A partir de ontem, a RTP passou a ter uma nova administração. Preside ao Conselho de Administração Nicolau Santos, um jornalista credenciado, com anteriores cargos de elevada responsabilidade desempenhados em órgãos privados e públicos de comunicação social. Compõem ainda a administração Hugo Figueiredo e Ana Dias Fonseca, que já integravam a anterior administração, a qual, nos últimos seis anos, havia sido chefiada por Gonçalo Reis.
Recordo que, desde 2015, num modelo de governação desenhado pelo então ministro Poiares Maduro e aprovado maioritariamente pela Assembleia da República, a administração da RTP passou a ser designada por um Conselho Geral Independente (CGI), um órgão integrado por seis personalidades - duas indicadas pelo governo, duas pelo Conselho de Opinião (um órgão com 32 membros, designados por diversas entidades) e duas outras cooptadas pelos quatro primeiros.
O CGI, um órgão hoje com paridade de género, presidido por um prestigiado professor de Direito, o doutor José Carlos Vieira de Andrade, é composto por personalidades muito diversas, na sua formação e perfis pessoais, pelo que a unanimidade que sempre tem estado patente em todas as suas decisões constitui um sinal importante do rigor que marca o seu trabalho.
Desde 2018, tive o gosto de integrar o CGI, tendo assim sido co-responsável pelas escolhas feitas para duas sucessivas administrações da RTP.
No ano de 2018, foi renovado o mandato de Gonçalo Reis e escolhemos, através de um processo de seleção que implicou o recurso a uma empresa de recrutamento de recursos humanos, os dois restantes administradores. Dos vários nomes possíveis que então considerámos, foram selecionados, atendendo aos seus perfis e currículos, os nomes de Hugo Figueiredo e de Ana Dias Fonseca. Entre 2018 e 2021, eles formaram, com Gonçalo Reis, a administração que passou a conduzir a RTP.
Três anos mais tarde, para a escolha da nova administração, no mandato de 2021 a 2023, o CGI decidiu seguir uma metodologia diferente: abriu a possibilidade ao surgimento de candidaturas, quer espontâneas, quer estimuladas, a serem-lhe apresentadas através de uma outra reputada empresa especializada em recrutamento de recursos humanos, que o CGI contratou para o assessorar.
Não se tratava, contudo, como algumas notícias menos bem informadas foram adiantando, de um qualquer concurso, nem sequer de uma seleção ou “short list” elaborada pela empresa contratada. A esta pediu-se apenas que recolhesse e apresentasse ao CGI todas, repito, todas as candidaturas que lhe tivessem sido apresentadas, fosse espontaneamente, fosse através do seu estímulo a que profissionais qualificados pudessem interessar-se em vir a exercer aquela função.
O CGI poderia vir a escolher uma de entre todas essas candidaturas, às quais se pedia a apresentação de um projeto estratégico para a RTP, mas, no limite, não abdicava da possibilidade da escolha final poder ser feita fora desse mesmo universo, se acaso nenhuma dessas candidaturas se revelasse adequada.
Cada candidatura deveria indicar dois nomes para a administração, um dos quais para presidente e outro para vogal, sendo a designação do terceiro elemento, encarregado do pelouro financeiro, feita posteriormente pelo CGI, mas, e só neste caso, sujeita ao parecer prévio e vinculativo do Ministério das Finanças.
Todo este método foi público e divulgado em pormenor pelo CGI, bem como pela própria empresa de recursos humanos que o CGI contratou para o assessorar - à qual não foi pedido, repito, que interviesse minimamente no processo de escolha.
Constatou-se então que surgiu um número significativo de candidaturas, cada uma acompanhada de um esboço de um projeto estratégico para o triénio. Depois de uma detalhada análise das várias candidaturas, o CGI selecionou algumas, que passaram a uma fase de entrevistas pessoais.
