segunda-feira, dezembro 21, 2015

Casemos a culpa!

O caso Banif, com as gravosas consequências que acabou por ter para o erário público, tem de levar a uma explicitação muito concreta das responsabilidades - das instituições e das pessoas envolvidas. No plano técnico, político e quiçá judicial. Importa que a comissão parlamentar, que o PS teve a iniciativa de propor, seja utilizada para um "name and shame" muito claro.  

Não desconheço que o tratamento público das questões que envolvem instituições financeiras tem uma delicadeza muito particular, porque qualquer palavra fora do tempo pode ter consequências de alarme injustificado nos mercados, pode induzir quebras de confiança, com efeitos reputacionais e financeiros indesejáveis. Para isso, para a avaliação atempada dos problemas, é que se contava com uma supervisão eficaz. Ora o Banco de Portugal voltou, uma vez mais, a falhar e, também uma vez mais, são os contribuintes quem acaba por pagar a fatura. O Banco de Portugal não atuou por instruções do governo ou por opção, por incompetência?

Depois do BPN, do BPP, do BES e agora do Banif, os portugueses têm direito a saber que novas surpresas os esperam, ao virar da esquina. Podemos ter a certeza de que os nossos impostos não vão ser chamados a pagar problemas de mais nenhuma instituição bancária? Há garantias sobre o estado do Montepio? Não há a mínima dúvida sobre o estado da Caixa Geral de Depósitos? E podemos estar seguros de que com o BPI e o BCP não vamos ter problemas?

Gostei da atitude do governo perante a questão. Soube assumir o problema com frontalidade e o primeiro-ministro e o ministro das Finanças não se refugiaram atrás do governador do Banco de Portugal, como se passou com o caso BES. António Costa e a sua equipa tiveram ainda o sentido de Estado de partilhar com todos os partidos com representação parlamentar a dimensão do caso, cabendo-lhe agora explicar que a solução encontrada, por muito gravosa que possa ter sido, era a única possível. Mas isto não exclui a necessidade de ter de ficar muito claro por que razão as coisas chegaram a este ponto. E, repito, aproveitar para conhecer o estado real do mercado bancário em Portugal. 

A culpa não pode morrer, outra vez, solteira.

13 comentários:

Anónimo disse...

Há muitos anos, posso dizer mesmo antes do cado BPN que eu sabia que os bancos nao passavam de um nicho gerido por ladroes e bandidos que deviam ser todos mortos da forma que os Távoras foram.

Joaquim de Freitas disse...

Ce n'est pas mal! Mais um ! Talvez alguém devesse dizer ao Senhor Centeno que agora que está no comando das manetas, devia fazer como o secretário do tesouro americano, Henry Paulson, após o krach de Lehman Brothers, que tinha posto em cima da mesa 700 mil milhões de dólares para comprar os activos podres do banco! Era o famoso plano TARP (Troubled Asset Releve Program) que aliviava o balanço dos bancos, comprando-lhes os activos podres, como escrevi.

Mas em Portugal seria mais judicioso dar os 2 000 e tal milhões aos clientes, para pôr as famílias à vontade, porque de qualquer maneira este dinheiro voltará aos bancos , mas entretanto a economia beneficiaria da mane.

Dar o dinheiro aos bancos é uma etapa suplementar que não tem interesse nenhum!

O ponto interessante deste plano é que a partir do momento em que se subvencionam as famílias, restaurando-as na sua posição de cliente solvível, haveria uma continuidade dos pagamentos do juro principal e a continuidade do pagamento das dividas.


Se os reembolsos são restabelecidos, os activos dos bancos recuperam instantaneamente o seu valor também, pois que este repousa sobre a continuidade dos fluxos de pagamentos. Apagam-se assim as perdas bancárias, restaurando os capitais próprios e os bancos estariam então instantaneamente em estado de recomeçar a emprestar.

Haveria mesmo uma legitimidade política na coisa...

Senão, se a mão invisível do mercado mão o pode fazer, uma mão visível pode : o Estado E a solução seria : apanhar todas as rédeas do banco, a nacionalização integral.


