domingo, dezembro 06, 2015

França

Mais número menos número, os resultados das eleições regionais francesas, cuja primeira volta teve lugar hoje, revelaram que um em cada três franceses favorece a linha política de Marine Le Pen, a lider do "Front National", o partido criado pelo seu pai e para o qual tem vindo a conquistar uma posição cada vez mais sólida da política francesa. 

Ao longo dos últimos anos, Marine Le Pen cuidou em afastar-se de algumas das bandeiras mais repugnantes que Jean-Marie Le Pen sempre teimou em titular, tais como a desculpabilização do colaboracionismo com a Alemanha nazi, a desvalorização dos crimes contra a humanidade praticados pelo regime hitleriano e uma diversidade de tomadas de posição racistas e xenófobas que o tinham tornado "infréquentable" no cenário político francês.

Explorando os receios provocados pela crise económico-social, com fortes impactos no emprego, pela insegurança pública e, mais recentemente, pelo agravamento dos choques culturais e religiosos que o advento do islamismo radical consagrou, Marine Le Pen estruturou um discurso nacionalista de "proteção" dos franceses, que se revela crescentemente apelativo. Nestas que são as últimas eleições antes das presidenciais de 2017, um bom resultado para o "Front National" representará a confirmação de uma deriva em direção a uma França cada vez mais radicalmente conservadora.

A direita democrática, representada pelo "Republicanos" do regressado Nicolas Sarkozy, vai situar-se neste sufrágio acima do Partido Socialista de François Hollande, que não conseguiu capitalizar a melhoria da apreciação de imagem que a forma como geriu a crise securitária lhe havia trazido nas sondagens. Há quem pense que Sarkozy poderá ser tentado a radicalizar o seu discurso político, disputando franjas do eleitorado de Le Pen, o que não deixará de trazer consequências importantes no equilíbrio político interno do país.

Os próximos tempos confirmarão se o crescimento eleitoral do partido de Marine Le Pen virá ou não a atingir valores ainda mais elevados. Se isso ocorrer, se passar a ser vista como uma potencial vencedora das eleições presidenciais de 2017, com imediato impacto no panorama legislativo e governamental, então a França do futuro será uma outra coisa muito diferente. E a Europa também, claro. Será então tarde para os setores da comunidade portuguesa, que hoje se deixam seduzir pelas propostas do "Front National", perceberem o embuste em que caíram e o que lhes pode vir a acontecer.

21 comentários:

aamgvieira disse...

"Guia para “Acolhimento de Refugiados" -Edição de 1015 (Escrito de acordo com o Novo Acordo Ortográfico),Direcção Geral de Saúde


Anónimo disse...

Para o bem ou para o mal, por culpa dos partidos do "centrão", as facções extremas estão a ganhar grande preponderância na Europa. O "centrão" que não mude a maneira de governar que qualquer dia perde qualquer tipo de poder nos parlamentos europeus.

septuagenário disse...

A França (Europa) não "preparou" a guerra, agora entrou em desespero.

Anónimo disse...

"Será então tarde para os setores da comunidade portuguesa, que hoje se deixam seduzir pelas propostas do "Front National", perceberem o embuste em que caíram e o que lhes pode vir a acontecer."

Pois, claro esta sr. Embaixador.
Disse para nao votar Marine. Ok muito bem, vota-se em quem entao?

