje vive à cata de hipotéticas faltas à verdade. É também disso que alimentam os adeptos do “não é por acaso que”, que têm as suas horas de glória nos antros de “bitaitismo” que são as redes sociais.

Não invejo o papel do presidente ou do primeiro-ministro. A ambos deixo outra definição, também de um politico francês, desta vez François Mitterrand: “Governar não é agradar“. É ter a coragem de fazer o que acham certo, digo eu.

terça-feira, abril 14, 2020

Maria de Sousa (1939-2020)


Morreu hoje, vítima do vírus que por aí anda, a cientista Maria de Sousa, uma grande figura da investigação portuguesa, com projeção internacional.

Conheci-a há uns anos, quando ambos fizemos parte do júri do Prémio Universidade de Coimbra. Cruzámo-nos depois algumas vezes mais, guardando dela uma imagem de fina inteligência e um humor delicado.

segunda-feira, abril 13, 2020

Notas da rotina


Desde que me reformei, isto é, desde que passei a ”ex-reformado”, a minha vida profissional deixou de ser “from-nine-to-five”, como até então fora, por décadas.

Os dias da semana passaram a ser sempre atípicos: em alguns, com reuniões de manhã bem cedo, outras vezes da parte da tarde. Numas ocasiões, torna-se essencial usar gravata, mesmo fato completo, às vezes chega um traje mais leve, até jeans. Muitas vezes havia viagens, “lá fora” ou pelo país.

Quando dava aulas em universidades, havia horários a cumprir - uns matutinos, outros ao final da tarde, outros noturnos, alguns até bem tarde. Um dia, cansei-me de dar aulas. Ponto final, de vez. O mesmo aconteceu com um programa que regularmente fazia na RTP. No termo de uma gravação, uma tarde, saiu-me: “Foi o último! Não me apetece fazer isto mais!” E, desde então, não fiz.

Já tentei assumir uma atitude idêntica face outras atividades que me tomam muito tempo e paciência, mas fui dissuadido, com amiga insistência, de ir avante com a minha decisão de parar com elas.

Há ainda, é claro, as palestras, as conferências, as aulas esparsas - mas essas são isso mesmo, esparsas, “quando o rei faz anos”. Isso, às vezes, até pode ter alguma graça, outras vezes implicam um trabalho prévio pesado. Estou a começar a aprender a dizer que não. Até nas idas às televisões, para comentários; só vou quando (julgo que) possa ter alguma coisa a dizer.

As tertúlias, essas, variavam: cheguei a ter uma às nove e meia da manhã, as restantes eram (e voltarão a a ser, ora essa!) à mesa, ao almoço ou ao jantar. Mas, com duas exceções, era tudo aperiódico. Por isso, cada dia meu era diferente do outro. O facto de, de quando em quando, eu almoçar em casa acabava por ser tão raro que se chegava a abrir um vinho, só para celebrar essa raridade. Talvez só a escrita no blogue (e, por tabela, no Facebook e no Twitter) e nos jornais se aproximasse de uma rotina - mas, mesmo essa, sem horas marcadas.

Neste mês que passou, percebi, finalmente, o que podia ser ter uma rotina de vida. É claro que há teleconferências, relatórios a ler, textos a produzir, pareceres a dar. Há ainda telefonemas, que nos caem no meio de tudo (como caíram enquanto escrevia este texto), como se o tempo tivesse parado e eu tivesse de estar “on call”, em permanência. 

Mas, no essencial, por estes dias, vivo, cada vez mais, com rotinas simplórias. Até no uso alternado das dependências da casa, no regar do jardim (quando a chuva não faz isso por mim), no pôr comida à passarada (só agora percebi que os melros não deixam comer os pardais, há por ali uma “luta de classes”), na ajuda em algumas tarefas da casa, no (demasiado lento) destruir dos papéis antigos. Ando com uma vida muito mais arrumada. Mais calma? É. Mas, acreditem, estou mais do que “morto” por desarrumá-la!

America, America


Os portugueses

Os portugueses gostam muito de falar dos portugueses. Dizia um certo aristocrata, há dois séculos: “Os portugueses hão-de ser sempre os mesmos, até porque não há outros...”

domingo, abril 12, 2020

Esta outra Páscoa

O cabrito não era, como costuma ser, da dona Rosa, ali à beira da Tosta Fina, lá por Vila Real. Desta vez, não houve folar da Seramota, que se ia buscar a Mirandela. As únicas contribuições da região foram uns sólidos contributos líquidos: um extraordinário “Abandonado”, oferta muito antiga do meu amigo, dono e senhor da Quinta da Gaivosa, Domingos Alves de Sousa. E um “shot” de um “late harvest” Grandjó, para ir com o “foie-gras”. A família, desta vez, não esteve à volta da mesa, mas à distância de uma video-conversa. A Páscoa, nestes tempos de confinamento, é em Lisboa, como um homem e uma mulher quiserem. Ou puderem! 

