quinta-feira, novembro 14, 2024

Petróleo


Para melhor se entenderem algumas decisões tomadas pelo mundo. A fonte é insuspeita.

Estados de alma

Há uns anos, tivemos por cá uma amostra paroquial de um governo que detestava o Estado a dirigir esse mesmo Estado. Era a lógica de "menos Estado, melhor Estado", esquecendo-se de acrescentar em público "e o que sobrar fica para nós". Depois, foi o que se viu: a necessidade de confortar a clientela tê-los-á coibido de ir demasiado longe. A América vai agora levar esse sonho à glória. "Fasten seat belts!" 

Ai Brasil

O Brasil fervilha sob uma forte tensão político-social. Os acontecimentos das últimas horas revelam que a fratura do país continua profunda e com condições para afloramentos cíclicos violentos. Este tipo de "lobos solitários" não nascem no vazio.

Digam ao que vêm

A guerra na Ucrânia não é uma situação de "business as usual". A cada hora morre ali muita gente. Cada vez se torna mais urgente que a futura administração americana esclareça, com clareza, as bases daquilo que se propõe fazer ou deixar de fazer. E, se tiverem tempo, informem Kiev e Bruxelas.

A "morte" da América

Nunca dei grande crédito a quantos, há muito, teorizam o declínio inexorável do poder americano. O seu sistema político-institucional pode estar a atravessar uma grave crise de funcionalidade, mas acho que as ideias sobre a "morte" económica e militar da América são um mero "wishful thinking" de quantos sempre a detestaram.

25 de Abril


A Academia Portuguesa de História premiou agora este livro de Irene Pimentel, sobre o 25 de Abril e tempos subsequentes. 

Talvez porque andei muito próximo de alguns dos acontecimentos desses dias e porque, depois disso, julgava ter lido praticamente tudo quanto sobre esse período foi publicado, tinha criado intimamente a ideia de que já "sabia tudo" e de que não iria ter mais surpresas. 

Há meses, li este livro e afinal nele vim a aprender algumas coisas novas. E ainda há dias, num almoço de gente que andou fardada por aquele tempo, obtive outros dados sobre certas questões que já considerava fechadas. A História, afinal, nunca encerra portas.

Um forte e amigo abraço à Irene pelo merecido reconhecimento que este seu interessante trabalho acaba de obter. 

E, já agora, porque se aproxima uma outra data, aqui deixo o meu "25 de Abril sempre!"

quarta-feira, novembro 13, 2024

Línguas

São uma imensa saloiíce os comentários sobre o modo como Luís Montenegro fala inglês. Falar bem línguas estrangeiras pode trazer vantagens, mas não é essencial. Houve mesmo um poliglota político lusitano de quem se dizia na Europa que conseguia não dizer nada em várias línguas.

Geografias


Quantos portugueses conhecem as extraordinárias instalações da Sociedade de Geografia de Lisboa? 

Parceria

O novo governo americano parece uma parceria público-privada.

A pergunta na "Visão"

Não consigo responder a uma pergunta na "Visão" desta semana. A única coisa que tenho por certa é que estávamos a ter uma conversa bem divertida, porque é o que acontece sempre que nos encontramos. Quer estejamos a subir ou a descer.

Body language


 

RTP


Tive o gosto de integrar o Conselho Geral Independente (CGI) da RTP, entre 2018 e 2021. Trata-se de um órgão de supervisão da RTP - Rádio e Televisão de Portugal, que entrou em funções em 2015, resultante de uma reforma introduzida pelo ministro Poiares Maduro. 

Composto desde então por personalidades com origens ou ligações políticas muito diversas. pude constatar, nos mais de três anos que ali me mantive (interrompi o meu mandato de seis anos, por motivos pessoais), como foi sempre fácil criar e preservar no seu seio um ambiente de sã cooperação, em prol do serviço público de rádio e de televisão. 

As pessoas são escolhidas para o CGI porque têm uma carreira anterior que as fez distinguir, pelo que seria impensável, até para a preservação desse seu prestígio pessoal, que viessem a funcionar como "correias de transmissão" de quem quer que fosse. E, com lisura e honestidade na ação, é perfeitamente possível manter independência, não obstante qualquer eventual ligação partidária.

Ao tempo em que estive no CGI, este passou, a partir de certa altura, a integrar os nomes de Leonor Beleza e de Alberto Arons de Carvalho. Tratando-se de duas figuras com um passado político ativo notório, posso testemunhar que nunca, na sua ação, detetei o menor viés político-ideológico, a vontade de "fazer fretes" às suas origens partidárias. 

Leonor Beleza assumiu recentemente responsabilidades políticas e entendeu dever afastar-se da presidência do CGI, o qual, no seu seio, elegeu, para substituí-la, Arons de Carvalho, um conhecido jornalista e professor universitário. 

Trata-se, à evidência, de uma das personalidades portuguesas com maior conhecimento da área da comunicação social, com obra publicada sobre o tema, tendo, no passado, sido titular dessa pasta em governos e tendo também ocupado funções na ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social). 

Alberto Arons de Carvalho é a escolha óbvia como novo presidente do CGI, lugar que, lembro, foi também já ocupado por António Feijó (atual presidente da Fundação Calouste Gulbenkian e antigo vice-reitor da Universidade de Lisboa) e por José Vieira de Andrade, catedrático da Universidade de Coimbra.

Desejo ao Alberto Arons de Carvalho um excelente trabalho à frente daquele importante órgão de supervisão - noto que é o CGI, nomeadamente, que escolhe e nomeia as administrações da RTP. 

A RTP não é uma típica empresa do Estado, um órgão tutelado pelo governo. É uma singular empresa pública, de que todos os cidadãos portugueses são "acionistas", pelo que pagam como "contribuição audio-visual" (CAV), na sua conta da luz. O atual estatuto da RTP permite-lhe resistir às eventuais tentações de pressão dos governos de turno, e isso foi uma imensa conquista que compete ao CGI tentar preservar. Contra todos os ventos e todas as marés que já por aí se estão a levantar.

terça-feira, novembro 12, 2024

Ainda a América


"Eleições nos Estados Unidos: que impacto para o Mundo" é o título de uma conferência que, às 17 horas de hoje, profiro na Sociedade de Geografia, na rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, a convite da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. A entrada é livre.

segunda-feira, novembro 11, 2024

Clube de Lisboa


Tivemos hoje uma reunião da equipa dirigente do Clube de Lisboa / Global Challenges. 

