Pertence a uma geração que me diz pouco, não só porque não andei muito por cá nesse tempo, mas também porque cada um tem a sua idade e as afetividades de estimação que a ela são próprias. Mas posso dizer, com segurança, que conheço muito bem a música que Lena d’Água espalhou por esses anos 90. Ouvi-a uma única vez ao vivo, se bem me lembro, não há muitos anos, no Maxim’s.
Tinha uma bela beleza, se me permitem usar o pleonasmo para designar uma frescura interessante, bem ao jeito da época. E uma voz muito curiosa, de que ficaram alguns temas para sempre.
Nunca a desliguei do nome do pai, José Águas, essa elegante figura no centro de uma linha de ataque (na altura, dizia-se assim) que deu muitas alegrias ao futebol luso. E do irmão, também um jogador de mérito, com um fácies eternamente ensonado - e que esperemos que acorde para o drama da irmã.
Agora, num processo de declínio que a sua participação no festival da canção já indiciava, anuncia-se que Lena d’Água está financeiramente “nas lonas”, vendendo ao desbarato o que lhe resta. É uma situação triste, reveladora de que o êxito, e o estilo de vida que o acompanha, é um bem muito precário.
Nem sempre a decadência é um valor nostalgicamente valioso. Melhor: quase sempre não é.
Lembremos aqui a Lena d‘Água de outros tempos
5 comentários:
Eu acho que a decadência é sempre um sinal muito triste dos tempos... e oxalá tenha mais sorte daqui para a frente, a nossa Lena.
É mais anos 80, a pequena. Nos 90, já não.
Caro Francisco: é sempre a história da cigarra e da formiga. Quando se tem gasta-se para além do que a cautela apontaria. Quando se não tem, infelizmente, já é tarde demais...
Mas a formiga tem muito menos graça do que a cigarra que gera sempre imensa simpatia...sobretudo da parte daqueles que dela se aproveitam!
Parece uma boutade algo moralista. Não é. Trata-se de bom senso. Mas este, hoje em dia, é muito mal visto.
À bon entendeur, salut!
Há uns tempos deu um concerto no teatro da Damaia. Estavam lá algumas vinte pessoas e - arrisco -, a maioria era gente conhecida.
Há uns anos deu um concerto no Nimas e aquilo estava cheio!
A voz, está igualzinha. As canções, são tão boas quanto antes, portanto... falta-lhe um empresário.
"Parece uma boutade algo moralista." Bom, D. Helena, parece e é. Falando de "bom senso", eu diria que o bom senso, melhor, a dignidade, aconselha duas coisas nestas circunstâncias, a primeira delas fácil e gratuita, a segunda onerosa, mas opcional: Nunca em circunstância alguma fazer publicamente juízos morais sobre a vida de pessoas caídas em desgraça e ajudar.
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