Joe Biden tinha anunciado, ainda antes da sua eleição, a intenção de fazer uma Cimeira das Democracias, logo no primeiro ano do seu mandato.
Assim, nos dias 9 e 10 de dezembro, um grande exercício telemático terá lugar, sob convite do presidente americano, envolvendo 77 países.
Dois deles não são membros da ONU: o Kosovo, já com independência declarada mas só reconhecida por alguns, e Taiwan, uma democracia também sem o estatuto de membro da ONU e que os EUA sempre consideraram, formalmente, ser um território da “única” China).
As Nações Unidas têm, nos dias de hoje, 193 países. Descontados o Kosovo e Taiwan, fica a saber-se que Washington acha que há 118 países que não cumprem os “mínimos” para serem considerados democráticos (tirando o Butão, Andorra, Mónaco, Lichtenstein e São Marino, que, pelos vistos, não se “veem” da América, embora todas as ilhotas do Pacífico e Caraíbas por ali estejam).
Tem alguma graça olhar constatar que, nessa matriz de generosa escolha, se irão encontrar grandes expoentes democráticos como são Rodrigo Duterte, das Filipinas, ou Jair Bolsonaro, do Brasil.
Atenta a lógica dessas e de outras presenças, é legítimo estranhar algumas ausências: Marrocos, Bósnia-Herzegovina, Jordânia. Outras, embora esperadas, como a Turquia e a Hungria, não deixam de ser de notar.
Nenhum país no norte de África figura na lista dos convidados, tal como acontece com qualquer monarquia do Golfo. E Moçambique, a par da Guiné-Bissau e a Guiné Equatorial, é um Estados membros da CPLP que não foi escolhidos.
Joe Biden só por demagógica precipitação se deixou enredar neste estranho e inútil exercício seletivo.
A pergunta é, eu sei!, uma impossibilidade absurda, mas merece ser feita: se a América ainda estivesse no tempo de Trump, com o seu sistema eleitoral “in shambles” e um Capitólio sob ataque de uns maluquinhos estimulados pelo chefe do Estado, será que seria convidada para a cimeira?
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