O que é esta organização? Trata-se de uma estrutura criada em 2016, por um pequeno grupo de pessoas, oriundas de áreas políticas muito diferentes, que tiveram a ideia de promover uma reflexão constante sobre os grandes temas globais, procurando tornar Lisboa (e Portugal) num espaço para debates de muito bom nível, nisso envolvendo personalidades exteriores, que ao longo destes anos cá se deslocaram, vindas de dezenas de países. 

O Clube tem mais de uma centena de associados, que pagam as suas quotas. É apoiado, desde o seu início, pela Câmara Municipal de Lisboa e pela ONG Instituto Marquês de Valle Flôr. O Clube não trata da política externa portuguesa ou de temas nacionais. Cuidamos em manter e alargar a forte diversidade política que teimamos em cultivar.

O que faz o Clube? Desde o seu início, temos levado a cabo a organização de "Lisbon Talks", que são debates presenciais com algumas dezenas de pessoas, em torno de oradores convidados. Exclusivamente através de meios digitais, temos vindo também a organizar o que já foram largas dezenas de "Lisbon Speed Talks", conversas de pouco mais de meia hora sobre temas relevantes, com larga visualização, beneficiando da intervenção do público.

De dois em dois anos, o Clube organiza as Conferências de Lisboa, que trazem à Gulbenkian, durante dois dias, algumas dezenas de oradores e centenas de pessoas a assistir, sem o menor custo de entrada ou participação. Acabámos há precisamente um mês a 6ª Conferência de Lisboa. Mas envolvemo-nos também na organização de outras iniciativas, como as Conferências sobre os Estados Frágeis, sobre a Segurança do Indo-Pacífico e outras.

O Clube, que não tem sede física e tem como regra não escrita procurar fazer bem as coisas com muito pouco dinheiro, é dirigido por uma estrutura diretiva, a que presido desde 2019, eleita em Assembleia Geral de associados. Naturalmente, toda a nossa colaboração e tempo gasto são feitos "pro bono". 

A estrutura permanente de pessoal do Clube de Lisboa é minúscula. Trabalhamos na lógica de uma espécie de "sopa da pedra", apenas contando, para as Conferências, com um limitado apoio complementar de alguns "sponsors", institucionais ou privados. Uma nota curiosa: nenhum orador nas iniciativas do Clube, português ou estrangeiro, recebeu alguma vez qualquer pagamento. Como conseguimos isso? O segredo é a alma deste negócio onde não há o mínimo negócio.

A reunião que hoje fizemos foi para avaliar as "lessons learned" na 6ª Conferência de Lisboa e lançar um programa de ação para 2025. Ambicioso, porque é assim que gostamos de trabalhar. 

Por aqui e pelas diversas redes sociais anunciamos as nossas iniciativas. Por que não vai ao site do Clube de Lisboa e fica a saber um pouco mais sobre o que fazemos? Até pode dar-se o caso de vir a estar interessado em participar nas nossas realizações, que são abertas a toda a gente, sob inscrição, tendo como única limitação a disponibilidade dos espaços.

domingo, novembro 10, 2024

A Rúben Amorim


Imagino o "frisson" do meu advogado ao descobrir-me a escrever a um treinador de futebol. "Here he goes again!" Descansa, Manel! 

Quem escreve este post é um sportinguista, sócio com as quotas pagas, que há anos não vai a Alvalade nem vê em direto pela televisão o Sporting jogar, não porque tenha qualquer deficiência cardíaca, mas porque sofreu, ao longo da vida mais recente, tantas e tantas desilusões que, pura e simplesmente, não está para correr o risco de se chatear. Quando sei que o Sporting ganhou, revejo os jogos. Quando a coisa correu mal, tenho muito para ler na minha biblioteca. 

Dizem-me que o Rúben Amorim tem uma linguagem educada nas conferências de imprensa e no modo de falar dos árbitros. Só posso imaginar que assim seja, porque apenas de raspão me recordo de ter ouvido uma ou outra vez a sua voz, num zapping casual. Por deliberada opção televisiva, não ouço treinadores, jogadores, dirigentes e comentadores de futebol, vendo os jogos em "mute", quase sempre com música ao lado. 

Sei que o Rúben Amorim se vai embora, tentado por uma proposta simpática do Manchester United. Eu preferiria que continuasse por cá, como é evidente, mas faz o meu amigo muito bem! Ninguém pode exigir sacrifícios no IBAN a um profissional, que tem o direito legítimo a ser feliz e a ter uma ambição maior, à medida dos seus desejos e méritos. 

Queria assim dizer-lhe, com imensa sinceridade, que espero que venha a ter os maiores êxitos, muito embora, neste ano, na Premier League, nem com um milagre lhe vá ser possível levar os "red devils" ao alto na tabela. 

Por mim, por cá, ficarei a puxar por si. As alegrias que me trouxe, ainda que sempre em diferido, merecem isso. "Good luck!", caro Rúben Amorim. 

E agora vou ver o jogo do Sporting com o Braga. Depois do jogo ter terminado, claro!

Boas e más notícias


Não é todos os dias que recebemos boas notícias, como esta, sobre o afastamento das chances de gente insalubre. Mas, ao fim do dia, ninguém sabe ainda se não virão por aí piores notícias, com a escolha de gente que acabará por tornar Haley e Pompeo escolhas aceitáveis. 

À mesa com Carlos Mathias


Há poucos dias, tive o gosto de intervir na homenagem que foi prestada na embaixada do Brasil em Lisboa ao magistrado brasileiro Carlos Fernando Mathias, por ocasião da publicação do livro "História do Direito Luso-Brasileiro", de que é co-autor. Mathias morreu em maio deste ano, com 85 anos.