Como é fácil, quando se está de fora !!!!

O Senhor Embaixador tem razão : quando um fruto na árvore esta podre, é melhor verificar que não há outras!

aamgvieira disse...

O PM António Costa vendeu o BANIF por 150 milhões de euros ao Santander obrigando os contribuintes a suportar os prejuízos do banco em 1,7 mil milhões de euros, a que acrescem os 700 milhões que o Estado já lá tinha colocado.

O banco custará 2,25 milhões aos contribuintes.

Penso que Costa encontrará nos queridos e virtuosos apoiantes, uma solução do tipo que pretende para a TAP:

• Novos accionistas com dinheiro, sem gestão.
• Estado com gestão, sem dinheiro.

Um brilhante raciocínio do PM Costa.

Talvez Bildberg já tenha "solução" combinada com a UE.

A JOGATANA disse...

Saber não ocupa lugar.

Só com sabedoria se resolve o Banif em 2 dias, quando outros estragaram em anos.

A TAP há 40 anos a dar prejuízo, parece que vai ter solução (lucros) com "diálogo".

É o segredo do ovo-de-colombo.

Haja ovos para a omelete.

André disse...

Factos:

1. Os custos de uma não venda seriam pelo menos 3 vezes superiores e com consequências muito mais gravosas.

2.A TAP não só não dava prejuizo mas sim lucro, como os contribuintes não punham lá um centimo desde 1997.

Anónimo disse...

Caro Embaixador, cingindo-me apenas ao que diz sobre procurar saber se há mais problemas noutros bancos devo dizer-lhe que concordo plenamente consigo. Há, porém, um problema. O desejavel seria uma supervisão que efectivamente supervisionasse mas isso é extremamente dificil e ainda assim não seria possivel prevenir tudo. Uma supervisão desse cariz iria obrigar à presença permanente de gente do supervisor no banco, acompanhando permanentemente a sua actividade em muito pormenor. E mesmo assim... Por outro lado não poderia ser gente qualquer. É uma área que requer muito saber específico sobre banca e economia com um elevado grau de profundidade. Há relativamente pouca gente com esse saber e no grau de profundidade necessário. Ou seja, muita gente e gente paga a peso de ouro. O salário do PR multiplicado por três não chegaria para pagar a gente com este saber. Ora, isto é inviavel, evidentemente. E é inviavel em Portugal como em todo o lado, com bancos públicos ou com bancos privados.

A solução não pode ir pela utopia da supervisão. Tem que ir, isso sim, pela punição dissuassória, primeiramente e desde logo, dos Conselhos de Administração, leia-se dos seus membros individualmente, e, a seguir, dos accionistas embora aqui com várias nuances.

Devo salvaguardar ainda um aspecto. Há problemas que são causados por riscos excessivos e desnecessários que levam a investimentos ruinosos que são feitos com grandes insuficiências nas análises de risco. Mas há problemas, como em qualquer empresa ou familia, que decorrem da própria vida normal, de maus negócios que aparentavam ter tudo para correr bem, de conjunturas, de azares vários. Importa também dividir um pouco as coisas. Sinceramente não faço ideia em qual dos casos se enquadra o BANIF porque sinceramente nunca me dediquei a perceber o que é que por lá se terá passado.

Anónimo disse...

Amado, não sei porquê, quando as responsabilidades vêm à tona da água fica sempre muito calado e some-se...

Joaquim de Freitas disse...

Hoje de manhã, ao pequeno almoço, tirei uma laranja do cesto de frutos. Notei que haviam mais duas que entretanto tinham apodrecido. Mas ontem não estavam!

Isto fez-me reflectir no caso Banif.

A Banif faz parte do monstro que açambarca a energia do mundo : O POLVO GIGANTE.

A criação dum sistema mundial de controle financeiro nas mãos dos privados, capaz de dominar, como um todo, a política de cada país e a economia do mundo, um controlo, tipo de organização feudal, na qual todos os bancos centrais do mundo agiriam de maneira concertada, por acordos secretos.

