As "fashion weeks" parisienses são uma ocasião tradicional para as representações diplomáticas serem bombardeadas com pedidos para obtenção de lugares nas filas prestigiadas, reservadas aos "voyeurs" nacionais (neste caso, mais às "voyeuses") da moda, desejos de emparelhar nas fotos da imprensa "rosa" com as vedetas de serviço.
Vários colegas meus me têm referido o tormento por que passam, todos os anos, para conseguir acomodar as sazonais solicitações do seu "social set".
No que nos toca, para além da óbvia ajuda a profissionais lusos do "métier" providenciada pela AICEP, esses pedidos não são aceites. Os tempos gloriosos da "cunha" diplomática já lá vão, há muito...
10 comentários:
A propósito das “cunhas” (diplomáticas), aqui referidas no Post, ocorreu-me uma história curiosa, passada comigo há uns anos atrás, num país da Europa de Leste. A revista “Playboy” decidira passar a ser publicada naquele país em causa. E, nesse sentido, organizou uma festa de apresentação da sua edição para aquele país, com toda a pompa e circunstância. E com inúmeros convidados, provenientes de diversos sectores profissionais, directa, ou indirectamente, relacionados com a “temática” Playboy. Assim, ali foram representantes de várias indústrias (da cosmética ao automóvel, neste caso, presumo que em virtude de as apresentações das novas viaturas nas Feiras internacionais dedicadas ao ramo não prescindirem de Beldades, semi-vestidas, encostadas, ou sentadas, nos carros ali expostos), de “boutiques”, comerciantes diversos, e até, do corpo diplomático (aqui confesso que não descortino razões de “proximidade de interesses” entre a Diplomacia e a Playboy, mas talvez eu seja obtuso!). Enfim, coisa fina, impecavelmente organizada, com todo o requinte, muito “champagne”, bom vinho, tudo muito bem servido e, naturalmente, como seria de esperar numa festa daquele género e organizada pela Playboy…inúmeras, melhor, uma verdadeira “colecção” de mulheres bonitas! E vestidas, sim, da forma mais ousada que se possa imaginar (decotes generosíssimos, saias curtas, etc). Mas tudo com bom gosto. Elas assim vestidas ficavam de estarrecer. Por momentos cheguei a pensar que me tinha enganado na porta e acedido por engano, ao Paraíso. Mas o mais “curioso” foi…à chegada. Tínhamos de mostrar os convites – quem ali foi fê-lo por convite (devo dizer que terá sido dos melhores convites que alguma vez recebi) – e ali estavam a receber-nos e a explicar-nos os “próximos passos”, diversas Beldades, de paralisar mesmo o mais circunspecto dos homens. Que, a par de nos explicarem os tais “seguintes procedimentos”, nos ofereciam – com um sorriso encantador - uma cópia do tal 1º número da “novel” edição Playboy, naquele simpático país. Onde elas mesmas, as nossas “recepcionistas”, estavam, diáfanas, “on display”! Foi enquanto folheava uma ou outra página, que pude compreender as razões dos tais sorrisos, à chegada. O engraçado é que em momento nenhum se sentiram, um segundo sequer, atrapalhadas. Depois de um agradável cocktail, em que fomos servidos, exclusivamente, por bonitas raparigas (vestidas), alguns de nós, pelos vistos nem todos tiveram esse privilégio, foram encaminhados para umas mesas, noutra sala, e ali foi-nos servido um excelente jantar. E em cada mesa onde ficámos, juntaram-se-nos umas Beldades (como que para “abrilhantar” cada mesa). Que aliavam a Beleza que Deus generosamente lhes concedera, com imensa simpatia - e educação. Foi, sem dúvida, um daqueles dias, ou antes, noites, memoráveis. Eu que, por norma, como bem e presto muito atenção ao que vou digerindo, com gosto, desconcentrei-me naquela noite. Foi-me difícil concentrar-me no que comia, com o que via. Um homem, nestas ocasiões, dispersa-se. Mas não me queixei. Muito pelo contrário. Pensei: “há dias de sorte, melhor, há dias memoráveis!” Foi o caso. Um momento, ou evento, que nunca mais esqueci. Pudera!
P.Rufino
"Os tempos gloriosos da "cunha" diplomática já lá vão, há muito..."
Perdõe-me, Senhor Embaixador, só se for a "cunha diplomática", porque as outras continuam florescentes. Passaram a chamar-se "jobs for the girls and the boys". Sempre é mais internacional...
Na moda, nem se fala. Basta ver os sapatos que vamos usando!
Meu caro P.Rufino
"...– e ali estavam a receber-nos e a explicar-nos os “próximos passos”, diversas Beldades, de paralisar mesmo o mais circunspecto dos homens."
Paralisar?! Não acredito. Sobretudo quando o esperavam "os próximos passos".
