terça-feira, dezembro 15, 2015

ONU - 60 anos de presença portuguesa

Passaram ontem os 60 anos da presença de Portugal nas Nações Unidas. A data foi assinalada discretamente. De relevante, apenas li um bom artigo do MNE português no "Público".

Portugal entrou para a ONU dez anos depois da criação da organização. Em 1945, a escassez de credenciais democráticas inviabilizara o nosso acesso, embora, anos depois, em 1949, o óbice curiosamente não existisse para o ingresso na NATO, onde, pelos vistos, o nosso país era tido como parte do "mundo livre". Só em 1955, um largo acordo Leste-Oeste viria a permitir a entrada de Portugal, a par de outros Estados.

Não iria ser nada fácil o percurso português na ONU. Os ventos sopravam a favor da descolonização, mas Portugal "assobiava para o lado", como se o assunto lhe não dissesse respeito. As nossas colónias tinham passado a ser denominadas "províncias ultramarinas", pelo que o problema era "dos outros", que não entendiam que entre Melgaço e Ocussi a questão era apenas de coordenadas geográficas. 

O desfecho da tensão instalada entre Portugal e a União Indiana em torno do estatuto do Estado da Índia, no final dos anos 50, fez prenunciar o vendaval político que o início da luta angolana pela independência, em 1961, iria instalar em permanência. Com a criação nesse ano do Comité Especial para a Descolonização - o chamado "comité dos 24" - ficou criada uma frente que iria passar a atazanar a diplomacia portuguesa. A ONU transformou-se num dos principais palcos da nossa visibilidade externa, num acossamento constante, que viria a conduzir ao afastamento forçado de Portugal de algumas agências da organização. A ditadura e a política colonial, que tornaram o nosso país "orgulhosamente só" no mundo, iriam ter nas Nações Unidas a sua "bête noire". 

A Revolução portuguesa de 25 de abril de 1974, abriu o mundo multilateral a Portugal, que, de um dia para o outro, passou a ser o "enfant chéri" da ONU. Menos de cinco anos depois, o nosso país ascendia pela primeira vez a um lugar de membro não permanente do Conselho de Segurança. Aí regressaria em 1997/98 e 2011/12, sempre com prestações de grande qualidade, que muito prestigiaram a nossa imagem. Pelo meio, ficaram algumas décadas de presença muito profissional e competente de Portugal nas várias instâncias da organização e suas agências. A luta pelo direito de autodeterminação de Timor-Leste iria confirmar-nos como um país com sólidos princípios e uma persistência e coerência notáveis. A participação portuguesa em diversas operações de paz no quadro onusino grangeou-nos também o respeito generalizado.

Portugal pode e deve orgulhar-se pelo que fez nas Nações Unidas ao longo das suas seis décadas de presença. E deveria dizê-lo mais alto.

7 comentários:

Anónimo disse...

Embaixador, eu sou de esquerda, algures entre a ala esquerda do PS e o PC, mas sou muito sincero na guerra colonial sempre fui por Portugal, acima do regime fedelho estava um País com Séculos de História. Aliás ainda bem que nao me enganei, porque ao ouvir os surroes dos angolanos e alguns brasileiros, digo que foi pena a nossa tropa nao ter usado mais napalm para queimar esses turras todos.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro aamgviera. Quem decide os temas que por aqui se tratam sou eu, não são os comentadores

António Azevedo disse...

De que ala do PS para a esquerda é que se pode dizer que se queimam os turras todos sem ser desancado como um energúmeno nazi?
Se o PC estivesse no poder quando as "brisas" começaram a soprar a favor da descolonização a coisa tinha sido bem pesada pelos vistos. Não? E o PS? Alguém "manda" um palpite?
Ainda me surpreendo...
antónio pa

Retornado disse...

"O desfecho da tensão instalada entre Portugal e a União Indiana em torno do estatuto do Estado da Índia, no final dos anos 50, fez prenunciar o vendaval político que o início da luta angolana pela independência, em 1961,"

Fácil ver hoje após ver o que aconteceu, com Angola e principalmente Guiné, e até mesmo com Timor que quase desapareceu como nação, que foi o caso mais idêntico com Goa Damão e Diu.

A irresponsabilidade da ONU tornou-se a principal responsável por tantos massacres em África que fazem esquecer as escravaturas dos sec. XVII e XVIII.

O que se passa mesmo hoje em África que a Europa sofre as consequências no túnel da Mancha , em Melila e Lampedusa, não aconteceria se os discursos na ONU de Paulo Cunha Franco Nogueira e Rui Patrício, a mando de Salazar, não seria este caos, que nós aqui não sentimos muito.

De facto a história deve ser escrita a «frio», à distância.



Anónimo disse...

ó antónio pa, o que quererá dizer o resto desta palavra, tenho um palpite um tanto libidinoso, mas será olhe antes de ser Ps ou PC, sou portugues, e voce o que será pa......n......

Unknown disse...

Pena é que o resultado de tão grande esforço do trabalho da ONU seja tão fraco e tão dispendioso.

Anónimo disse...

"Portugal entrou para a ONU dez anos depois da criação da organização. Em 1945, a escassez de credenciais democráticas inviabilizara o nosso acesso"

ó meu senhor... isto é só rir... e quais eram as credenciais democráticas da URSS, da Polónia, etc?!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...