Morreu João Hall Themido. A esmagadora maioria dos portugueses não o conhece, mas é interessante deixar registado que foi um dos mais importantes embaixadores portugueses.
Com Vasco Futscher Pereira, Tomaz Andresen e Calvet de Magalhães, Themido fez parte da geração de embaixadores de topo que assegurou, com grande profissionalismo, a continuidade do Estado na transição da diplomacia da ditadura para o novo regime democrático. No 25 de abril, era embaixador em Washington, desde 1971. Aí ficou uma década (isso mesmo!) - de Marcelo Caetano a Palma Carlos, de Vasco Gonçalves a Mário Soares e alguns outros primeiros-ministros. Antes, tinha sido embaixador em Roma e sê-lo-ia ainda em Londres, depois de exercer o cargo de secretário-geral no MNE.
Hall Themido era naturalmente um especialista nas relações luso-americanas. Um dia, em 1988, ao tempo em que chefiava a embaixada em Londres, perguntei-lhe pelas memórias que “obrigatoriamente” tinha de escrever. Disse-me que estava a trabalhar nisso. Fá-lo-ia mais tarde, com “10 anos em Washington” (1995) e “Uma autobiografia disfarçada” (2008).
Nessa ocasião, advertiu-me quanto àquilo que, enquanto diplomatas, podemos dizer aos jornalistas. Contou-me então que se arrependera de uma conversa tida como José Freire Antunes, a propósito das relações com os EUA. A certo passo da conversa, Themido teria deixado cair, pensava ele que “off the record”, um comentário menos apreciativo sobre o Visconde de Botelho, entretanto já falecido, figura que teve alguma visibilidade, nos anos 70, no mundo das relações transatlânticas de segurança e defesa. Freire Antunes não terá respeitado (ou entendido como tal) a confidencialidade do comentário, pelo que o transcreveu “ipsis verbis” num livro e a família do Visconde cortou relações com Hall Themido. Referiu-me também que Franco Nogueira tinha tido uma experiência similar com o mesmo jornalista. “Tenha sempre muito cuidado com o que diz aos jornalistas, Seixas da Costa!”. Tive e tenho, mas nunca tive surpresas excessivamente desagradáveis.
Com a morte de Hall Themido, desaparece o último expoente de uma geração de profissionais de grande qualidade, num período muito complexo da história externa do país, que havia imediatamente sucedido àquela que teve por figuras maiores Marcello Mathias, Franco Nogueira, António de Faria ou José Manuel Fragoso, que haviam cessado funções antes do 25 de abril.
2 comentários:
Enquanto SG, Hall Themido deu-me posse como adido em 1984 e logo a seguir foi para Londres. Na entrevista que integrava o concurso, ficou calado e deu a palavra a José Manuel Fragoso, um grande senhor que integrava o júri, juntamente com Humberto Alves Morgado. Só me fez uma pergunta: " Sabe quem é o compositor António Fragoso? (seu familiar) ". Eu respondi que sim. Ele ficou contente e Themido mandou-me embora.
JPGarcia
Diogo Ramada Curto, prestigiado universitário e orientador de teses no EUI desenvolve a tese de que Aristides Sousa Mendes e Veiga Simões eram peças de uma sibilina estratégia de Salazar de neutralidade na segunda grande guerra. Cai-lhe o Carmo e a Trindade em cima por se aventurar desbravar terreno que se encontra já atestado a Irene Pimentel e a Cláudia Ninhos. Themido é chamado à colação por Curto. Mas a vida de Veiga Simões dava um romance...
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