Estamos no século, no qual as nações como as conhecemos ainda hoje, serão desusadas. Todos os estados reconhecerão uma única autoridade central. A soberania nacional acabou.

O Estado-nação como unidade fundamental da organização social do homem, tera cessado de ser a principal força criativa.

Os bancos e as empresas multinacionais agem e planificam em termos que ultrapassam os conceitos políticos dum Estado-nação.

Hoje a Banif passa para a Santander, e um dia a Santander passará para um animal maior, e assim de seguida...

Quando um banco de negócios concilia numa única instituição, numa clara violação da lei, as actividades de depósito, de investimentos e de seguros, a porta está aberta ao desastre final. Um dia, no cesto, aparecerá um fruto podre.

E se os políticos o permitem, é que eles são também o elo podre do sistema.

Manuel do Edmundo-Filho disse...

O anterior governo/Banco de Portugal não têm desculpa nenhuma (nem vergonha). Tiveram quatro anos para encontrar uma solução! Apresentaram a Bruxelas 8 (oito!) planos de reestruturação para o Banco. Os oito Bruxelas rejeitou! Se juntarmos a "isto" o BES, que está ainda por vender, "isto" só pode ter um nome:

INCOMPETÊNCIA.

Percebe-se agora melhor a raiva com que deixaram o governo: não poder continuar a esconder a incompetência.

Jose Martins disse...

Senhor Embaixador,
Há uns tempos que corriam uns zun-zuns que o BANIF estava nas lonas. Passos Coelho e Paulo Portas sabiam disso, mais do que ninguém e foram encobrindo o caso. Evidentemente que se eles bulissem no caso antes da eleições saberiam que perderiam votos.
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Não se pode culpabilizar este Governo, apenas o resolveu com custos para o "pagode" Eu não tenho dinheiro, mas se ainda o tivesse. como o cheguei a ter. continuava a ser depositado num banco estrangeiro.
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Os bancos em Portugal movimentam-se em modos “mafiosos” e bem provas foram dadas com as caídas do BPN (envolvida, na gerência, gente que pertenceu ao executivo do Governo do PM Cavaco Silva), BES e agora o BANIF.
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Alves dos Reis teria muito que aprender com esta gente!!!
Saudações de Banguecoque

Anónimo disse...

Depois do que temos vindo a observar como é a insolvência dum banco, chego à conclusão que é um belíssimo negócio, para quem o gere. Era bom que fosse divulgado para onde foram aqueles milhares de milhões... Agora dizer-se que o banco faliu, e não haver responsáveis, realmente ser banqueiro é um "negócio da China"...Coitado de quem rouba um chocolate no supermercado!...

Anónimo disse...

O BANIF estava sujeito a uma intervenção pública e o BES recusou-a. O Sr. Costa Não tinha alternativa por esse facto e não outro...o homem é hábil, mas é tudo menos iluminado.

Anónimo disse...

Desaparecem milhares de milhões de um banco, dos muitos do muito sólido sistema financeiro português, explicam-nos muito bem que ele não pode falir, que o melhor é pagarmos todos o prejuízo para não se pôr em causa a estabilidade do sistema; e pagamos. Sem ficarmos a perceber muito bem para onde desapareceu tanto dinheiro nem de quem foi a culpa.
Depois, de outro dos muitos bancos do bastante sólido sistema desaparecem mais uns milhares de milhões, explicam-nos bastante bem que ele não pode falir, que o melhor é pagarmos todos o prejuízo para não se pôr em causa a estabilidade do sistema financeiro; e nós pagamos. Sem ficarmos a perceber bem para onde desapareceu tanto dinheiro nem de quem foi a culpa.
Depois, de outro dos muitos bancos do sólido sistema financeiro português desaparecem mais uns milhares de milhões, explicam-nos que ele não pode falir, que o melhor é pagarmos todos o prejuízo para não se pôr em causa a estabilidade do sistema; e nós pagamos. Sem ficarmos a perceber para onde desapareceu tanto dinheiro nem de quem foi a culpa.
Depois, de outro dos muitos bancos do sistema financ…
Manuel J. C. Branco

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...