Carlos Mathias foi um excelente amigo com quem pude contar durante os anos que vivi em Brasília. Com uma dedicação imensa a Portugal, país que visitava com frequência, nomeadamente para participar em iniciativas da Universidade de Coimbra, empenhou-se muito numa estrutura de cooperação na área do Direito, envolvendo juristas italianos, espanhóis, portugueses e brasileiros. 

No âmbito de uma dessas iniciativas, pediu-me um dia para eu acolher, num almoço na embaixada, cerca de duas dezenas desses juristas, alguns dos quais portugueses, nessa altura congregados em Brasília. Disponibilizei-me a fazê-lo, explicando contudo que a mesa da nossa residência não podia comportar, sentados, mais do que (creio) 24 pessoas. 

Mathias enviou-me a lista de quantos iriam estar presentes e lá organizei o almoço, com lugares marcados. O grupo foi chegando em várias levas. Carlos Mathias, viria um pouco mais tarde. Eu ia recebendo os convidados à porta, reconhecendo-os na lista que antes tinha recebido. 

A certa altura, apresenta-se-me um cavalheiro, que diz o nome e o título: reitor da universidade de Cuiabá. Cuiabá é a capital do estado de Mato Grosso. Fiquei perplexo. O nome não constava da lista e, mesmo com esforço, não cabia mais ninguém na mesa. Que fazer? Via-me com o problema de ter de deixar o inesperado académico matogrossense de fora do repasto.

A certo momento, com a alegria e a boa disposição que era sempre a sua, irrompe Carlos Mathias. Durante o abraço que demos, disse-lhe ao ouvido: "Carlos, temos um problema. Está aqui uma pessoa que não estava prevista". E arrastei-o até à sala de jantar, para lhe explicar, à evidência física, que não cabia mais ninguém.

Mathias olhou a mesa e disse: "Você tem razão. Eu precipitei-me ao convidar, no último momento, o professor de Cuiabá, que estava ali connosco e que achei ser possível acomodar". Sob pressão, retorqui: "E agora, como fazemos?". O Carlos abriu um sorriso e, tirando o telemóvel do bolso, respondeu: "Não tem problema. Adoece o Norberto". Havia, de facto, um Norberto na lista dos convidados. Carlos Mathias explicou: "O Norberto disse-me que está ligeiramente atrasado. Assim, já não vem: adoece... Tenho suficiente confiança com ele para lhe pedir o sacrifício". E lá almoçámos sem o "doente" Norberto, que nunca conheci, mas com o simpático reitor de Cuiabá, que tive muito gosto em conhecer.

Coisas das Necessidades

De um dia para o outro, vi-me apresentado em duas televisões como "embaixador jubilado". Não pedi o estatuto profissional de jubilado, sou simplesmente aposentado, como qualquer funcionário público. Há diferenças? Há. Um jubilado ganha um pouco mais, mas tem limitações no tocante ao exercício de outras atividades profissionais. "Just for the record".

(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

Jorge Coelho


A Academia Jorge Coelho é uma iniciativa dos jovens socialistas de Mangualde, um lugar de debate de grandes temas, que já vai na sua terceira edição. Pretende homenagear alguém que foi uma figura de relevo da cidade, que muito se dedicou à sua terra, à qual se manteve sentimentalmente ligado ao longo de toda a sua vida.

Ontem, Pedro Siza Vieira e eu fomos convidados para duas estimulantes conversas, tendo jovens como interlocutores, antes do alargamento do debate à assistência. O antigo ministro falou sobre Coesão Territorial, cabendo-me a mim os temas contemporâneos da Geopolítica. 

Foi um interessante e estimulante exercício. No final, dei-me conta de que não consegui ser muito otimista. Sendo esse um luxo a que me posso dar, por não ter responsabilidades políticas, arrependi-me de não ter feito um esforço maior para tentar dar alguma esperança àqueles que são os donos do futuro. Ou talvez haja vantagens em deixar as novas gerações preocupadas. Não sei.

(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

sábado, novembro 09, 2024

Um belo museu


Fui hoje à recuperada Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, perto de Carregal do Sal, onde está instalado o Museu Aristides Sousa Mendes. É excelente e merece uma visita.

(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

António Guterres a dizer, bem, o óbvio

 


(Até indicação cem contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

Lembrar

 


(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

Benfica


Não deixa de ser curiosa a similitude dos símbolos dos escudos americano e do Benfica. Nunca tinha pensado nisto.



(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

Dizer isto pela enésima vez

Por estes dias, importa afirmar o direito à segurança do Estado de Israel, nas fronteiras que o Direito Internacional lhe reconhece. E, igualmente, de uma Palestina independente, com atributos de soberania idênticos. Não é preciso inventar nada: basta seguir as resoluções da ONU. 


(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

Saídos da toca


Andavam escondidos, assustados com as sondagens. Após o dia 5, os trumpistas das redes sociais fizeram o seu "outing". E vão-se "chegando". São afinal bem mais do que até agora eram, porque a vitória insuflou-lhes a coragem. "Stand up to be counted"! E "named", porque queremos conhecê-los.

(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

Post - Jacobs


O belga Edgar P. Jacobs escreveu e desenhou, até à sua morte, 14 álbuns com as aventuras de Blake, Mortimer e do "mau da fita", Olrik. A quem não conhecer e ficar tentado, aconselho os dois álbuns de "O Mistério da Grande Pirâmide", para mim a obra-prima de Jacobs.

Desde o desaparecimento de Jacobs, em 1987, vários outros autores procuraram segui-lo e "copiá-lo", criando o que já são 19 outros álbuns, numa espécie de sequela sem ritmo certo, que tem de comum as figuras centrais originais e múltiplas referências quase só identificadas pelos cultores "jacobsianos". 

O último álbum acaba de sair e chegou-me ontem, quase ainda a cheirar a tinta. A autoria é de Yves Sente e André Juillard. Juillard morreu em julho de 2024.