Quem sao os politicos franceses da direita do centro ou da esquerda que resolveram os problemas existentes nos "quartiers populaires sensibles"?
A criminalidade em frança é sobretudo de origem estrangeira (por muitas e diversas razoes). Quem foram os politicos que conseguiram fazer reeducar e fazer sair os jovens da pequena criminalidade? E quando essa pequena criminalidade e juventude de origem estrangeira cria um odio da frança e um desprezo pelo frances, que fez o PS, que fez a UMP? Que fizeram o PS e a UMP aquando da radicalizacao (que dura ha anos) dos muçulmanos de França?
O amigo da Mediapart https://twitter.com/edwyplenel esta triste portanto hoje em vez de discutir os resultados das eleicoes esteve a fazer uma de sessao de poesia. E o problema do centro e da esquerda francesa, estao cheios de "bobos", gente sem garra, sem força e muitas vezes cobardolas. Por essas e por outras é que arabes e negros os nao respeitam.
A fractura em frança ja existe ha muito, e é entre os bairros emigrantes e as cidades burguesas, so que os franceses estiveram anos e anos a atirar a areia para baixo do tapete. So aqueles que vivem na periferia é que tem que lidar com a brutalidade, foi ete o eleitorado inicial do fn. O radicalismo muçulmano sunita, a situaçao economica fizeram apenas agravar a situacao.
As pessoas votam Marine sr.embaixadir pela confiança que tem nos outros, zero! A França faltam lideres. Marine ganha as eleicoes pela incompetencia duradoura e pelo menosprezo continuo da elite francesa com respeito aos seus cidadaos. Ha muitos franceses desesperados e perdidos. E ha uma profunda crise na França que em muito antecede (e explica) esta crise europeia. Achar que a culpa é da Marine é nao ver o fundamental.

Força para os franceses

https://www.youtube.com/watch?v=zJrmuAvHpFw
https://www.youtube.com/watch?v=HDoOh5_5guc

http://www.lessor.org/wp-content/uploads/2014/06/Rapport-Criminalité-organisée-2013-2014-V2.pdf

cumprimentos

Anónimo disse...

Gostava que pudesse desenvolver um pouco a sua opinião relativamente a relação entre a comunidade portuguesa e a FN

Joaquim de Freitas disse...

Certos "enjeux" económicos e sociais têm dificuldade a ser traduzidos politicamente ( crise da habitação, bairros populares, riscos nucleares, questões energéticas, etc.) . Os partidos de direita continuando a representar objectivamente os interesses das classes dominantes, os partidos de esquerda não se posicionam mais como representantes das classes populares. Um deslize para o centro é notável, mesmo em direcção dum socialismo liberal. ( política económica de rigor, não ruptura com a economia capitalista, etc.) .

Assim, na medida em que as diferenças em termos de programas económicos se reduzem entre os principais partidos políticos, a concorrência entre eles tende a voltar-se para outros "enjeux" políticos, em particular sobre as questões ditas "societais", a começar pela imigração e o Islão.
Para maximizar o potencial eleitoral, hoje, em França, existe a "surenchère" compensatória à volta dos estrangeiros e sobretudo dos muçulmanos, ligada ao desespero dos governos de direita como de esquerda, impotentes perante as crises financeiras, económicas e sociais , e o colete de força dos tratados europeus que não permite larguezas no campo económico.
A partir daí, todos os partidos políticos consideram que existe um " problema imigrante" e um "problema muçulmano".
A vantagem de Marine é que o FN foi o primeiro e mais incisivo a denunciar a tendência do que é hoje um problema nacional e mesmo europeu. O patamar de sensibilidade ao intolerável, foi o FN que o detectou mais cedo.
Resta que, se o FN põe as boas questões, demagogicamente exploradas, mas também traz as respostas falsas na maioria das questões.

Mas o que é certo é que Marine obriga os outros partidos a reposicionarem-se afim de evitar que a "xenofobia popular" não se traduza em votos e , consequentemente , no acesso ao mais alto poder.

Porque quando existem 5 milhões de indivíduos , dos quais uma parte mesmo ínfima, pode criar problema para a segurança das pessoas, é evidente que este problema passa mesmo antes do desemprego ou dos salários nas prioridades dos eleitores.

Luís Lavoura disse...

A direita democrática

Que eu saiba, Marine Le Pen não é antidemocrática, ela nunca propugnou o fim da democracia nem nunca desrespeitou a democracia. Pelo que não me parece correto designar Sarkiozy como "direita democrática", sugerindo que a Frente Nacional não o é também.

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Senhor Embaixador

Se lá estivesse o Costa fazia logo as contas dele e diria que a esquerda toda somada foi a grande vencedora

Anónimo disse...