No termo deste processo, o CGI - numa decisão por unanimidade, tal como já tinha sucedido em 2015 e 2018, para as anteriores administrações - decidiu indigitar a candidatura apresentada por Nicolau Santos e Hugo Figueiredo, na base de uma avaliação curricular e da qualidade do esboço de programa de trabalho apresentado. Foi, assim, pedido a esta candidatura que apresentasse um projeto para o seu trabalho, o qual teria de seguir as linhas de orientação estratégicas previamente definidas pelo CGI.
Ana Dias Fonseca, a administradora que já assumira o pelouro financeiro no triénio anterior, voltou a ser escolhida e aprovada pelo Ministério das Finanças, para o triénio seguinte. O projeto estratégico apresentado pelos três membros da equipa presidida por Nicolau Santos viria a merecer a aprovação do CGI, pelo que foi apresentada a sua indigitação para a futura administração.
Sem exceção, tudo quanto deixei atrás escrito foi público e clarificado, a quem quis estar atento a este nosso trabalho. Entendi descrevê-lo com algum detalhe porque se tem constatado o surgimento de leituras deturpadas de um processo que se pretendeu e foi conduzido com a maior transparência.
Devo dizer que, no termo deste processo, que foi laborioso, me sinto pessoalmente muito satisfeito por poder ter contribuído para uma escolha que tenho consciência de ter sido feita com o maior rigor.
***
Completei agora mais de três anos ao serviço do CGI. Foi um período muito intenso em que, com algum sacrifício da minha vida pessoal e profissional, e sem qualquer contrapartida financeira, procurei contribuir, de melhor forma que pude e soube, para a ação de um órgão da RTP que tem trabalhado, de forma discreta mas muito eficaz, pela estabilidade e progressiva melhoria da empresa.
Há já um ano, eu havia anunciado aos meus colegas a minha intenção de sair das funções que ocupava no CGI, em virtude do tempo que isso retirava a outros compromissos e obrigações que entretanto tinha criado. Acedi, contudo, a ficar até ao termo da escolha da nova administração e da avaliação do novo contrato de concessão, tarefas que agora foram concluídas. Sinto-me satisfeito por ter podido dar o meu contributo ao CGI para completar esses objetivos.
A RTP faz parte da vida de todos os portugueses e, por isso, também da minha. Conhecê-la melhor e ter tido ocasião de servi-la foi um privilégio que não esquecerei.
5 comentários:
Ainda bem que o CGI tem paridade de género.
E paridade de idade, tem?
E paridade política, tem?
E a paridade de género reflete-se em quê? Opções de decoração diferentes? Vamos passar a ter um telejornal por/para mulheres e um telejornal por/para homens? É que se há diferenças...
Como espectador anónimo o meu obrigado pela explicação, que é infelizmente uma (boa) exceção e pelo trabalho desenvolvido.
Uma sugestão: que se peça à RTP que desenvolva programas de marketing e promoção dos campos de golfe portugueses nacionais,
para que haja mais academias de golfe públicas ou privadas
para que se formem mais jogadores de golfe nacionais, a nível escolar e outros,
para que se organize campeonatos importantes, e utilização continuada dos mesmos campos,
para dirigir dinheiro público e privado para essas infraestruturas de grande nível que existem por todo o país e essencialmente no Algarve,
e que tenhamos mais proveitos, e usufruto dos mesmos,
sem ficar constantemente dependentes
da vinda de jogadores do Reino Unido!!!
A RTP:
Considerando a contribuição mensal do audiovisual, na factura da electricidade, sempre achei abusiva a publicidade, designadamente, quando invade as páginas - das notícias online - sem a possibilidade, sequer, de a apagar com recurso a uma cruz. Queixei-me, vezes sem fim, com a resposta de impotência do Provedor do Utente, na altura, perante um abuso tão grave.
Oxalá que a nova Administração tenha um rumo diferente, atento aos leitores da RTP online, sem abusos e fornecendo um serviço público, que não me importo da pagar desde que não me tapem as notícias com publicidade NÃO SOLICITADA e sem possibilidade de a apagar !
Esperemos que finalmente a RTP, sobretudo a RTP 1, paga por todos nós, comece a cumprir Serviço Público, porque se é para continuar a ser uma cópia mais ou menos calamitosa dos generalistas privadas, não quero, é uma m....
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