O "maníacos" da obra de Jacobs - e eu sou assumidamente um deles - têm doutrina própria sobre a diferenciada qualidade dos seus continuadores, mas, lá no fundo, anseiam sempre pela publicação dos novos álbuns.

Ontem à noite, à entrada para um concerto, cruzei-me com um amigo sempre interessado pela obra de Edgar P. Jacobs. Informei-o da saída deste novo volume. Do alto dos seus 77 anos, ficou logo entusiasmado. Somos assim, os velhos "maluquinhos" pela obra de Jacobs & aparentados, quiçá através dela procurando prolongar no tempo a nossa adolescência.

(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

sexta-feira, novembro 08, 2024

Há oito anos escrevi aqui isto


"Donald Trump ganhou com toda a legitimidade, por muito que isso custe a ouvir. É claro que a sua campanha assentou em propostas e ideias marcadas por um imenso primarismo, por muitas mentiras e meias verdades, pelo apelo a sentimentos básicos, a preconceitos e mensagens perigosas e divisivas. Mas a América é um país livre, onde tudo se pode dizer. Trump teve contra si imensos setores da comunicação social, que, embora em alguns casos sem grande entusiasmo, favoreceram a sua competidora.

E, no entanto, Trump venceu. Venceu porque soube representar, à sua maneira, essa imensa, e pelos vistos maioritária, massa de descontentes, os deserdados da globalização, os temerosos da imigração, os incomodados com o novo curso do “melting pot” que fez o seu país e, principalmente, os enraivecidos com a máquina federal que Trump diabolizou e a que, agora, ironicamente, vai presidir. Trump é a vitória da democracia, no seu lado mais sombrio.

A vitória de Trump tem, para além de tudo o resto, que é muito, um “side effect” perverso, na minha perspetiva. É que ele, e aquilo que ele representa, são a condenação explícita de tudo quanto a presidência Obama trouxe para a América - a tolerância, o equilíbrio, a atenção às dimensões sociais e étnicas que a “selva” tinha condenado. É o regresso de uma outra América, feita de uma agenda negativa de medos, disposta à clivagem e ao confronto. Mas – repito, para que se não esqueça – essa América é hoje maioritária e, pelas mesmas razões por que nos desagradava a ideia de Trump de que não aceitaria um resultado que lhe fosse desfavorável, as regras da democracia obrigam todos a respeitar esta escolha.

Agora, há que viver com Trump, ou melhor, há que saber desenhar o modo como nos relacionaremos com a América de Trump. Desde logo, na Europa, onde o exemplo do que se passou nos EUA deve ser bem refletido, no caminho para sufrágios que aí vêm. Vai ser um tempo estranho, inédito. Mas o mundo é assim, embora, com Trump, seguramente vá ser um mundo muito mais difícil."

(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)

Relembrar


Ainda dá tempo para passar este sábado pelo Bazar Diplomático, na antiga FIL, à Junqueira. 

Há por lá coisas de todo o mundo à venda, a preços de "pechincha". E os parcos lucros vão para fins de beneficência. 

Ah! E tem estacionamento em frente.

Lembre-se das ofertas para o Natal! 

Pousio


Atenta a enxurrada de comentários agressivos que este blogue está a sofrer, a que não é estranho e efeito trumpista e de extrema-direita, decidi suspender por alguns dias a publicação de qualquer comentário, qualquer que seja a sua natureza. A seu tempo, avisarei quando voltarão a ser publicados novos comentários. Aos meus amigos mais serenos, atingidos por esta "fatwa" genérica, deixo o meu pedido de desculpas.

A liberalidade das assinaturas


Um partido que passa os dias a encharcar o país de cartazes moralistas afinal apresentou, como candidato a Presidência da República (!!!), um troca-assinaturas confesso. O problema, já se percebeu, não se chama Tiago Mayan, chama-se Iniciativa Liberal. Virem agora distanciar-se do "senhor Mayan", um dos seus escassíssimos autarcas, só pode provocar gargalhadas. 

Caras da diplomacia


Os diplomatas, enquanto carreira profissional, são frequente alvo de alguns preconceitos, o mais das vezes expressos sob a forma de graças, muito mais raramente com base em quaisquer fundamentos sólidos. A psicologia da inveja explicará muito isso. 

Quem, como eu, passou quase quatro décadas nessa área e várias vezes decidiu ir a jogo, na comunicação social, em defesa da dignidade da carreira diplomática, dando o corpo às balas da crítica, conhece há muito esse débil argumentário adverso.

Hoje, a pretexto de uma hipótese de atualização salarial de que se fala para a carreira diplomática - e que não abrange os embaixadores aposentados, esclareço -, carreira que não é minimamente equilibrada com outras similares desde 1998, ressurgiram logo a terreiro esses tais preconceitos. Nada que fosse de estranhar e a que a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses (de que, no passado, tive o gosto de ser vice-presidente da direção e presidente da Assembleia Geral) já deu devida e serena resposta.

Também no dia de hoje, soube-se que, no tocante ao lugar de secretário-geral do SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa), que tem um papel charneira entre os serviços de informação interna e externa, o governo decidiu cessar as funções da embaixadora Graça Mira Gomes e nomear para o seu lugar o embaixador Vitor Sereno.

Graça Mira Gomes estava com o destino marcado desde o dia em que o então líder da oposição e agora primeiro-ministro, Luís Montenegro, com uma lamentável ligeireza, decidiu pôr o nome daquela qualificada diplomata em causa, em público, atribuindo-lhe eventuais responsabilidades, por um qualquer ato ou omissão, no caricato episódio do computador do assessor do ministro das Infraestruturas do anterior governo, em que houve uma intervenção do SIS. A justiça, como é sabido, entendeu entretanto não dar a menor sequência ao ridículo assunto, mas o gesto político ficou feito e Luís Montenegro entendeu agora dar sequência ao arbítrio e concretizou mais este óbvio saneamento.

