quarta-feira, dezembro 09, 2015

Complacência


Tenho a maior das penas pelas famílias dos adolescentes que morreram quando pintavam comboios numa estação do Porto. E, naturalmente, pelas vidas que se foram. Mas o reconhecimento da tragédia não me leva a ter a menor complacência para com esses atos delinquentes, que anualmente causam à empresa ferroviária portuguesa (isto é, a todos nós) centenas de milhares de euros de prejuízos.

Mas, quase tanto quanto essa atividade, choca-me a atitude de "compreensão", travestida no reconhecimento dessa forma marginal de arte, que hoje é muito comum ouvir-se e ler-se por aí. Como se acaso a marginalidade fosse um valor em si, como se sempre emanasse dos comportamentos desviantes uma espécie de "aura" criadora, como se fosse natural a aceitação de uma cultura de transgressão, mesmo que daí derivem custos para outros. 

Acho muito bem que possam ser dados meios a quem usa com jeito sprays de tinta para alegrar paredes ou casas em ruinas, para criar ambientes de arte de rua em locais apropriados. Mas acho que deve haver mão dura para os delinquentes que delapidam bens públicos e privados, que não resistem a riscar uma parede imaculada, apenas para puro gozo pessoal. E que seja apontada a cumplicidade de quem lhes dá guarida "teórica" e que, muito provavelmente, ficaria furioso se fosse a sua porta ou o seu carro a sofrer esses danos.     

17 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Absolutamente. Os "tags" constituem frequentemente uma poluição agressiva Creio também que é preciso parar de caucionar não importa quê em nome da liberdade de expressão ou dum álibi artístico. Que custa muito caro aos proprietários ou às municipalidades. Na minha comuna; uma multa de 1 200 euros foi aplicada a um grupo de jovens que conspurcaram um edifício publico novinho! Que pagaram com trabalhos comunitários.

Tendo dito isto, a morte dos jovens é uma tristeza absoluta.

Luís Lavoura disse...

Como é que os graffitis nos comboios causam à CP milhares de euros de prejuízo? De que forma? Será que os passageiros se recusam a viajar em comboios pintados?
Eu acho que já viajei em comboios pintados e paguei o meu bilhete como de costume, sem qualquer desconto.

Luís Lavoura disse...

Neste país, sempre que morrem adolescentes ou jovens que estavam a fazer um disparate perigoso qualquer (exemplos: que estavam a fazer uma praxe à meia-noite na praia do Meco, ou que estavam a conduzir a alta velocidade um automóvel cujas chaves tinham roubado à tia), há uma carpideira nacional, uma tristeza horrível, um grito uníssono de "Coitadinhos!...", como se não fosse perfeitamente normal adolescentes e jovens meterem-se em asneiras perigosas e, ocasionalmente, sofrerem as respetivas consequências.

Ferreira da Silva disse...

Ex.mo Sr Embaixador,
Eu, sendo da Maia, onde aconteceu esse desastre, não posso estar mais de acordo com o que o Sr Embaixador escreveu. A começar pelos pêsames às Famílias enlutadas.
Mas, e como bem refere, há que se dar combate a essas práticas.
Há uns anos, numa conferência em Lisboa, o ex-Mayor de New York, Rudolph Giulliani, explicou como havia conseguido travar a delinquência que grassava na sua cidade quando tomou posse. Tudo passou, entre outros factores, naturalmente, por uma luta sem tréguas ao pequeno delito. E, desses, nomeava, em especial, a questão dos graffiters pelo que de sentimento de impunidade transmitiam.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Luis Lavoura. Louvo-me na informacao divulgada pela CP. E é preciso tirar as pinturas, não é?

Anónimo disse...

Concordo inteiramente consigo, caro Francisco.

Um abraço

JPGarcia

aamgvieira disse...

Um graffiti, oral:

"Tudo no meu corpo é Minho, todo o meu corpo é Norte".
Sampaio da Nóvoa

Unknown disse...

"aamvieira" não foi só isso que Sampaio da Nóvoa disse. Sobretudo a seguir ao que aqui refere. Quem tenha paciência e tempo que veja na SIC o que SdN disse. Nada de manipular o que outros disseram. Não fica bem!
Quanto ao que o autor do Blogue diz, não vejo nada que possa ser conden´vel. Uma coisa é a morte, infeliz e tristemente lamentável, dos ditos jovens (arrepia de pensdar em semelhante tragédia - tenho filhos próximos dessas idades!), outra o abuso, condenável, dos Grafitti, que deveria ser, nos termos aqui relevados, por Seixas da Costa, punido, sem apelo nem agravo.

Luís Lavoura disse...

é preciso tirar as pinturas, não é?

Não, não é. Os comboios podem permanecer pintados.

Ou então, pode limpar-se apenas os vidros, para os passgeiros poderem ver a paisagem.

Anónimo disse...

Caro Embaixador, como nao sou hipócrita vou já dizer ao que venho, muito sinceramente fiquei mais triste e revoltado com o envenamento de leoes inocentes por malditos Masai no Quénia, do que com estes artolas que levaram com o comboio. Destes nao fazem cá falta nenhuma. Tenho dito.

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Se um pombinho inocente largar uma "caganita" na fatiota do sr. Luís Lavoura e uma outra num olho, estou mesmo a ver: limpa o sr. o olho, para que possa continuar a ver os comboios a passearem os grafittis, e continua a sua caminhada, impávido e sereno, seguríssimo das suas prontas "sentenças".

Se acaso isto um dia lhe acontecer, só será de lamentar os bois não terem asas...

Anónimo disse...

Quem será este artista que vem de barrete á guardador de cabritos, filho de quem.

ARPires disse...

Foram só três os apanhados!
O quanto eu lamento, pois mais um dúzia de palermoides delinquentes irem fazer companhia a estes e livra-nos-ia-mos desta peste.
Não consigo entender o gozo que possa dar a destruição do património construído, quantas vezes sem o mínimo de desleixo e vem um ser pérfido com seguidores do tipo do sr. Lavoura destruir o que é de todos.
Por mim era bala em cima desses fdp todos, tenho dito.
Em alternativa uma lata de tinta pela cabeça abaixo e enfiar-lhe de seguida o balde de forma a não o poderem retirar da tola.
Dos pais também não tenho pena nenhuma porque só os souberam fazer e parir, mas não os souberam educar e só têm mesmo aí o resultado do seu desleixo.
Sou a favor de arte de rua, mas como a faz um Alexandre Farto, a maioria dessa gangada só serve mesmo para destruir.

ARPires disse...

Que pena isto não ter um grande GOSTO, para colocar na escrita de Manuel do Edmundo-Filho. Muito bom, subscrevo totalmente com uma única diferença no lugar dos bois punha elefantes.

Anónimo disse...

como não estamos no face...gostaria de "levar" o comentário do Manuel Edmundo-Filho...
CC

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Ao anónimo das 12:22

Eu sei de quem sou filho: do Manuel do Edmundo. E "vocemecê"? Anónimo, filho de anónimo é...

Anónimo disse...

Penso mais que este zé do boné é mais filho do Mundo.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...