E esta?

E a imprensa que traz anúncios de prostituição, como se estivéssemos em tempos de “business as usual”?

PAN ?

Começo a estranhar não ver protestos do PAN, ao ter sido já amplamente anunciado que, nos testes para a descoberta da vacina contra este vírus, estão a ser usadas cobaias. Ou há coerência...

O caminho de Moss


A rua, que depois passa a estrada, chamava-se, e chama-se, Mosseveien. Significa, literalmente, “caminho de Moss”, sendo que Moss é uma localidade a sul de Oslo. 

Estávamos na Noruega, em 1981. Eu conduzia o meu carro. Comigo ia o vila-realense Álvaro Magalhães dos Santos, que desde há muito tinha migrado para Lisboa, ali de visita. Quando lhe disse que estávamos no “caminho de Moss”, esse meu amigo reagiu: “Quem não deve gostar desta estrada é o Behra!”. As nossas “respetivas” ficaram a olhar para nós, sem perceber. Nós sorrimos, crípticos.

Em 1958, Stirling Moss venceu o circuito internacional de Vila Real. Jean Berha ficou no segundo lugar no pódio.

Moss era uma estrela da Fórmula Um, sendo que a história da competição automóvel o consagrou como o grande campeão que nunca conseguiu ter um título mundial. Behra, comparado com ele, como “corredor de automóveis”, estava a grande distância.

As “corridas” de Vila Real, por esse tempo, trazendo à cidade algumas figuras relevantes do automobilismo mundial, não contavam para qualquer prova. Eram apenas exibições, embora magníficas.

Só muitos anos mais tarde vim a saber que esse resultado, em 1958, tinha sido combinado, que a vitória de Moss sobre Behra já estava decidida à partida. Senti-me frustrado. Não sei se cheguei a comentar isso com o Álvaro, que já se foi há muito.

Repito aqui a fotografia, a cores!, de Moss e Behra, em Vila Real. Moss à frente, Behra já atrás, como combinado.

Stirling Moss morreu hoje, aos 90 anos. Behra morreu, num acidente numa prova, em 1959, no ano seguinte à sua presença em Vila Real.

Boa Páscoa para todos!


sábado, abril 11, 2020

Regiões?

Em escassas semanas, certos comportamentos que por aí se têm visto contribuiram para me convencer, julgo que em definitivo, de que alguma simpatia que eu tinha vindo a criar face à ideia da regionalização era uma atitude errada.

Votos de saúde

Percebo o desespero de alguns autarcas, pela situação que se vive nos seus concelhos. Mas passa a ideia de tentarem cavalgar a crise com fins políticos, ao entrarem numa “guerra” com o Ministério da Saúde, que só contribui para a instabilidade psicológica dos seus cidadãos.

Proteção de dados

Parece estar a ser aceite acriticamente, neste ambiente de crise, à escala global, o rastreamento individual e a coleta informações pessoais. Não deveria estar já a haver uma atenção paralela sobre a questão da proteção de dados? Não podemos esquecer a “saúde” da democracia.

Viva a República!


Havia de ser o bom e o bonito se alguém se lembrasse de colocar no Rossio uma fotografia com uma frase de confiança do chefe do Estado português!

Distância


Já se percebeu que, este ano, a Volta a Portugal em bicicleta só vai ter contra-relógios, para assegurar a manutenção da distância social.

Reforçar a cooperação? Com quem?

(Dedicado ao Tiago Moreira de Sá)

Por ocasião das negociações dos tratados de Amesterdão e de Nice, regressou ao debate europeu a questão das chamadas “cooperações reforçadas”, também chamada de “integração diferenciada” ou de “Europa a várias velocidades”. O tema já andava nas conversas há vários anos. Alguns lembrar-se-ão também da tese dos “círculos concêntricos”. Por que surgiu e, depois, ressurgiu?

Na lógica comunitária original, todos os países deviam avançar ao mesmo tempo, com a Comissão Europeia no centro, como impulsionadora das políticas comuns e das propostas para o seu aprofundamento, que teriam de passar depois pelo Conselho (isto é, pelos governos nacionais) para aprovação.

