sábado, agosto 22, 2020

A “minha” cozinha

Quando, em 1985, chegado de posto em Angola, fui viver para perto do Campo Pequeno, alguém me disse maravilhas de um restaurante que tinha acabado de abrir, na rua de Entrecampos - o Poleiro. Eram dois irmãos Martins: o Manuel, a chefiar a cozinha, e o Aurélio, a dirigir a sala, então minúscula (não chegava a 30 lugares; depois aumentou apenas um pouco mais). A oferta inicial era eclética: havia espetadas madeirenses e comida minhota, por exemplo. O Aurélio, nos vinhos, converteu-se num constante descobridor de coisas novas e excelentes.

Por muitos anos, o Poleiro foi um “caso” numa restauração lisboeta que estava então muito longe de ter o leque de diversidade que hoje tem. Havia filas à porta. Ao almoço, era o mundo da política, do jornalismo, das empresas. À noite, eram casais e pequenos grupos. As reservas eram feitas com grande antecedência. Havia dias “impossíveis”.

Vivendo a cinco minutos a pé, tornei-me, de um regular frequentador, num bom amigo da casa. E já lá vão 35 anos. Noites houve em que o Aurélio me dizia, pelo telefone: “Pode ir descendo, que a sua mesa está quase pronta”, depois da rodada anterior. E, lá chegado, sabia ter à minha espera os peixinhos da horta e um belo queijo amanteigado, que ainda hoje vejo figurar por detrás dos níveis de colesterol das minhas análises. Grandes noitadas, com a família e amigos, passei no Poleiro.

Quem me conhece sabe que fiz sempre, por todo o lado, imensa “propaganda” do Poleiro. Não por ter a sua gente por amiga, mas porque achava, e continuo a achar, que por ali se servia e serve uma das mais genuinas cozinhas de Lisboa. Sem quebras, sem cedências, sem recuos na qualidade dos produtos. 

Hoje, como é da lei da vida, os dias do “Poleiro” não são os mesmos desse tempo, somada agora a pandemia a tudo o resto. Há muitos concorrentes, diversas ofertas gastronómicas, modas a prevalecerem. Mas o Poleiro ali está, impecável no que nos propõe, como ainda ontem tive ocasião de comprovar, numa visita que fiz à minha “cozinha”, como o Pedro d’Anunciação escreveu, há quase 15 anos, num artigo numa revista que encontrei por lá encaixilhado e de que aqui deixo imagem para memória presente.

3 comentários:

Carlos disse...

Sr Embaixador sou também um fiel deste grande exemplo de boa restauração, desde os tempos em que era uma pequena salsinha de entrada já la vão uns 30 anos. A delícia das barriguinhas de porco com massa de feijão, As pataniscas, os jaquinzinhos, e ocasionalmente as cabeças de garoupa (que são o deleite da minha mulher). E os comentários elogiosos que tenho recebido dos meus amigos de Bruxelas e por essa Europa fora. São tempos difíceis para os bons restaurantes por essa Lisboa por isso nestas férias tudo tenho feito para dar o meu modesto contributo a estes espaços onde se saboreia a cozinha portuguesa

Carlos disse...

Sr Embaixador sou também um fiel deste grande exemplo de boa restauração, desde os tempos em que era uma pequena salsinha de entrada já la vão uns 30 anos. A delícia das barriguinhas de porco com massa de feijão, as pataniscas, os jaquinzinhos, e ocasionalmente as cabeças de garoupa que são o deleite da minha mulher. E os comentários elogiosos que tenho recebido dos meus amigos de Bruxelas e por essa Europa fora. São tempos difíceis para os bons restaurantes por essa Lisboa por isso nestas férias tudo tenho feito para dar o meu modesto contributo a estes espaços onde se saboreia a cozinha portuguesa

Anónimo disse...

O Poleiro, como outros, continua apenas aberto a certas bolsas. Com o ordenado mínimo e médio praticados em Portugal, quem os aufere, só passa mesmo à porta d'O Poleiro.

Maduro e a democracia

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