Se eu me atrevesse agora a efabular por aqui que, nesse final de tarde, tinha sido levado por uns amigos à inauguração do lugar, aposto que ninguém ousaria contrariar essa minha versão fantasiada dos factos. E, na "net", ficaria, para sempre, um belo número "social" do escriba deste blogue.
Só que tudo isso seria rotundamente falso. E eu não "pinto" as histórias que conto por aqui. Não, não estive na inauguração do Procópio. Nessa tarde, devo ter saído do meu emprego de funcionário bancário, no Calhariz, e, com grande probabilidade, devo ter passado pelo bar da livraria Opinião, perto da Trindade, onde então ia beber a minha Cuba Libre, coisa muito na moda. Depois, fui quase pela certa jantar a casa, nos Olivais. Antes da noite fechar, terei ido beber um café ao Montecarlo, perto do Saldanha. E devo ter regressado a penates no autocarro 21, antes da meia noite, porque a Cinderela aplicava então o rigor dos seus horários aos funcionários públicos cumpridores. E eu era um deles, desde o ano anterior.
Posso confessar uma coisa? Nem sequer sei bem quando fui pela primeira vez ao Procópio. De uma coisa estou seguro: só fui seu frequentador habitual muitos anos mais tarde.
Ontem, para rememorar, e porque à segunda-feira aquilo está mais sereno (e mais amável), voltei ao Procópio, à Mesa Dois, lugar geométrico onde, na vida, passei uma imensidão de horas, a débito do meu fígado e a crédito das minhas amizades. Ali estive com a Sofia, filha da Alice e do Luís. Não estava a irmã, a Maria João. Mas já não pude ter ali, naquela festa discreta, a minha querida amiga Alice, mãe de ambas. Este ano, ao contrário do ano passado e de ocasiões anteriores, a Alice já não vai estar connosco, no nosso jantar da noite de Santo António.
Esta foi uma comemoração diferente das que fizémos em outros anos. Mas, cerca da meia noite, tivemos o gosto de ter na Mesa Dois a Ana Viegas, essa sim, testemunha presencial da noite de abertura do bar, em 1972. Agora, já sem a figura sorridente e sempre simpática Júlio Moreira ao seu lado.
O Procópio de hoje é diferente? O Procópio não muda. Nós é que já não somos os mesmos. E, além disso, somos cada vez menos.
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