A Europa original, dos “seis”, tinha, além de um corpo modesto e pouco ambicioso de políticas, uma relativa homogeneidade em termos de desenvolvimento. Em todos os membros desse “clube de ricos” (comparado com o resto do continente) havia regiões mais pobres, para cuja tentativa de “ratrappage” da média de desenvolvimento das restantes regiões foi criada a “política regional”, no fundo, medidas de discriminação positiva para as favorecer, através da alocação de fundos. E, claro, havia também a “Política agrícola comum”, a famosa PAC, que levava quase metade do orçamento comunitário, mas que era considerada “identitária” pelos que “mandavam” nas Comunidades Europeias (leia-se, Alemanha e França).

Os alargamentos significaram a entrada no “clube” de sócios com diferentes ideossincrasias. O Reino Unido, que tinha decidido inicialmente permanecer fora do projeto, para proteger a sua identidade e autonomia decisória, percebeu, durante o período áureo das “trente glorieuses” (“années”, os trinta anos iniciais de grande sucesso do projeto), que, por razões estritamente económicas, não podia ficar de fora. A França, o mais vitorioso de todos os derrotados na Segunda Guerra, que percebia que tinha a “inferioridade” alemã nas suas mãos, resistiu quanto pôde a que Londres aderisse. Mas o mercado britânico, importante para os alemães, acabou por se impor.

Viria a entrar também a Dinamarca, embora sempre muito desconfiada do imenso vizinho germânico do Sul. Depois, pela sua imbricação inescapável com o Reino Unido, a Irlanda integrou o grupo. Trazia consigo a primeira exceção: era o único não-membro da Nato. O fim da ditadura na Grécia dos coronéis levou a que um segundo país pobre (depois da Irlanda) entrasse no ”clube dos ricos”. O preço era, contudo, barato: a densidade das políticas, por esse tempo, era muito limitada, pelo que os custos desses alargamentos eram marginais.

O fim das ditaduras ibéricas levou a um novo esforço. Tal como no caso grego, havia que apoiar essas duas novas democracias, reforçar a sua estabilidade, o que era também um interesse geral da paz europeia. Mas eram, igualmente, novos mercados não despiciendos para os produtos da Europa desenvolvida - 50 milhões de habitantes. Portugal, pela primeira vez, ficava num corpo de alianças comum com a Espanha, mas poucos por cá notaram isso.

Caiu, entretanto, o muro de Berlim. E alguns Estados neutrais que, nunca tendo estado sob a tutela de Moscovo (alguma doutrina divide-se quanto ao caso da Finlândia), pediram a adesão, para ficarem sob o chapéu tutelar da Europa das liberdades e da economia de um mercado que, centrado em Bruxelas, parecia caminhar para vir a ser uma grande potência autónoma, quiçá mesmo política, no termo da Guerra Fria. Não eram membros da Nato, para a qual a Espanha fora já cooptada? Isso contava menos, num tempo em que se pensava que a Rússia ia ser “outra”, pelo que não impedia que, com a Irlanda, viessem a dar força a uma ala “neutralista” dentro daquilo a que se passou a chamar-se, entretanto, União Europeia. Aliás, vendo bem as coisas, funcionavam já numa espécie de “neutralidade colaborante” para utilizar a designação hipócrita cunhada pelo oportunismo de Salazar, durante o conflito de 1939/1945.

Por essa altura, e regresso à questão inicial, começou a constatar-se que alguns parceiros pareciam não estariam disponíveis para avançarem à velocidade dos outros. O corpo de políticas comunitárias ia-se aprofundando e aquilo que passou a decidir-se em Bruxelas era cada vez mais relevante. E um órgão proto-parlamentar, inicialmente meramente retórico, como era o Parlamento Europeu, passou a reclamar poderes e a decidir, cada vez mais, com base na representatividade demográfica dos Estados. Ora isso afetava o equilíbrio original dentro do “diretório”, que tinha voto igual no Conselho e o direito a indicar dois comissários europeus, ao contrário dos restantes Estados. A “décrochage” entre as potências que, na Europa, fazem o papel de grandes desagradava a Londres, mas também a Paris.