Nestes tempos conturbados, ela corre com o vento a seu favor...

Joaquim de Freitas disse...

Ao ler o Senhor Luís Lavoura, creio ler o que diziam muitos democratas alemães em 1933. Que as características profundamente xenófobas, racistas e anti semitas do FN, lhe pareçam democratas, é chocante. Também isso escapou aos democratas alemães, que pagaram caro anos depois, quando não foram assassinados antes de serem internados em campos de concentração, como Rosa Luxemburgo.

Estas características não seriam mais que a expressão particular do fascismo, , o produto de cérebros maléficos doentes, se não fosse o sinistro produto do modo de produção capitalista confrontado à crise histórica do seu sistema, um aborto monstruoso natural da ideologia nacionalista defendida e propagada pelo FN , que a classe dominante , todas fracções incluídas também defendem.

Isto é o resultado do facto que, face à guerra agora permanente que deve conduzir cada Estado no quadro dum mercado mundial saturado, a burguesia, para poder suportar e justificar esta guerra permanente, se deve, de reforçar o nacionalismo por todos os meios.

O FN compreendeu e explora esta necessidade do sistema, porque este lhes traz adeptos todos os dias, desesperados da incapacidade dos partidos democráticos a dominar a crise e assegurar o progresso. Quanto mais difícil for a vida para os cidadãos mais o FN progresso.

O que aqueles que votaram pelo FN não sabem, porque incultos ou amnésicos, ou simplesmente desamparados, é o que os espera, quando forem administrados pelo FN, , nas novas regiões , imensas, nas quais os governos regionais terão os plenos poderes nos transportes, nas escolas, nos serviços sociais e na polícia. O RSA , vital nestes temmpos difíceis, não será para todos!

Unknown disse...

Os Franceses começam a abrir os olhos relativamente ao politicamente correcto.
A Europa não pode ser multicultural e esse multiculturalismo está-nos a destruir e os nossos amigos Franceses começam a perceber isso.

Anónimo disse...

O restaurante do portugues Manel lá vai servir mais uns bons petiscos à conta da célebre senhora... Num instante tudo muda!

Francisco Tavares disse...

Em que diferem o UMP e o PS, só para falar nas políticas económicas?

Fátima Diogo disse...

O medo sempre teve estes efeitos : receando um perigo, muita gente se acolhe inconscientemente nos braços de outro - é histórico.
E os franceses são mestres na oratória vazia e no laxismo político. Nestes tempos é notáveis no seu apego à direita: não há, em França uma esquerda, de facto, nem o PS o é, nem se observa o crescimento da esquerda mais radical, como a crise fez acontecer em Espanha, Portugal e Grécia ; nem sequer existe um partido ecologista significativo , como nos países mais a norte .
Uma tristeza, esta França atual... e não só política e socialmente, a nível da Literatura e das Artes em geral, uma pobreza franciscana, ou melhor, republicana...

Anónimo disse...

Va la, va la que no Reino Unido mesmo Nigel Farage (UKIP) ha tempos recusou colaborar com Marine Le Pen acusando-a de "anti Semitism and general prejudice".

Nao sei qual a posicao de Farage neste momento. Vou ligar para a BBC-"News at 6" e... a ver vamos

Boa noite com paz

F. Crabtree

Unknown disse...

José Tomaz Mello Breyner, na verdade, quem ganhou as eleições, aqui no "Burgo", foi de facto a tal "Esquerda toda", como refere. E quem as perdeu, foi a "Direita toda junta". O que você queria e o que queria Direita Radical, leia-se PSD/CDS, era que o PS lhes fizesse o favor de ser servir de muleta. Costa, que é um tipo que não vai nesse tipo de "cerimónias", não lhes fez o frete e deste modo, você e toda esta Direita Radical, ressabiada (íssima), está agora e muito bem na Oposição. Onde se espera que aí permaneçam no mínimo os próximos 4 anos. Breyner, habitue-se, homem! Também tive de aguentar 4 anos de destruição nacional. As coisas mudaram - com a tal aritmétcia que lhe desagrada. Folgo! Mas, a maioria hoje é de Esquerda! Ponto! A Direita Radical foi, por um a acto de grande audácia, democrática, de Costa, banida do Poder. Mudaram-se os tempos!

aamgvieira disse...

