quinta-feira, novembro 14, 2024
Estados de alma
Há uns anos, tivemos por cá uma amostra paroquial de um governo que detestava o Estado a dirigir esse mesmo Estado. Era a lógica de "menos Estado, melhor Estado", esquecendo-se de acrescentar em público "e o que sobrar fica para nós". Depois, foi o que se viu: a necessidade de confortar a clientela tê-los-á coibido de ir demasiado longe. A América vai agora levar esse sonho à glória. "Fasten seat belts!"
Ai Brasil
O Brasil fervilha sob uma forte tensão político-social. Os acontecimentos das últimas horas revelam que a fratura do país continua profunda e com condições para afloramentos cíclicos violentos. Este tipo de "lobos solitários" não nascem no vazio.
Digam ao que vêm
A guerra na Ucrânia não é uma situação de "business as usual". A cada hora morre ali muita gente. Cada vez se torna mais urgente que a futura administração americana esclareça, com clareza, as bases daquilo que se propõe fazer ou deixar de fazer. E, se tiverem tempo, informem Kiev e Bruxelas.
A "morte" da América
Nunca dei grande crédito a quantos, há muito, teorizam o declínio inexorável do poder americano. O seu sistema político-institucional pode estar a atravessar uma grave crise de funcionalidade, mas acho que as ideias sobre a "morte" económica e militar da América são um mero "wishful thinking" de quantos sempre a detestaram.
25 de Abril
Talvez porque andei muito próximo de alguns dos acontecimentos desses dias e porque, depois disso, julgava ter lido praticamente tudo quanto sobre esse período foi publicado, tinha criado intimamente a ideia de que já "sabia tudo" e de que não iria ter mais surpresas.
Há meses, li este livro e afinal nele vim a aprender algumas coisas novas. E ainda há dias, num almoço de gente que andou fardada por aquele tempo, obtive outros dados sobre certas questões que já considerava fechadas. A História, afinal, nunca encerra portas.
Um forte e amigo abraço à Irene pelo merecido reconhecimento que este seu interessante trabalho acaba de obter.
E, já agora, porque se aproxima uma outra data, aqui deixo o meu "25 de Abril sempre!"
quarta-feira, novembro 13, 2024
Línguas
São uma imensa saloiíce os comentários sobre o modo como Luís Montenegro fala inglês. Falar bem línguas estrangeiras pode trazer vantagens, mas não é essencial. Houve mesmo um poliglota político lusitano de quem se dizia na Europa que conseguia não dizer nada em várias línguas.
A pergunta na "Visão"
RTP
Ao tempo em que estive no CGI, este passou, a partir de certa altura, a integrar os nomes de Leonor Beleza e de Alberto Arons de Carvalho. Tratando-se de duas figuras com um passado político ativo notório, posso testemunhar que nunca, na sua ação, detetei o menor viés político-ideológico, a vontade de "fazer fretes" às suas origens partidárias.
Leonor Beleza assumiu recentemente responsabilidades políticas e entendeu dever afastar-se da presidência do CGI, o qual, no seu seio, elegeu, para substituí-la, Arons de Carvalho, um conhecido jornalista e professor universitário.
Trata-se, à evidência, de uma das personalidades portuguesas com maior conhecimento da área da comunicação social, com obra publicada sobre o tema, tendo, no passado, sido titular dessa pasta em governos e tendo também ocupado funções na ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social).
Alberto Arons de Carvalho é a escolha óbvia como novo presidente do CGI, lugar que, lembro, foi também já ocupado por António Feijó (atual presidente da Fundação Calouste Gulbenkian e antigo vice-reitor da Universidade de Lisboa) e por José Vieira de Andrade, catedrático da Universidade de Coimbra.
Desejo ao Alberto Arons de Carvalho um excelente trabalho à frente daquele importante órgão de supervisão - noto que é o CGI, nomeadamente, que escolhe e nomeia as administrações da RTP.
A RTP não é uma típica empresa do Estado, um órgão tutelado pelo governo. É uma singular empresa pública, de que todos os cidadãos portugueses são "acionistas", pelo que pagam como "contribuição audio-visual" (CAV), na sua conta da luz. O atual estatuto da RTP permite-lhe resistir às eventuais tentações de pressão dos governos de turno, e isso foi uma imensa conquista que compete ao CGI tentar preservar. Contra todos os ventos e todas as marés que já por aí se estão a levantar.
terça-feira, novembro 12, 2024
segunda-feira, novembro 11, 2024
Clube de Lisboa
domingo, novembro 10, 2024
A Rúben Amorim
Boas e más notícias
À mesa com Carlos Mathias
Carlos Mathias foi um excelente amigo com quem pude contar durante os anos que vivi em Brasília. Com uma dedicação imensa a Portugal, país que visitava com frequência, nomeadamente para participar em iniciativas da Universidade de Coimbra, empenhou-se muito numa estrutura de cooperação na área do Direito, envolvendo juristas italianos, espanhóis, portugueses e brasileiros.
