Imagino que o Partido Socialista esteja a viver, como será natural, um momento de alguma interrogação quanto ao futuro, em função dos resultados eleitorais e da necessidade de escolher uma nova liderança. Mas, que eu saiba, o PS não vive nenhuma crise de identidade.
Gostava, contudo, de dizer que o património político do partido estaria em seriamente em causa se acaso alguém, dentre as suas figuras com alguma responsabilidade (não me refiro aos espontâneos habituais, que fazem a alegria dos que não gostam do PS), viesse a dar o mínimo aval a qualquer proposta oportunista de revisão constitucional, oriunda dos suspeitos do costume, com "velhos e relhos" objetivos.
Se tal acontecesse, esses socialistas estariam a dar mostras de não ter percebido que o óbvio propósito da discussão agora lançada em torno da Constituição é, pura e simplesmente, tentar toldar a comemoração do seu cinquentenário em 2026 e envolver o histórico documento num manto de polémica, numa espécie de "révanche" contra o texto que consagra o 25 de Abril e os novos equilíbrios que dele resultaram. Espero, aliás, e não sentado, que nos setores social-democratas do PSD isto seja também entendido.
8 comentários:
Só para lembrar que o PS já colaborou em 7 revisões constitucionais. Sempre com o argumento de a melhorar. Por que não mais uma ? Assim se vai alisando o caminho da direita até dar o que se vê.
E a nossa " tão querida comunicação social , tão alinhadinha como um rebanho , já transformou o assunto no grande problema que o país tem para resolver ; quanto ao PPD/PSD , não estou muito crente !
Eu falei de "proposta oportunista".
As revisões são feitas com a direita com o argumento de evitar a extrema direita. Como esta vai elevando a fasquia as propostas contrárias aparecem sempre como uma Justificação aceitável de um “partido responsável”. De capitulação em capitulação sempre com sentido de responsabilidade.
Francisco, eu reparei que você falou em "proposta oportunista". O problema é, como distinguir as propostas oportunistas das que não o são???
Esperemos, pois.
Mas isto está numa fase tão inquinada que nunca se sabe.
Em Democracia, as derrotas nunca acontecem no dia das eleições - o seu dia de gala - mas antes ou depois. E depois de três Governos PS e uma saída absolutamente extemporânea de Antonio Costa, PNS não chegava a PM nem pintado de ouro. E a alternativa democratica também é o bem mais valioso da Democracia. E também é pelo ciclo político que a mudança de lider do PS não faz qualquer sentido. Num ciclo em que seja quem for o líder do PS, primeiro tem que ganhar o país como lider de oposição. A génese e a essência da Democracia Parlamentar. E duvido muito que seja quem for o próximo lider o consiga, pelo que o mais importante é defenir uma estratégia de oposição inteligente para o país.
Menos de 1 ano não é tempo suficiente para o Govt nem para o líder da oposição se afirmar. Nem para um treinador de futebol. E um Ministério não é a mesma coisa que ser PM ou liderar um Governo. E infelizmente o país também não se mostrou muito incomodado com a falta de honestidade de Montenegro. Já o PNS prestou um grande serviço ao país ao mandar para o banco o SSP. Porque uma coisa é a crítica saudável no interior dos partidos ou até a dissidencia externa dentro da liberdadede expressão, outra é integrar consecutivamente a lista de deputados de quem se está tão longe “ideologicamente”. O que até costumava ter um “nome” em Portugal. Sobretudo agora que podem continuar a correr por fora nos comentários das televisões.
Finalmente e apesar da herança do crise financeira e dos anos duros da Covid, acho lamentável que António Costa não tenha estabilizado mais o SNS e sobretudo resolvido o terror da habitação em Portugal. Dois direitos inscritos na Carta dos Direitos humanos da ONU. Porque uma economia barata também fornece competitividade à economia e às empresas, porque não precisam de pagar salários tão altos para pagar uma renda ou comprar uma casa à especulação imobiliária. E a demografia continua a ser o maior problema de Portugal e da Europa.
Vamos lá ver uma coisa, a haver uma revisão constitucional é perfeitamente legítima, à semelhança das anteriores. Se se trata de oportunismo, não sei, mas a nova configuração parlamentar tem toda a legitimidade para o fazer. Também já houve maiorias noutras legislaturas para fazer aprovar assuntos altamente divisivos e polémicos como o aborto e a eutanásia. Agora se o PS deve ficar de fora, considero evidentemente que não.
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