Nota do PCP à imprensa:

"Tendo-se realizado as eleições legislativas na República Bolivariana da Venezuela, onde após 17 anos (e 18 actos eleitorais em que foram derrotadas) as forças contra-revolucionárias alcançaram a maioria dos lugares no parlamento, o PCP expressa a sua solidariedade às forças reunidas no Grande Pólo Patriótico e, nomeadamente, ao Partido Socialista Unido da Venezuela e ao Partido Comunista da Venezuela, com a confiança de que as forças progressistas e revolucionárias venezuelanas encontrarão as soluções que defendam o processo revolucionário bolivariano e as suas históricas conquistas que tão importante repercussão têm tido na América Latina.

O PCP salienta que estas eleições se realizaram no contexto de uma conjuntura económica particularmente desfavorável em resultado da baixa do preço do petróleo e no quadro de grandes operações de desestabilização e boicote económico dos sectores mais reaccionários venezuelanos articuladas com a ingerência do imperialismo contra a Revolução Bolivariana."

Anónimo disse...

Eu, que sempre fui de esquerda, tolerante e laico, começo a sentir-me desconfortável com este avanço agressivo do islamismo. Este avançar constante pela nossa cultura a dentro deixa-me profundamente desconfortável e inseguro. Este gente vê-me como inimigo a abater. Mais, quer alterar o meu modo de vida. São fascistas tremendamente perigosos. E para cúmulo, assustam-me tanto os radicais como os outros milhões de islâmicos que, afirmando-se não radicais, se calam! Não os vejo manifestarem-se nas ruas de forma veemente, demarcando-se vincada e radicalmente deste islamismo radical, condenando-o com vigor - até porque, no limite, serão eles os que mais vão sofrer se a coisa mudar de figura. Quando muito, vêem-se umas escassas duas ou três centenas de pessoas de vez em quando nas ruas.

O cidadão francês começa a mostrar que está farto desta gente e que quer que os políticos se deixem desta política mole e avancem com medidas enérgicas contra esta corja que lhes atormenta o seu dia a dia. Nessa linha, votam em quem afirma fazer isso mesmo. Parece que só os políticos do centrão teimam em não ver isso!

O povo votou, mostrou a sua vontade. Agora cabe aos partidos do centrão tirar as suas ilações! E se se não deixam de filosofias e metem as mão à obra, vamos ter a França, que tanto sofreu às mãos de uma ditadura cruel há 70 anos, tornar-se, quem sabe, na primeira "ditadura" da União!

A. Henriques

Anónimo disse...

Tendo em conta que votaram menos de 50. % dos françeses, seria mais correcto escrever, que votaram na filha na sobrinha, no namorado da sobrinha e no companheiro da filha ( aquilo não é um partido mais sim uma famiglia) do Le Pen, um em cada 3 franceses, da metade do eleitorado que foi votar.

aamgvieira disse...

Ver se acordam:

"Boualem Sansal a même bénéficié du renfort d'un attaché de presse aussi inattendu qu'efficace: Michel Houellebecq himself!
L'auteur de Soumission a rendu un vibrant hommage à l'écrivain algérien. «2084 est bien «pire» que Soumission, il décrit un vrai totalitarisme religieux. Boualem Sansal voit la victoire des extrémistes. Peut-être qu'il a raison, sa vision du futur est très plausible», a expliqué un Houellebecq admiratif dans l'émission de Laurent Ruquier On n'est pas couché."

OdeonMusico disse...

deveria fazer-se uma análise sobre o que terá falhado e faltado quer à esquerda e ao centro

o Jaime S.

João Miguel Tavares no "Público"