Para substitir Graça Mira Gomes, o governo foi buscar Vitor Sereno, atual chefe de missão em Tóquio, um quadro diplomático com provas dadas, um excelente profissional da nova geração, que, ao que sei, fez um belíssimo trabalho em todos os cargos e postos diplomáticos por onde tem passado. Sereno é um "doer", com sentido de Estado e dotado de uma reconhecida energia profissional, que lhe tem grangeado merecida visibilidade pública. Estou certo de que vai investir toda essa sua dinâmica pessoal no cargo que irá agora exercer, embora, neste caso, forçosamente de forma muitíssimo mais discreta. Com a sinceridade de quem há muito é seu amigo, só lhe posso desejar felicidades, antecipando um excelente trabalho.

Não nos admiremos, no entanto, se, nas próximas horas, surgirem por aí vozes a pôr em causa a preferência por diplomatas para exercer este tipo de funções.

Com escassas e infelizes exceções, que o bom gosto não me deixa recordar, os diplomatas portugueses demonstram, em regra, um sentido de serviço público que os levam a trabalhar, com lealdade e sem viés funcional, com os diversos governos que o voto dos portugueses regularmente vão colocando em São Bento. 

E isso passa-se independentemente das legítimas ideias políticas de cada um, porque os diplomatas não são eunucos cívicos e têm o pleno direito a ter simpatia pelas diferentes ideologias que se expressam no espetro democrático. Não têm é o direito de, no exercício de funções diplomáticas, deixar que essas ideias poluam o seu exercício. Sabemos que Graça Mira Gomes se comportou exemplarmente dessa forma e estou certo de que Vitor Sereno o fará de forma similar.

Aliás, se algum dúvida houvesse sobre a adequação dos diplomatas portugueses ao exercício de cargos na delicadíssima área que é a dos serviços de "intelligence", basta lembrar a já extensa lista desses profissionais que, talvez não por acaso, têm vindo a ser chamados a responsabilidades de chefia na dimensão externa desse setor, começando com António Monteiro Portugal, indo depois de Vasco Bramão Ramos a Joaquim Caimoto Duarte, de Paulo Vizeu Pinheiro a João da Câmara, de Helena Paiva a Carlos Pires - e espero não me estar a esquecer de qualquer nome. 

Não é assim, com certeza, por um mero acaso ou coincidência, que aos diplomatas são, com regularidade, reconhecidas as competências indispensáveis para titular esta sensível área. 

Posso perceber que a algumas pessoas, situadas em determinados setores profissionais, isso possa não agradar, mas essa é já uma outra questão. E para essas dores existem analgésicos.

quinta-feira, novembro 07, 2024

Socorro


Se isto fosse nos tempos de um governo que eu cá sei, o foguetório que não iria por aí!

Lembrar

Quando alguém perde uma eleição, isso não significa que as suas ideias para os problemas do eleitorado não fossem as melhores. Significa apenas que, dessa vez, essa pessoa foi incapaz de convencer disso uma maioria de votantes. Só isso.

A "Vanity Fair" hoje

 


Mafalda Anjos


Não foi apenas um mundo de gente, foi um mundo de amigos e de admiradores de Mafalda Anjos que esteve ao final da tarde de hoje no El Corte Inglés, para o lançamento do seu livro "Carta a um Jovem Decente".

Foi uma bela festa!

Cheers!

 


"A Arte da Guerra"


Esta semana, António Freitas de Sousa e eu decidimos dedicar todo o nosso programa semanal "A Arte da Guerra" às eleições americanas, às suas repercussões internas e às consequências para o mundo.

Sei que nem toda a gente tem paciência para ouvir, durante cerca de meia-hora, um "podcast". Mas pode ser que haja simpáticos "resistentes". Para esses, aqui fica o link.

Saúde!


Nos tempos que correm, sinto saudades do tempo em que Portugal tinha uma Ministra da Saúde! 

Escreve Robert Reich

"O "trumpismo" é a consequência, não a causa, de uma mudança estrutural de longo prazo na economia política americana. Ao longo da maior parte dos últimos 30 anos, enquanto o Partido Republicano abraçava a intolerância, as mentiras e o ódio para incitar os medos e ressentimentos da classe trabalhadora, o Partido Democrata abandonou a classe trabalhadora e abraçou o comércio global, a desregulamentação das finanças e impostos mais baixos sobre os ricos, e permitiu o ataque corporativo aos sindicatos e à monopolização da indústria.

Como resultado, o salário médio dos 90% mais pobres aumentou apenas 15%, ajustado pela inflação, enquanto o mercado de ações disparou 5.000%.

Para seu crédito, o governo Biden é o primeiro governo democrata em mais de 30 anos a rejeitar movimentos adicionais em direcção à globalização e desregulamentação, a propor impostos mais altos para os ricos, fortalecer os sindicatos, utilizar agressivamente uma política anti-trust e a adaptar uma política industrial voltada para o futuro.

Mas essas medidas levam anos para entrar em vigor, e muitos americanos da classe trabalhadora ainda não beneficiaram delas."

(Reich fez parte do governo de Bill Clinton).

Citação num comentário neste blogue

Conversa no "Expresso"


Uma conversa com Paula Santos, na redação do "Expresso", sobre o tema do dia.

Pode ver e ouvir aqui.

"O hiperpresidente"


Hoje, a convite do "Diário de Notícias", escrevo sobre "O hiperpresidente" americano. Ler aqui.

Bazar diplomático


Por que não passa pela antiga FIL e se "abastece" de coisas magníficas, oriundas de vários países com embaixadas em Lisboa, a preços muito em conta, que, por exemplo, podem servir para oferecer no Natal? Além disso, estará a contribuir para uma ação social de mérito. Apareça!

quarta-feira, novembro 06, 2024

Putin

Estas devem estar a ser horas de um discreto júbilo para os lados do Kremlin. Putin sabe que pode negociar com Trump, mas também sabe que este tem "a faca e o queijo na mão", pelo que não pode fiar-se, em absoluto, numa figura errática como aquela.

