Farto-me de me cruzar com as duas espécies, mas nunca me tinha sucedido encontrar uma de cada naipe, ao mesmo tempo. Aconteceu-me, há pouco, nos correios (onde assisti a uma pobre empregada doméstica, com ar de pouco urbana, ser endrominada para comprar um vigésimo de lotaria - mostrando onde chegaram os correios!)
As giocondas, trato-as assim intimamente há anos, são mulheres que entram em lugares públicos com um esgar levemente sorridente, às vezes um pouco sofrido, que prolongam até serem atendidas - nas lojas ou nos serviços. Há nelas um à-vontade natural, um estar-bem naquele espaço, quase sempre num registo de segurança, muito “easy-going”, falando pouco e baixo, dando ares de terem todo o tempo do mundo. Tenho amigas assim e são, em geral, boa gente (se não fossem, também não eram minhas amigas, claro!).
Descobri o conceito de anjo-mau numa canção de Jorge Palma. É a cara fechada, dos modelos de “passerelle”, parece que representando, em geral, uma atitude defensiva, desincentivando a confiança e a aproximação. Há anjos-maus lindíssimas! As anjos-maus são, em geral, muito mais novas do que as giocondas, ou melhor, às anjos-maus mais velhas, ou quando já não vão para novas, não se chama anjos-maus, chama-se apenas trombudas. Ah! E, ao que tenho apurado, não há muitas giocondas novas. (No que eu me fui meter, neste tempos de politicamente correto!)
E fico-me por aqui, nesta caracterologia de trazer por casa, numa Lisboa vazia, onde a tarde rende imenso e só a máscara está a mais. (Já estou a ver os espertos do costume a perguntarem: “E como é que, com as máscaras, viste as caras?”. Aí é que está o poder de observação. São muitos anos...)
3 comentários:
Estou a tentar visualizar as giocondas.... Este teletrabalho, que me mantém encafuado, está a fazer-me mal!
Tenho um amigo que as chama de Monalisas...! Adorei.
Mais parece uma "crónica" do ALA (António Lobo Antunes).
Quanto aos vigésimos de lotaria com que nos tentam endrominar os balconistas dos correios,é prática que já tem barbas!
Enviar um comentário