No âmbito de uma dessas iniciativas, pediu-me um dia para eu acolher, num almoço na embaixada, cerca de duas dezenas desses juristas, alguns dos quais portugueses, nessa altura congregados em Brasília. Disponibilizei-me a fazê-lo, explicando contudo que a mesa da nossa residência não podia comportar, sentados, mais do que (creio) 24 pessoas.
Mathias enviou-me a lista de quantos iriam estar presentes e lá organizei o almoço, com lugares marcados. O grupo foi chegando em várias levas. Carlos Mathias, viria um pouco mais tarde. Eu ia recebendo os convidados à porta, reconhecendo-os na lista que antes tinha recebido.
A certa altura, apresenta-se-me um cavalheiro, que diz o nome e o título: reitor da universidade de Cuiabá. Cuiabá é a capital do estado de Mato Grosso. Fiquei perplexo. O nome não constava da lista e, mesmo com esforço, não cabia mais ninguém na mesa. Que fazer? Via-me com o problema de ter de deixar o inesperado académico matogrossense de fora do repasto.
A certo momento, com a alegria e a boa disposição que era sempre a sua, irrompe Carlos Mathias. Durante o abraço que demos, disse-lhe ao ouvido: "Carlos, temos um problema. Está aqui uma pessoa que não estava prevista". E arrastei-o até à sala de jantar, para lhe explicar, à evidência física, que não cabia mais ninguém.
Mathias olhou a mesa e disse: "Você tem razão. Eu precipitei-me ao convidar, no último momento, o professor de Cuiabá, que estava ali connosco e que achei ser possível acomodar". Sob pressão, retorqui: "E agora, como fazemos?". O Carlos abriu um sorriso e, tirando o telemóvel do bolso, respondeu: "Não tem problema. Adoece o Norberto". Havia, de facto, um Norberto na lista dos convidados. Carlos Mathias explicou: "O Norberto disse-me que está ligeiramente atrasado. Assim, já não vem: adoece... Tenho suficiente confiança com ele para lhe pedir o sacrifício". E lá almoçámos sem o "doente" Norberto, que nunca conheci, mas com o simpático reitor de Cuiabá, que tive muito gosto em conhecer.
Coisas das Necessidades
De um dia para o outro, vi-me apresentado em duas televisões como "embaixador jubilado". Não pedi o estatuto profissional de jubilado, sou simplesmente aposentado, como qualquer funcionário público. Há diferenças? Há. Um jubilado ganha um pouco mais, mas tem limitações no tocante ao exercício de outras atividades profissionais. "Just for the record".
(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)
Jorge Coelho
Ontem, Pedro Siza Vieira e eu fomos convidados para duas estimulantes conversas, tendo jovens como interlocutores, antes do alargamento do debate à assistência. O antigo ministro falou sobre Coesão Territorial, cabendo-me a mim os temas contemporâneos da Geopolítica.
Foi um interessante e estimulante exercício. No final, dei-me conta de que não consegui ser muito otimista. Sendo esse um luxo a que me posso dar, por não ter responsabilidades políticas, arrependi-me de não ter feito um esforço maior para tentar dar alguma esperança àqueles que são os donos do futuro. Ou talvez haja vantagens em deixar as novas gerações preocupadas. Não sei.
(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)
sábado, novembro 09, 2024
Um belo museu
Fui hoje à recuperada Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, perto de Carregal do Sal, onde está instalado o Museu Aristides Sousa Mendes. É excelente e merece uma visita.
Benfica
Dizer isto pela enésima vez
Por estes dias, importa afirmar o direito à segurança do Estado de Israel, nas fronteiras que o Direito Internacional lhe reconhece. E, igualmente, de uma Palestina independente, com atributos de soberania idênticos. Não é preciso inventar nada: basta seguir as resoluções da ONU.