A angústia de Kiev

Zelensky deve estar a atravessar um dos piores momentos da sua presidência. Já terá percebido que vai ter de sujeitar-se àquilo que Trump decidir quanto ao futuro da ajuda militar e que de nada lhe valerá pedir aos seus amigos europeus para intercederem em seu favor. 

A América de Trump

Trump é uma personalidade, mas temos de perceber que ele apenas existe, como figura política, porque há uma América cujo sentido ele soube interpretar. Não foi Trump quem "convenceu" a América, foi esta quem o reconheceu como o intérprete ideal dos seus sentimentos.

NATO

Sabe-se o que Trump pensa sobre a NATO. Mas não esqueçamos que, no seu primeiro mandato, Trump discriminou positivamente países como a Polónia, em apoio às suas preocupações nacionais de segurança. Algumas decisões de Trump face à Ucrânia podem vir a ser compensadas dessa forma.

México

É interessante observar o futuro imediato da relação dos EUA de Trump com a nova presidência do México. O tema da imigração, tão importante nesta campanha, vai passar inevitavelmente por ali. E muita gente desconhece que o principal parceiro comercial dos EUA no mundo é o México.

Negócios da China

Será curioso perceber qual o consenso possível deste lado do Atlântico face ao "bullying" a que Trump vai sujeitar a Europa, na sua obsessão comercial contra a China. Embora alguma água ainda vá correr sob as pontes americanas: metade dos Tesla de Musk são fabricados na China.

Com o devido respeito

Posso perceber, como expressão de um sincero estado de alma, o comentário ontem feito por Marcelo Rebelo de Sousa sobre as eleições americanas. Já percebo menos esse comentário ter sido proferido pelo Presidente da República. Mas admito ser eu quem está a ver mal as coisas.

Desafio & oportunidade

Em linguagem empresarial, Trump é um "desafio" para a Europa. Mas, ao contrário da narrativa clássica, é difícil transformá-la em "oportunidade". A menos que o caráter adversarial de Trump levasse a Europa a reforçar-se. Mas "não estamos com gente disso", como antes se dizia.

A Europa e Trump II

Para a Europa, o interlocutor, no principal parceiro à escala global, chama-se agora Donald Trump. Este sabe que não era o presidente desejado deste lado do Atlântico e irá fazer sentir isso. Mas Trump é pragmático nos negócios e, para ele, a relação com a Europa é um negócio.

As culpas de Biden

Biden tem uma importante quota de culpa na derrota de Harris. A vice-presidente pagou pela sua impopularidade interna de Biden, pela obscuridade a que este a sujeitou durante quatro anos e pelo egoísmo e falta de realismo que revelou, ao não ter tido uma saída atempada de cena.

Uma morte política

Harris, como figura política com destino nacional, acabou ontem. Sem cargo eletivo, e na implacável lógica do sistema americano, a liderança da oposição passa agora para o Congresso. Só com a aproximação das próximas presidenciais um nome emergirá. E esse nome não será Harris.

A limpeza das eleições

Uma das boas notícias desta eleição é que a vitória folgada de Trump pode ter feito desaparecer a litigância em torno do processo eleitoral, o que atenua as ondas de suspeição que o próprio Trump ciclicamente lança sobre essa dimensão do sistema político americano.

A solidão europeia

Como sempre acontece, a Europa "escolheu" um candidato à presidência americana à medida daqueles que eram os seus interesses. Ora o presidente americano é eleito para defender os interesses americanos, não os interesses europeus - e, muitas vezes, uns conflituam com os outros. 

"Check the balances"

Trump tem uma vitória inédita, com abalo de todos os "checks and balances: legitimidade adquirida pela maioria do voto popular, maioria no Congresso (câmara e senado), maioria clara no Supremo Tribunal, mantendo a maioria dos governadores de Estado. Melhor era impossível!

Os media

O modo enviezado (por melhores que fossem as razões) como a maioria dos media favoreceu e promoveu a candidatura de Harris levou à ilusão de uma crescente onda popular em seu favor. Afinal, o voto popular veio a favorecer Trump. O "whishful thinking" é isto.

São três e meia da manhã...


... e eu vou deitar-me com as coisas assim. Logo veremos!

Vivó Sporting

 


terça-feira, novembro 05, 2024

América


Aceitei um amável convite da CNN Portugal para acompanhar, a partir das 22 horas de hoje, as eleições nos EUA.

A face exterior da América


Comecemos pelo óbvio. Os americanos, nas suas escolhas eleitorais, mobilizam-se essencialmente pela agenda do seu quotidiano interno. Nestes tempos ela é: poder de compra, segurança, imigração, aborto e temas de género, saúde, desemprego, armas, habitação, valores religiosos e nacionais, questões identitárias, estilos de vida – não necessariamente por esta ordem, dependendo das suas clivagens regionais, étnicas, de classe ou etárias. 

Prevalece a ideia de que o cidadão americano, integrando embora o país mais poderoso do mundo, se interessa sempre pouco por esse mesmo mundo, ou apenas se preocupa pelo que dele possa resultar como impactando no seu dia-a-dia interno. A relevância da questão migratória, com a sua declinação securitária, na agenda eleitoral é talvez um bom exemplo contemporâneo disso mesmo. 

Na História, depois das duas guerras mundiais e do que decorreu da Guerra Fria, de que o conflito no Vietnam é bom exemplo, a que se somou aquilo que o 11 de setembro determinou, as lideranças americanas sempre demonstraram alguma dificuldade em convencer a opinião pública da necessidade de envolver e sustentar a presença dos seus soldados em teatros de guerra no exterior, mesmo que alegadamente para a defesa dos seus interesses. O passado revelou também que, aos ciclos de intervenção externa, se sucederam sempre movimentos de retração no uso das suas tropas em cenários externos, internamente motivados. 

As fórmulas simplificadas são sempre desmentidas pelas exceções, mas isso não nos deve inibir de reconhecer o que parece ser uma tendência: na América, as administrações democráticas surgem, quase sempre, como fautoras ou promotoras de intervenção em conflitos externos, por contraste com os tempos republicanos, aparentemente menos propensos a tal. Numa explicação simples, fica a sensação de que, mais no seio dos democratas do que dos republicanos, prevalece a ideia de que residem na ordem externa muitas das soluções que defendem os interesses da América. 