O Reino Unido, claro, mostrou-se logo à frente de todos os relutantes. Embora fosse um dos vencedores da Guerra Fria, como potência subsidiária do “amigo americano”, a ideia de uma “Europa-potência”, que, com razão, pressentia ir ser tutelada pelo “eixo franco-alemão”, que o Tratado de Maastricht prenunciava, não lhe agradava, tanto mais que o via como desafiador desse poder que era a sua “special relationship” com o outro lado do Atlântico. A sua vontade de promover, com rapidez, um imenso alargamento aos Estados saídos da anterior tutela soviética demonstrava bem o que desejava que a futura Europa viesse a ser. E os seus “opt-out”, garantidos em Maastricht, tidos como vitórias da soberania de Westminster sobre a tendência centralista da rue de la Loi, lá por Bruxelas, faziam pressentir a sua resistência ao aprofundamento do projeto. A sua auto-exclusão do chamado “protocolo social” havia, aliás, representado a sua verdadeira primeira “fuga” ao “template” comum. O Brexit, anos mais tarde, representaria o “opt out” final.

Já antes disso, também o acordo de Schengen, que (recordo) não era comunitário, causara engulhos a Londres. Se o Mercado Interno, que o Ato Único Europeu consagrara, era do seu pleno interesse, a “quarta liberdade”, que era a livre circulação de pessoas (depois das mercadorias, dos capitais e dos serviços - terrenos onde só tinha a ganhar), contrariava o seu perfil orgulhoso e controlador de ilha soberana. Relutantemente, porque a geografia é o que é, a Irlanda teve então de ir pelo mesmo caminho. Outros países ficaram também de fora, menos por vontade própria e mais pelo facto dos outros não confiarem na sua capacidade de controlarem a porosidade das suas fronteiras. Foi o caso da Itália e da Grécia - e sei do que falo, porque presidi a longas reuniões em que foi fixado o “road map” que viria a permitir a sua posterior entrada.

E, depois, claro, temos o caso do euro. Alguns países entenderam que a adesão a uma moeda única europeia feria uma sua marca de soberania tida por essencial. Reino Unido, Dinamarca e Suécia, dentro da Europa “a quinze”, decidiram não fazer parte do projeto. Outros, dos futuros alargamentos, pensaram de forma diferente e juntaram-se à moeda comum.

Na realidade, por muito que se fale hoje de ”cooperações reforçadas”, e tendo embora havido casos posteriores de agregação de países em torno de certas políticas, a realidade é que Schengen e o euro ainda são, na prática, aquelas que realmente contam. Teremos, de futuro, outros modelos na defesa, mas os seus contornos efetivos estão ainda por definir. Os mecanismos das “cooperações reforçadas” que os tratados de Nice e de Lisboa prevêm distinguem-se, aliás, destes modelos, que o linguarejar europeu crismou como “cooperações reforçadas pré-determinadas”. Sempre fui de opinião de que as “cooperações reforçadas” funcionavam mais como uma espécie de “ameaça” para forçar alguns a seguirem o caminho dos outros, acenando com os riscos decorrentes da sua não inclusão. 

Vale a pena lembrar que Portugal esteve, desde o primeiro momento, em todos os modelos de integração diferenciada. Foi sempre, da nossa parte, uma decisão essencialmente política. Sendo um país geográfica e economicamente periférico, um juízo de razoabilidade levou diferentes executivos portugueses a considerarem que “falhar” a essa “chamada”, logo no momento inicial, seria um erro histórico, porque poderia configurar oportunidades perdidas. Ficar fora do “comboio” da integração plena, para um país muito frágil, em todos os domínios, como Portugal sempre foi e continua a ser, poderia ser um “suicídio” irresponsável. Não tenho hoje a menor dúvida de que estivemos certos ao tomar essas decisões.

A Europa vive hoje sob pulsões de desagregação, quiçá sob tentações de agregação “separatista”, de raiz voluntarista, motivadas por um ambiente raro de crise e acrimónia. Não tenhamos ilusões: por muito que proclamemos o nosso europeísmo “à outrance”, por muito “beneluxenses” que nos queiramos mostrar, o original valerá sempre mais do que a cópia... Mas quem é que mede isso, perguntarão alguns, de “peito feito”? A Alemanha. Berlim é o proprietário da “árvore genealógica” da família europeia. E a França? A França é dona dos castelos de uma aristocracia arruinada e tomara Macron conseguir controlar os seus “gilets”, que têm a cor do sorriso com que hoje enfrenta Angela Merkel nos Conselhos Europeus. 

