quinta-feira, dezembro 10, 2015

Pedido de Ajuda


Alguém pode acreditar que estas são as traseiras do Palácio onde, na noite de ontem, o chefe do Estado ofereceu um banquete oficial a um convidado estrangeiro, de um espaço museológico com pergaminhos, onde se situam as instalações do Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (!!!) e, last but not least, do Ministério da Cultura? 

Um dia, num Conselho de ministros em que estive presente, vai para 20 anos, recordo-me deste "escândalo" ter sido aflorado. Não me recordo de pormenores do que então se decidiu. A única coisa que sei é que as coisas estão ainda hoje no estado que se pode ver na imagem e passível de ser observado por quem suba a Calçada da Ajuda a caminho de Monsanto.

Há mais de dois anos, escrevi por aqui isto:

A "malapata" de Santa Engrácia acabou nos anos 70. Fizeram-se entretanto o CCB e imensos quilómetros de autoestradas, pavilhões gimno-desportivos, rotundas, milhares de obras, muitas delas inúteis, para encher o olho e o bolso patobravista autárquico. Terá também havido dinheiro para construir, de raíz, um novo e muito discutível Museu dos Coches. Neste mar de fundos, por que será que o Palácio da Ajuda permanece como o parente pobre do nosso mais valioso património histórico-arquitetónico?

O novo ministro da Cultura, João Soares, que foi um magnífico presidente do município lisboeta, tem, agora, mesmo à porta do seu gabinete, esta tragédia arquitetónica com que Lisboa convive há demasiados anos. Juntamente com Fernando Medina, que hoje dirige com saudável dinamismo a Câmara municipal, e com António Costa, que chefia o governo depois de muito tempo de sucesso no mesmo posto, seria importante que conseguisse encontrar uma solução para este estado de coisas. Ninguém reclama o impossível "completamento" do palácio, mas também se aguarda que não se acabe num remate modernaço, com ruínas e vidro. É que as "ruínas" da Ajuda não têm dignidade para serem salvas, são apenas um fruto "santaengraciano" da inércia e do desleixo.

Leia-se sobre este assunto o artigo de Paulo Ferrero no Público de hoje. 

7 comentários:

Anónimo disse...

É uma obra mui portuguesa: importante é a fachada, o resto que se lixe !

Anónimo disse...


De facto o Palácio da Ajuda (PNA) é um dos casos mais lastimáveis do Património Nacional. Mesmo Santa Engrácia não é comparável, porque após a lendária "maldição" não mais fora usada. Só nos anos 60 do século passado foi tomada a decisão de terminar as obras, sendo inaugurado como Panteão em 1966. O PNA teve um projecto de conclusão, penso que nos anos 50, de autoria de Raul Lino, quanto ao fecho do quadrilátero, fachada poente. Mais recentemente, há um projecto "modernista" que pretende prolongar as traseiras do Palácio para o espaço do Quartel da GNR, com ligação ao Jardim Botânico da Ajuda. Mais uma aventura arquitectónica que nada beneficiará um monumento que nascendo no século XIX parece merecer melhor acabamento. Assim se vão adiando decisões e gastando tempo e dinheiro…
José Honorato Ferreira

Flor disse...

É uma vergonha!! :(

aamgvieira disse...

Uma fotografia, que devia voltar a ser divulgada, uma vergonha !

Gonçalo Pereira disse...

Nem parece seu, senhor embaixador. O IGESPAR mencionado no texto foi extinto e integrado na Direccao-Geral do Património Cultural pelo decreto-lei 126-A/2011, de 29 de Dezembro. Quanto ao miolo do texto, subscrevo. É embaraçoso. Quando nos visitam estrangeiros e quando os portugueses passam por lá!

Luís Lavoura disse...

Deixem estar o palácio como está. Aumentá-lo, nem pensar. Demoli-lo, também dá trabalho e causa poeira. Deve-se gastar o mínimo de dinheiro possível em palácios.
Se acham que o palácio é vergonhoso, deixem pura e simplemente de o utilizar. Utilizem algo que já esteja construído. Pode até ser o Centro Comercial de Belém.

Anónimo disse...

Visitei-o há uns meses. Um local maravilhoso, sobretudo a parte com vista para o rio. As paredes estão cheias de humidade e a continuar assim daqui a pouco será um refúgio para drogados... Bastava ter-se gasto menos dinheiro no museu dos coches...
Quanto às traseiras, simboliza o restante...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...