Andava há anos para lá ir. Tinham-me falado daquele restaurante galego em que a dona, franquista dos sete costados, cantava pelas mesas o “Cara al Sol” (ontem, só lhe ouvi o “Granada”) e alardeava que, na sua casa, não entravam socialistas (e, por maioria de razão, comunas e anarquistas, porque quem pode o mais pode o menos).
É uma marisqueira pequena, numa rua esconsa do porto de La Guardia (A Guarda, para os galegos). Lá chegados, com mesa marcada, surgiu a “facha” (“Ah, Portugueses!”, sem especial nota de afeto ou desafeto). Explicou, logo ali, que, em tempos de pandemia, se cruzam os braços no peito e se vai com um dedo ao nariz, apontando depois para o outro (“Los socialistas son los que saludan con los codos”).
Plano de conversa: dizer bem de Salazar, elogiar o Caudillo, que sempre achei Fraga “muy de esquierdas” (e então o Feijóo!), que nos faz falta um Vox, que em Portugal já temos um genérico “facho”, mas que, a mim, até me parece um pouco esquerdalho, da minha admiração pela vedeta do PP Cayetana Álvares de Toledo (e que fiquei comovido com o artigo sobre ela, do Vargas Llosa, no “El Mundo”), revelando-lhe, como cúmulo de credenciais direitolas, que, num 20 de novembro, tinha mesmo estado a ouvir Blas Piñar, na Plaza de Oriente, “hace muchos años”. À saída, o plano era berrar, à distância, o “La mujer de Paco Franco... de su marido cabrón”, com música do “Ay Carmela”.
“Quer-se dizer”: tinha pensado dizer e fazer tudo o que acabam de ler, mas acabei por não dizer nem fazer nada disso. Já bastam as máscaras que para aí andam...
Comemos bem, bebemos um albariño razoável e pagámos “la dolorosa”, em conta para o consumido
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