Façamos todo o “barulho” que entendamos dever fazer, coloquemos todas as nossas cartas de responsabilidade sobre a mesa, mas, neste tempo sem futebol, lembremo-nos sempre da frase histórica de Gary Liniker: “O futebol é um jogo de 11 contra 11 em que, no final, ganha sempre a Alemanha”. E é ela que, nas últimas décadas, escolhe os jogadores, nunca o esqueçamos também! 

Essa é que é essa!


A brincar, a brincar, a verdade é que o Sporting já não sofre um golo há um ror de semanas.

Essa é que é essa, embrulhem!

Felizes são os donos da verdade!


Há quem tenha tido a sorte de, um dia, ter descoberto a verdade. Matutou muito e concluiu, depois dessa longa reflexão, que o mundo é assim: os maus estão de um lado e os bons estão do outro. E sabe, de ciência certa, quem são uns e quem são outros, tudo já sem a menor sombra de dúvida. Deve ser bem confortável viver assim.

Há muitos anos, recordo-me de que havia na “Seara Nova”, já no pós-25 de abril, uma figura que, todos os meses, como arauto desse maniqueísmo limite, teclava uns exercícios de estilo em que explorava o género, numa linguagem muito adjetivada. O nome desse escriba não vem aqui ao caso. Havia lutado contra a ditadura, mas o saldo de Abril não era bem aquilo que ele tinha desejado, e, por ter tido entretanto a “revelação” da tal verdade, sentia-se autorizado, do alto do seu mal-estar, a zurzir meio mundo. Elegera, em particular, alguns inimigos de estimação. Porque isso lhe seria incómodo, à luz de algumas cumplicidades passadas, não lhes referia o nome, andava por ali à volta, tudo “à bon entendeur”.

Esses detentores da verdade voltam a cirandar por aí, imagina-se que com o mau génio agora potenciado pelo confinamento. São invariavelmente ácidos, sempre irados, detetando conspirações, na eterna lógica do confortável “não é por acaso que”. Aliam-se ao diabo, se necessário for, para defenderem a sua dama. Sendo os donos da verdade, não deveriam andar felizes? Mas, pelos vistos, não andam. Que se há-de fazer?

sexta-feira, abril 10, 2020

Europa

Apontas para o rosto sarcástico do sol de Inverno
E disparas. Há tantos meses que não chove – reparaste?
É o próprio céu a desistir de ti. E mesmo assim tu disparas, só sabes disparar.
Estás enganada, Europa. Envelheceste mal e perdeste a humildade.
Não é contra o sarcasmo que disparas, não é contra o Inverno,
Nem sequer contra o insólito, contra o desespero.
Tu disparas contra a luz.
Podes atirar-nos tudo à cara, Europa: bombas, palavras, relatórios de contas.
Podes até atirar-nos à cara um deputado, uma cimeira.
Mas os teus filhos não querem gravatas. Os teus filhos querem paz.
Os teus filhos não querem que lhes dês a sopa. Os teus filhos querem trabalhar.
Há tantos meses que não chove – reparaste?
A terra está seca. Nem abraçados à terra conseguimos dormir.
Enquanto te escrevo, tu continuas a fazer contas, Europa.
Quem deve. Quem empresta. Quem paga.
Mas os teus filhos têm fome, têm sono. Os teus filhos têm medo do escuro.
Os teus filhos precisam que lhes cantes uma canção, que os vás adormecer.
Eu acreditei em ti e tu roubaste-me o futuro e o dos meus irmãos.
Se estamos calados, Europa, é apenas porque, contrários ao teu gesto,
Nós não queremos disparar.


Filipa Leal

José Augusto Duarte


As estruturas diplomáticas tendem a ser os bodes expiatórios prioritários da má vontade que, ciclicamente, se abate sobre o serviço público. Por isso, fiquei muito satisfeito por ter visto reconhecido na imprensa o magnífico trabalho desenvolvido, nesta crise, pela nossa embaixada na China.

O embaixador José Augusto Duarte, que dirige aquela missão diplomática, é um experiente profissional, com brilhantes provas dadas em todos os postos onde esteve colocado, de que a embaixada em Maputo foi um exemplo notório, mas igualmente nas funções de assessoria que exerceu junto do presidente da República.

O seu desempenho, neste momento complexo, honra o serviço diplomático, prestigia a carreira de que faz parte e é um belo exemplo da excelência do serviço do Estado.

Um forte abraço de felicitações, José Augusto! “And take care!”

Bernardo Pires de Lima

Leio no "Expresso" que Bernardo Pires de Lima vai para Bruxelas, reforçar a equipa de António Costa. É uma excelente notícia. O pr...