O que ficou escrito serve de intróito à reflexão do que pode representar, para o mundo, a vitória de um dos dois candidatos, na decorrência do confronto eleitoral de 5 de novembro. 

Comecemos pelo que parece mais fácil. 

No cenário de vitória de Kamala Harris, é legítimo presumir alguma continuidade face à linha da administração cessante no tocante à Ucrânia. No entanto, atento o conhecimento aprofundado que Jo Biden tinha das questões internacionais, é de supor que uma presidente Harris acabe por ficar mais nas mãos da máquina diplomática do State Department, e mesmo do Pentágono. Isso faz presumir que a questão da Ucrânia venha a manter-se com uma elevada prioridade para os EUA, não sendo de excluir uma atitude mais firme face a Moscovo, o que pode depender da composição futura do Congresso. A contrario, uma vitória de Trump parece apontar para um cenário de compromisso, a custo da integridade territorial da Ucrânia, o que representará uma imediata frente de divergência com a Europa. 

No tocante ao Médio Oriente, uma vitória de Trump significaria uma imediata “carta branca” a Israel, aprofundando aliás o isolamento internacional dos EUA e o agravamento da sua perda de autoridade moral. Harris pode ser um pouco mais sensível aos setores democráticos que se escandalizam com a tragédia de Gaza, mas é duvidoso que, mesmo que o tente, lhe seja possível travar Israel, que dispõe de uma capacidade de influência dentro dos EUA que é muito difícil de combater. 

Uma grande dúvida permanece no caso do Irão. Trump foi o responsável pelo abandono dos EUA do acordo nuclear, mas Biden não teve vontade de retornar a ele. O caldo de cultura de apaziguamento que esteve na origem daquele compromisso não parece existir nos dias de hoje, tanto mais que a conflitualidade entre Israel e o Irão se coloca agora como um fator de agravamento. 

Sabe-se que o tema do desafio que a China representa é, nos EUA, politicamente transversal, por um conjunto cumulativo de razões. A questão de Taiwan surge como um um elemento importante nesse contexto, mas fica a sensação de que uma nova presidência Trump poderia colocar a questão comercial na primeira linha de uma conflitualidade inevitável, enquanto uma presidência Harris, não esquecendo a dimensão económica, traria Taiwan e os vetores políticos das alianças no Indo-Pacífico para a linha da frente da sua diplomacia. 

À parte estes e outros cenários geopolíticos, é óbvio que uma eventual administração Harris será muito mais favorável a um cultivo do mundo multilateral do que seria uma administração Trump. Isso refletir-se-ia em dossiês tão importantes como as alterações climáticas e, em geral, no papel futuro da ONU, cujo atual bloqueio interno não contribui para o seu prestígio. 

Trump na Casa Branca significaria, quase inevitavelmente, a emergência de uma forte contradição com a Europa, seja pelo renascer do seu peculiar olhar sobre a NATO, com a questão da Ucrânia a agravar esta tensão, seja pelas clivagens comerciais e em outras frentes económicas. 

Em síntese, se bem que nada garanta que venha a ser uma mera continuidade da linha Biden, uma América liderada por Kamala Harris tenderá a ser mais dialogante com os amigos tradicionais dos EUA e, em especial, será muito mais previsível. Trump, por seu turno, será o “happening” que foi no passado, quiçá potenciado no futuro. 

Os Estados Unidos da América habituaram-nos a uma atitude de auto-suficiência e de relativo desprezo pelo modo como os outros, nomeadamente a Europa, olham os problemas globais. Contudo, os democratas costumam disfarçar melhor essa sua arrogância. Trump, seguramente, não se preocupará um segundo com o modo como os amigos da América a olham, desde que consiga fazer com que a sigam. E, como sabemos, os EUA têm meios e poder suficientes para levar isso à prática, gostem os outros ou não.

(Texto hoje publicado a convite da Fundação Francisco Manuel dos Santos, no seu site)

Pronto! É hoje...

 


segunda-feira, novembro 04, 2024

Coincidências


À saída de uma consulta médica, hoje:

- É muito pouco comum o apelido deste médico. Terá algum parentesco com aquele nosso colega de liceu, que tem o mesmo nome? 

- É dificil saber! Não perguntámos ao médico e há muitos anos que não vemos o nosso antigo colega.

Cinco minutos depois, na sala de espera:

- Curioso. Já viste quem ali está? É o nosso colega. Podemos perguntar-lhe se é parente do médico.

Não é, disse-nos ele, que já se tinha cruzado um dia com o médico seu homónimo. Acabámos entre abraços.

Não há coincidências. Claro que não há! 

O viés e a profissão


Acho Trump uma figura sinistra e, no contexto, vejo Harris como um sopro de ar fresco. Como cidadão, eu posso pensar assim. Mas acho incorreto que o nosso jornalismo tome partido e esteja a ser completamente "biased" na análise da contenda presidencial americana.

"Nuestros hermanos"

Desde o auge da questão da Catalunha, há uns anos, que eu não via as redes sociais portuguesas tão polarizadas pela situação política interna espanhola. A tragédia de Valência é agora o pretexto. Dado que somos dois países com agendas em geral bem diversas, acho sempre curioso perceber que temáticas da "vizinha Espanha" excitam este parceiro ibérico, e porquê. 

Império

Uma mulher negra, que cresceu fora do Reino Unido, ter conseguido chegar à liderança do histórico Partido Conservador (e Unionista, parte do nome que muitos esquecem) é, a todos os títulos, um acontecimento notável, seja o futuro aquilo que vier a ser.

domingo, novembro 03, 2024

Aleluia!


Todos os restaurantes a que me apetecia ir, em Évora, neste domingo, estavam fechados. Outros, à hora a que os contactei, não tinham vagas nem esperança de as poderem ter, pelo menos em tempo útil para a minha paciência. 

