Ricupero é uma grande figura da diplomacia, com passagem de relevo na política brasileira. Exerceu cargos de embaixador e de ministro, além de ter sido diretor-geral da UNCTAD. Tem vasta e importante obra publicada.
Um dos seus livros é o magnífico "A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016", editado em 2017. Por essa altura, fui convidado por um amigo comum, o meu colega brasileiro Paulo Roberto de Almeida, para apresentar o livro em Portugal. Por motivos pessoais, Ricupero não pôde deslocar-se a Lisboa e a ocasião frustrou-se.
Em dezembro de 2023, voltámos a cruzar-nos: fui ao Rio de Janeiro participar num debate, numa conhecida instituição de relações internacionais, em que ele fazia contraponto comigo.
Quando lhe foi dada a palavra, e ainda antes de entrar no tema que ali nos levava a ambos, Rubens Ricupero quis ter um gesto de uma extrema elegância. Disse então algo como isto: "Caro embaixador. Queria começar por aproveitar esta oportunidade para, por seu intermédio, como cidadão brasileiro, pedir desculpa ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa, pelo comportamento rude e desrespeitoso que o nosso presidente teve para com ele, durante as cerimónias da nossa data nacional, o 7 de Setembro. O modo como o mais alto representante da nação portuguesa foi por nós recebido naquela ocasião não esteve à altura das nossas tradições e da nossa amizade".
Como ele prosseguiu de imediato para a abordagem do tema do debate, só me referi a esta posição dele mais tarde. E receio ter sido parco no meu agradecimento pela excecional gentileza de Ricupero. De facto, eu recordava-me que, na tribuna do desfile do 7 de Setembro, o rigor do cerimonial, nesse tempo convulso da declinante presidência Bolsonaro, não tinha estado à altura da ocasião. E que, em particular, ao convidado de honra que era o chefe de Estado português não havia sido prestada a atenção na forma devida.
Ontem, ao entrar na excelente livraria Travessa, em Lisboa, constatei que Rubens Ricupero, hoje com 88 anos, publicou as suas "Memórias". Um exemplar já anda em leitura cá por casa.
1 comentário:
Tenho na minha ideia, que o Brasil e os seus Presidente eleitos ou impostos por ditadura, só tiveram alguma deferência especial pelos Presidentes portugueses, até ao Presidente Café Filho e Juscelino Kubistchek.
Mas já há muito tempo era apenas olhos para a coca cola e disneylândia.
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