Foi já há muitos anos. Era noite de Consoada, já muito sobre a hora do jantar. Eu ia de carro, atrasado, na recolha de uma doçaria que tinha de ir buscar "às Coelho", ali abaixo da Sé de Vila Real. Estava imenso frio e ventava forte, numa avenida Carvalho Araújo completamente deserta, sem vivalma. Ou melhor, havia uma pessoa. Uma mulher, ainda jovem, com cabelos ao vento, estava parada, com uma mala ao lado, no passeio junto ao qual habitualmente paravam os táxis, então chamados "carros de praça". Teria chegado na última carreira do Cabanelas, pensei. Visivelmente, aguardava que um carro surgisse, para a levar, talvez a um aldeia próxima. Era uma esperança vã: nenhum "chofér" abandonaria a comodidade da noite caseira para um "serviço" não combinado. Passei por ela e fui buscar os doces. No regresso, ela ainda ali continuava, especada. com um olhar que me pareceu algo ansioso, que se cruzou com o meu, à passagem. Fui para o meu jantar. Por todos estes anos, a imagem dessa mulher só acompanhou-me. Onde teria ela passado aquela sua Consoada?
2 comentários:
Não o critico. Mas não tenho a certeza que, numa situação dessas não providenciasse qualquer coisa em favor da Senhora.
Todas as mulheres, alguma vez na sua existência, ter-se-ão encontrado nessa situação. Umas, mesmo correndo riscos, aceitam uma boleia. Outras, sem essa ousadia, continuam à espera. Outras, ainda, metem-se ao caminho na esperança de que o táxi apareça...
Como diz o meu amigo, é a vida!
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