Estacionei junto ao Templo de Diana (não me perguntem como, por favor!). Arrisquei ir ao "Cavalariça", ao lado da Pousada dos Loios. Havia uma mesa livre. E ali almoçámos. 

Muito bem, diga-se desde já. Trazia comigo algumas reticências, desde uma ida ao homónimo "Cavalariça" da Comporta, em julho, que comunga com este muitas das opções da carta. 

Arquivei hoje essas reticências. Tudo o que se pediu estava excelente. O serviço foi de um profissionalismo raro: atento sem ser subserviente, sofisticado sem ser arrogante, conhecedor sem ser impositivo. Desde o magnífico pão (da casa, com manteiga e azeite "de truz") às sugestões (muito certeiras) de vinho, passando pela qualidade e apresentação de tudo o que se pediu como pratos, com boas sujestões de partilha, até a uma excelente sobremesa (vários chocolates), tudo esteva a preceito. O ritmo do serviço também foi perfeito. O preço final só seria excessivo se a qualidade do que se provou não estivesse à altura, o que não foi o caso. 

Reconciliei-me com o "Cavalariça". É um chão a que regressarei, em breve. E de que deixo fotografia.

Havemos de ir a Viana...

 


Alentejo desencantado


Chamava-se "Alentejo desencantado" um livro de Mário Ventura Henriques que li há muitos anos.

Desencantado é como saio deste meu fim de semana gastronómico no Baixo Alentejo. 

De cinco restaurantes experimentados, apenas um passou a fasquia do razoável. E acontece-me isto a mim, que passo o tempo a elogiar a cozinha alentejana! 

Ainda este mês, a Academia Portuguesa de Gastronomia, de cuja direção faço parte, vai entregar o seu prémio anual "Maria de Lourdes Modesto", destinado a premiar um restaurante de cozinha tradicional portuguesa, à "Mercearia do Gadanha", em Estremoz. 

Haverá um contraste Norte/Sul na qualidade da restauração alentejana? Ou fui eu que escolhi mal as mesas, não obstante andar atulhado com guias, com indicações de amigos comilões e outras de amigos conhecedores? 

Pousar


Sempre que posso, gosto de alojar-me nas Pousadas de Portugal.

Fiz isso este fim de semana, na Pousada de Beja, que já se chamou "São Francisco". 

Desde há uns anos, discretamente, as Pousadas perderam as designações católicas que, por muitos anos, tiveram. Terá sido o "politicamente correto"?

Fui e sou um cliente "ativo" das Pousadas: queixo-me do que está mal, elogio o que está bem. Fiquei muito satisfeito nesta que foi a minha terceira estada na Pousada de Beja.

Desde a sua criação, em 1940, houve 67 Pousadas (66 em Portugal e uma no Brasil). Dormi em 56 delas. Hoje, só há 36 Pousadas.

Nunca cheguei a dormir em cinco das muitas Pousadas que entretanto foram encerradas: Alfeizerão, Berlengas, Forte do Beliche (Vila do Bispo), Vinháticos (Madeira) e São Filipe (Setúbal). 

Ainda não dormi em seis das Pousadas existentes: Alijó, Angra do Heroísmo, Horta, Porto, Câmara de Lobos e Alfama. Com exceção desta última, não excluo poder ainda vir dormir nas outras cinco Pousadas que ainda não conheço.

Serei um recordista de Pousadas? Se não sou, devo (devemos, eu e a minha mulher) andar lá próximo.

sábado, novembro 02, 2024

Alentejo

Para o que me havia de dar!


O empregado do restaurante ficou um pouco banzado, mas lá serviu, como eu tinha pedido, uma ameixa de Elvas a acompanhar o Toucinho do Céu. E não é que liga bem?

sexta-feira, novembro 01, 2024

... e logo se vai ver!


Ver aqui.

Moçambique, Georgia, Brasil


Ver aqui.

Próximo Oriente


Ver aqui.

Camilo Mortágua


Com 90 anos, morreu agora Camilo Mortágua.

Camilo Mortágua, pai da atual líder do Bloco de Esquerda, foi um valente lutador contra a ditadura, participou no assalto ao navio mercante “Santa Maria”, no desvio do avião da TAP de Casablanca para Lisboa, no assalto ao Banco de Portugal, na Figueira da Foz, bem como em outras ações revolucionárias com as quais, como português e democrata, me sinto perfeitamente solidário e cuja execução lhe agradeço e louvo - e que isto fique aqui escrito, preto-no-branco, porque é preciso não ter medo de dizer as palavras justas.

Só uma ditadura que foi culpada por imensos mortos, por uma criminosa guerra colonial, por décadas de perseguições, torturas e prisões que arrasta no seu inapagável cadastro histórico, com a PIDE e a censura cobardemente a seu lado como mão executora, teve o desplante de qualificar como crimes comuns alguns atos justamente praticados, como hoje está mais do que provado, para enfraquecer o regime que iria cair de podre e de ridículo perante a História no dia 25 de Abril. E aproveito o ensejo para prestar também homenagem a essa outra figura de homem de bem que se chamou Hermínio da Palma Inácio, igualmente diabolizado pelos caluniadores anti-democratas.

Alguma direita portuguesa, que nunca conseguiu fazer o exorcismo do Estado Novo, vive ainda uma orfandade envergonhada desses tempos, disfarçada na proclamação da “honestidade” de Salazar, nas acusações comprovadamente falsas sobre um indevido uso das verbas do assalto na Figueira da Foz, numa miserável equiparação das ações da LUAR a delitos comuns - não tendo vergonha de recorrer precisamente à mesma linguagem que a PIDE utilizava. Aqui pelas redes sociais, como se irá ver nas caixas de comentários hoje e nos próximos dias, há ainda muito quem se sinta solidário com a narrativa da António Maria Cardoso. Gente que nunca entenderá que também foi graças a lutadores como Camilo Mortágua que hoje usufrui da liberdade que lhe permite escrever, com total liberdade e impunidade, aquilo que escreve. Como dizia o outro, "eles não sabem nem sonham".

Seminário