Foi, há pouco, no Cabo da “Bila” (é mesmo com um “b”). Dirigiu-se-me com simpatia, a desejar Boas Festas. ”Ainda trabalha lá?”, perguntei-lhe, referindo-me à loja comercial onde era empregado e sempre o conheci. “Não, doutor, reformei-me. O tempo passa para todos, não é?”. É verdade, às vezes esqueço-me disso.
Há quantos anos conheço este homem? Uma imensidão. Das muitas figuras do comércio de Vila Real, ele tinha, desde novo, uma caraterística interessante, que o meu pai um dia me fez notar: falava como se fosse o dono da loja. “Não, desse modelo não tenho. Mas, se quiser, posso pedir para o Porto e depois mando-lhe lá a casa”. Tudo sempre com uma grande gentileza, a mesma que o fazia sair detrás da montra, para me cumprimentar, sempre que me vislumbrava, nas minhas vindas à cidade. A loja por lá continua, ainda com o mesmo dono, mas agora já sem o nosso homem.
Depois deste encontro, continuei o meu passeio pela Rua Direita, aquela que foi a mais importante rua comercial de Vila Real e que hoje, sábado antes do Natal, era um quase deserto de gente e de lojas abertas. Nada de novo, afinal!
Cheguei à Capela Nova e olhei a loja que aparece na fotografia. Desde há muitos anos que passava por lá para dar um abraço ao Néné, o proprietário, amigo de infância lançando-lhe o bem vilareealense ”Cumué, Néné?”. Isso acabou. Disseram-me na Gomes (onde tudo se sabe) que o Néné se reformou. Se, agora pelo Natal, o vier a encontrar por aí, vai, com certeza, dizer-me: “O tempo passa para todos, não é?
3 comentários:
Não conheço Vila Real nem o seu sotaque . Mas palavras como “ cumué “ são mesmo muito divertidas e e podemos imaginar um diálogo com outras semelhantes ... não se deveria perder nunca essa riqueza ( um pouco envergonhada ) da lingua portuguesa ...
Venham mais expressões dessas , para alegrar o cinzento em que se vive ...
O tempo tudo muda! Também a loja do Néné, agora com jornais a tapar a montra. É assim o "pequeno comércio". Ficam as memórias...mas que não são para toda a gente, para muitos coisas destas passam-lhes ao lado.
"vilareealense" - a sua inconstância na ortografia do gentílico já dava um tratado
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