(Até indicação em contrário, estão suspensos os comentários no blogue)
Saídos da toca
Post - Jacobs
O belga Edgar P. Jacobs escreveu e desenhou, até à sua morte, 14 álbuns com as aventuras de Blake, Mortimer e do "mau da fita", Olrik. A quem não conhecer e ficar tentado, aconselho os dois álbuns de "O Mistério da Grande Pirâmide", para mim a obra-prima de Jacobs.
sexta-feira, novembro 08, 2024
Há oito anos escrevi aqui isto
"Donald Trump ganhou com toda a legitimidade, por muito que isso custe a ouvir. É claro que a sua campanha assentou em propostas e ideias marcadas por um imenso primarismo, por muitas mentiras e meias verdades, pelo apelo a sentimentos básicos, a preconceitos e mensagens perigosas e divisivas. Mas a América é um país livre, onde tudo se pode dizer. Trump teve contra si imensos setores da comunicação social, que, embora em alguns casos sem grande entusiasmo, favoreceram a sua competidora.
Relembrar
Há por lá coisas de todo o mundo à venda, a preços de "pechincha". E os parcos lucros vão para fins de beneficência.
Ah! E tem estacionamento em frente.
Lembre-se das ofertas para o Natal!
Pousio
Atenta a enxurrada de comentários agressivos que este blogue está a sofrer, a que não é estranho e efeito trumpista e de extrema-direita, decidi suspender por alguns dias a publicação de qualquer comentário, qualquer que seja a sua natureza. A seu tempo, avisarei quando voltarão a ser publicados novos comentários. Aos meus amigos mais serenos, atingidos por esta "fatwa" genérica, deixo o meu pedido de desculpas.
A liberalidade das assinaturas
Caras da diplomacia
quinta-feira, novembro 07, 2024
Lembrar
Quando alguém perde uma eleição, isso não significa que as suas ideias para os problemas do eleitorado não fossem as melhores. Significa apenas que, dessa vez, essa pessoa foi incapaz de convencer disso uma maioria de votantes. Só isso.
Mafalda Anjos
Foi uma bela festa!
"A Arte da Guerra"
Sei que nem toda a gente tem paciência para ouvir, durante cerca de meia-hora, um "podcast". Mas pode ser que haja simpáticos "resistentes". Para esses, aqui fica o link.
Escreve Robert Reich
Bazar diplomático
quarta-feira, novembro 06, 2024
Putin
Estas devem estar a ser horas de um discreto júbilo para os lados do Kremlin. Putin sabe que pode negociar com Trump, mas também sabe que este tem "a faca e o queijo na mão", pelo que não pode fiar-se, em absoluto, numa figura errática como aquela.
A angústia de Kiev
Zelensky deve estar a atravessar um dos piores momentos da sua presidência. Já terá percebido que vai ter de sujeitar-se àquilo que Trump decidir quanto ao futuro da ajuda militar e que de nada lhe valerá pedir aos seus amigos europeus para intercederem em seu favor.
A América de Trump
Trump é uma personalidade, mas temos de perceber que ele apenas existe, como figura política, porque há uma América cujo sentido ele soube interpretar. Não foi Trump quem "convenceu" a América, foi esta quem o reconheceu como o intérprete ideal dos seus sentimentos.
NATO
Sabe-se o que Trump pensa sobre a NATO. Mas não esqueçamos que, no seu primeiro mandato, Trump discriminou positivamente países como a Polónia, em apoio às suas preocupações nacionais de segurança. Algumas decisões de Trump face à Ucrânia podem vir a ser compensadas dessa forma.
México
É interessante observar o futuro imediato da relação dos EUA de Trump com a nova presidência do México. O tema da imigração, tão importante nesta campanha, vai passar inevitavelmente por ali. E muita gente desconhece que o principal parceiro comercial dos EUA no mundo é o México.
Negócios da China
Será curioso perceber qual o consenso possível deste lado do Atlântico face ao "bullying" a que Trump vai sujeitar a Europa, na sua obsessão comercial contra a China. Embora alguma água ainda vá correr sob as pontes americanas: metade dos Tesla de Musk são fabricados na China.
Com o devido respeito
Posso perceber, como expressão de um sincero estado de alma, o comentário ontem feito por Marcelo Rebelo de Sousa sobre as eleições americanas. Já percebo menos esse comentário ter sido proferido pelo Presidente da República. Mas admito ser eu quem está a ver mal as coisas.
Desafio & oportunidade
Em linguagem empresarial, Trump é um "desafio" para a Europa. Mas, ao contrário da narrativa clássica, é difícil transformá-la em "oportunidade". A menos que o caráter adversarial de Trump levasse a Europa a reforçar-se. Mas "não estamos com gente disso", como antes se dizia.
A Europa e Trump II
Para a Europa, o interlocutor, no principal parceiro à escala global, chama-se agora Donald Trump. Este sabe que não era o presidente desejado deste lado do Atlântico e irá fazer sentir isso. Mas Trump é pragmático nos negócios e, para ele, a relação com a Europa é um negócio.