Perdõe-me que lhe pergunte se, depois disso, se fez assinante da revista?!
:))
Caro Embaixador:
Tenho uma irmã que vive em Paris. Na Rua de LA SANTÉ. Ela adorava assistir a um evento destes. Não será possível, com a inluência que V. Ex.A dispõe, propiciar à minha irmã um momento invulgar na sua monótona e longa estadia por terras parisienses?
P.S. O sítio mais IN onde essa minha familiar pôde estar, foi à porta do RASPOUTINE, famoso cabaret russo, sito na Rue Bassano, no seizième.
Ah. Desculpe, não tinha lido o seu post até final. Não é mesmo possível.
Bem, imediatamente à imagem captada da foto pela retina, surge uma construção mental imediata preditora do que estará escrito, confesso que pensei que o argumento se iria desenrolar através de saltos de cunha...
Isabel Seixas
Ah!,não menos interessante claro...
Caro P. Rufino que bem complementa o seu perfil psicológico, é tão agradável ver e sentir a sua forma de degustar as ocasiões...Permita-me inferir que guardará com empenho esse 1º número, pois claro como apreciador de Arte.
Estou com a Helena, Senhor Embaixador. Se a cunha diplomática já teve melhores dias, o mesmo não se pode dizer de todas as outras, pelo menos por cá. O espectáculo é diário e público, com casos de nepotismo de bradar aos céus. Enfim, eu diria que ainda nos falta muito para que a promiscuidade entre o poder e os interesses particulares dê lugar a uma atitude mais séria, numa democracia mais adulta.
O mundo anda a ficar estranho. Numa sociedade, supostamente, mais liberal e aberta, que até já deixou de ter certos preconceitos para com determinados comportamentos, uma prova de está a evoluir, o que se regista com satisfação, é com uma pontinha de perplexidade que se lê um ou outro comentário, respeitabilíssimos todavia. Será que falar do Belo sexo, pelo qual nutro o mais profundo respeito, sublinho, mas igual admiração, obriga – hoje em dia - a uma maior contenção, um cuidado particular, mesmo quando em nenhum momento, como julgo que foi o caso do meu anterior comentário, se ultrapasse um milímetro que seja, um vírgula que fosse, a fronteira entre a decência e o oposto?
Um dia destes ainda fico com complexos. Aquele episódio relatei-o tão só devido à excentricidade do mesmo, a que assisti divertido, mas porque, apesar de alguma bizarria, nunca ali faltou educação. Hoje, tanto quanto sei, aquele país tornou-se mais conservador e já não é “um país de Leste”, mas tão ocidental como nós, pois é membro da Nato e da União Europeia. Quem sabe se uma festa daquelas teria sido possível hoje, ou, melhor, teria suscitado interesse em a organizar. Se calhar não.
Quanto à revista em questão não só não guardei o exemplar, como não sou leitor da mesma. Prefiro outras. Mas, não me levem a mal, caras e estimadas Helena e Isabel, na ocasião, tudo aquilo foi divertido. E eu diverti-me, sem malícia. Limitando-me a registar apenas, com detalhe, toda aquela excentricidade.
Um abraço cordial a ambas, digníssimas representantes do Belo sexo, duas Mulheres que muito considero, respeito e leio como interesse os respectivos comentários.
P.Rufino
Ó meu estimado P. Rufino, jamais eu consideraria o seu comentário senão como aquilo que foi. Isto é uma "estória" deliciosa e uma experiência de que se guarda uma grata recordação. Que teve a gentileza de partilhar connosco.
Mas eu, que sou atrevida - dizem-me que é uma das minhas virtudes, mas também nunca fui muito dada a elas -, decidi enviar-lhe uma pequena farpa. E o meu amigo reagiu elegantemente.
Mas confesso-lhe: não assino a revista, mas se a tiver à mão vejo-a. Porque não?! Mulheres bonitas e de corpo expressivo nunca fizeram mal a ninguém e até podem ensinar algumas coisitas. Ou não?!
E eu diverti-me, sem malícia.
In P Rufino
Eu também, mas com a Sua história/vivência( E Quase punha também as mãos no lume pela Dra. Helena, embora não haja necessidade)
Daí que Caro P. Rufino a estima é reciproca e o altruísmo nem se fala...
E já agora obrigada por me inspirar e permitir pelo menos a Mim"Gracejar"
com todo o respeito é claro.
Isabel Seixas
Ah! pessoalmente não sou contra as cunhas até acho que eventualmente são uma demonstração personalizada de interesse forma de recrutamento com pré recomendação afetiva e triagem séria de paternalismo amizade ou interposta pessoa, desde que a habilitação vigente seja preservada.
Só não recorro porque sou pedante.
Isabel Seixas
O comentário da nossa Isabel é genial. Vou adoptar e ser... pedante!:))
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