A doutrina continua a não ser pacífica em torno da origem do cognome de “Bomba”, que lhe é carinhosamente dado pelos amigos. A ideia de que isso possa derivar do recorte físico a que os frequentes ágapes, com o tempo, possam ter conduzido o seu apolíneo perfil, está há muito afastada. Porque sim, pronto!
O meu amigo José Luiz Gomes, é dele que falo, é um dos mais finos espíritos diplomáticos que me foi dado cruzar, nas décadas que passei nos claustros das Necessidades. O facto de ter tido o privilégio de cruzar zonas do mundo muito diversas, de Washington a Moscovo, da Austrália ao Zimbabwe e outros interessantes postos, dotou-o de um quadro interpretativo da realidade internacional, o qual, associado a um espírito nada dogmático e a um sentido autocrítico invejável, lhe permite decantar leituras de extremo bom senso e grande realismo. Não foi seguramente por acaso que Francisco Pinto Balsemão, como primeiro-ministro, o teve como seu indispensável assessor diplomático.
Mas não é do embaixador de excelência que hoje quero falar, mas sim do grande amigo, que acaba de completar os 80 anos, uma idade redonda que um bando heteróclito à sua volta ontem celebrou, num Nobre lugar, com muito e bom barulho, vários e animados brindes, como sempre com muitas “piquenas” por perto, em que esteve em especial destaque a mesa das “bombettes” - um oásis doirado de riso e boa disposição.
O Zé é uma das pessoas mais bem dispostas e divertidas que conheço. Sempre pronto para alinhar numa festarola ou numa conversa bem alimentada e melhor regada, culminada pela inevitável nuvem de fumo com que muitas vezes desafia as regras dos locais, ele é também o persistente mobilizador de um grupo de colegas que, há mais de uma década, se reúne semanalmente - é verdade, semanalmente!, apenas com as pausas a que o calendário, às vezes, obriga - numa almoçarada, sempre com um quorum máximo definido, para não “partir” a conversa à mesa.
Por ali falamos da vida, às vezes da profissão que nos uniu, do dia-a-dia e até de política, vejam lá! Como episódicos convidados para essas ocasiões, já por lá estiveram antigos presidentes e ministros, vários colegas e outra gente sempre interessante. A nossa ”Chatham House rule” é: não há, por ali, conversas chatas! Também não temos qualquer agenda, só histórias e opiniões, sempre sem o menor radicalismo e com respeito pelas diferenças de perspetiva. É graças ao Zé, o grande maestro da orquestra, que hebdomadariamente nos convoca por SMS e que decide a “venue” em função do tamanho da mesa, que a nossa vida na reforma fica (ainda) mais alegre e divertida.
Tenho ainda o privilégio de, com o Zé, ser o único membro do grupo a fazer parte de uma outra tertúlia, a da “Mesa Dois” do Procópio (onde a pandemia nos pôs num “lay off” que agora acabou), superiormente gerido pela “Sedona” Alice Pinto Coelho, uma imensa amiga do Zé. Contudo, é no Procópio que uma grande divergência se cava entre mim e o Zé: não coincidimos no destilado escocês que nos enche os balões, como o Luís avisadamente bem sabe. É a vida!
Sei que a amizade não se agradece, mas eu não me contenho e digo: obrigado, Zé! Sem ti, tudo isto tinha muito menos graça.
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