As culpas de Biden
Biden tem uma importante quota de culpa na derrota de Harris. A vice-presidente pagou pela sua impopularidade interna de Biden, pela obscuridade a que este a sujeitou durante quatro anos e pelo egoísmo e falta de realismo que revelou, ao não ter tido uma saída atempada de cena.
Uma morte política
Harris, como figura política com destino nacional, acabou ontem. Sem cargo eletivo, e na implacável lógica do sistema americano, a liderança da oposição passa agora para o Congresso. Só com a aproximação das próximas presidenciais um nome emergirá. E esse nome não será Harris.
A limpeza das eleições
Uma das boas notícias desta eleição é que a vitória folgada de Trump pode ter feito desaparecer a litigância em torno do processo eleitoral, o que atenua as ondas de suspeição que o próprio Trump ciclicamente lança sobre essa dimensão do sistema político americano.
A solidão europeia
Como sempre acontece, a Europa "escolheu" um candidato à presidência americana à medida daqueles que eram os seus interesses. Ora o presidente americano é eleito para defender os interesses americanos, não os interesses europeus - e, muitas vezes, uns conflituam com os outros.
"Check the balances"
Trump tem uma vitória inédita, com abalo de todos os "checks and balances: legitimidade adquirida pela maioria do voto popular, maioria no Congresso (câmara e senado), maioria clara no Supremo Tribunal, mantendo a maioria dos governadores de Estado. Melhor era impossível!
Os media
O modo enviezado (por melhores que fossem as razões) como a maioria dos media favoreceu e promoveu a candidatura de Harris levou à ilusão de uma crescente onda popular em seu favor. Afinal, o voto popular veio a favorecer Trump. O "whishful thinking" é isto.
terça-feira, novembro 05, 2024
A face exterior da América
Comecemos pelo óbvio. Os americanos, nas suas escolhas eleitorais, mobilizam-se essencialmente pela agenda do seu quotidiano interno. Nestes tempos ela é: poder de compra, segurança, imigração, aborto e temas de género, saúde, desemprego, armas, habitação, valores religiosos e nacionais, questões identitárias, estilos de vida – não necessariamente por esta ordem, dependendo das suas clivagens regionais, étnicas, de classe ou etárias.
segunda-feira, novembro 04, 2024
Coincidências
- É muito pouco comum o apelido deste médico. Terá algum parentesco com aquele nosso colega de liceu, que tem o mesmo nome?
- É dificil saber! Não perguntámos ao médico e há muitos anos que não vemos o nosso antigo colega.
Cinco minutos depois, na sala de espera:
- Curioso. Já viste quem ali está? É o nosso colega. Podemos perguntar-lhe se é parente do médico.
Não é, disse-nos ele, que já se tinha cruzado um dia com o médico seu homónimo. Acabámos entre abraços.
Não há coincidências. Claro que não há!
O viés e a profissão
Acho Trump uma figura sinistra e, no contexto, vejo Harris como um sopro de ar fresco. Como cidadão, eu posso pensar assim. Mas acho incorreto que o nosso jornalismo tome partido e esteja a ser completamente "biased" na análise da contenda presidencial americana.
"Nuestros hermanos"
Desde o auge da questão da Catalunha, há uns anos, que eu não via as redes sociais portuguesas tão polarizadas pela situação política interna espanhola. A tragédia de Valência é agora o pretexto. Dado que somos dois países com agendas em geral bem diversas, acho sempre curioso perceber que temáticas da "vizinha Espanha" excitam este parceiro ibérico, e porquê.
Império
Uma mulher negra, que cresceu fora do Reino Unido, ter conseguido chegar à liderança do histórico Partido Conservador (e Unionista, parte do nome que muitos esquecem) é, a todos os títulos, um acontecimento notável, seja o futuro aquilo que vier a ser.
domingo, novembro 03, 2024
Aleluia!
Alentejo desencantado
Desencantado é como saio deste meu fim de semana gastronómico no Baixo Alentejo.
De cinco restaurantes experimentados, apenas um passou a fasquia do razoável. E acontece-me isto a mim, que passo o tempo a elogiar a cozinha alentejana!
Ainda este mês, a Academia Portuguesa de Gastronomia, de cuja direção faço parte, vai entregar o seu prémio anual "Maria de Lourdes Modesto", destinado a premiar um restaurante de cozinha tradicional portuguesa, à "Mercearia do Gadanha", em Estremoz.
Haverá um contraste Norte/Sul na qualidade da restauração alentejana? Ou fui eu que escolhi mal as mesas, não obstante andar atulhado com guias, com indicações de amigos comilões e outras de amigos conhecedores?