sábado, maio 24, 2025

Os erros de Pedro Nuno Santos


Cumprindo o que disse na noite eleitoral, Pedro Nuno Santos saiu hoje da liderança do Partido Socialista. O PS vai ter de refazer o seu futuro imediato sem ele. O nome de José Luís Carneiro, que tinha ficado em segundo lugar na anterior escolha interna, para a substituição de António Costa, surge como a hipótese mais provável para titular o novo ciclo. Sem oposição? Ainda não se sabe, mas se ela vier a surgir o processo correrá com normalidade. Esta é a lógica serena de um grande partido democrático em democracia.

Estes momentos de mudança, propulsionados pelo voto popular, forçam a uma reflexão. Mais do que qualquer outra formação política, o PS tem de fazê-la. Os factos obrigam o partido a preparar-se para o novo tempo, com as "lessons learned" do passado. Aliás, o tema dessa reflexão é a resposta a uma questão imperativa: que aconteceu a um partido que, em menos de dois anos, passou de uma sólida maioria absoluta para um terceiro lugar no parlamento? 

Toda a gente tem explicações, mais ou menos adjetivadas, mais ou menos fulanizadas nas responsabilidades, para esta pergunta. Certas ou erradas, eu tenho as minhas. E faço já uma declaração de interesses: fui um dos derrotados no dia 18 de maio e tudo farei, naquilo em que puder ajudar, para criar condições para o reforço do Partido Socialista no futuro.

Pedro Nuno Santos substituiu António Costa com toda a naturalidade. Contrariamente à diabolização que a direita dele fez - e essa era uma excelente medalha que ele trazia ao peito - ele tinha sido, embora com alguns erros cometidos, um bom ministro. Tinha trabalhado dentro do partido para suceder a António Costa e o PS confiou maioritariamente nele. Pedro Nuno Santos é, contudo, o produto político de uma ilusão.

Em 2015, o Partido Socialista tinha chegado ao poder, de uma forma pouco comum na prática portuguesa, não sendo o partido mais votado. Mas António Costa, com toda a legitimidade, depois de Passos Coelho não ter conseguido convencer a Assembleia da República, formou um governo com apoio parlamentar de dois partidos à sua esquerda. Fê-lo com vista a uma governação destinada a repor, com sabedoria e sem extremismos, a normalidade em muitas políticas, que a "troika" tinha mudado de forma violenta. A Geringonça foi uma fórmula política pontual, que provou ter eficácia, razoabilidade e apoio popular. Pedro Nuno Santos, na pasta dos Assuntos Parlamentares, foi a cara dessa solução.

A Geringonça faliu ao fim da primeira legislatura. Os comunistas e o Bloco perceberam que António Costa tinha capitalizado em favor do PS a simpatia que a Geringonça tinha suscitado. E esgotada que tinha sido a agenda de 2015, e não estando António Costa disponível para ir além da reversão do essencial da agenda da "troika", os dois partidos à esquerda do PS não apenas mostraram indisponibilidade para renovar, num registo de mínimos, uma aliança que os estava a "grelhar", como caíram na patetice de não aprovar o orçamento que o novo governo minoritário do PS tinha apresentado. 

As novas eleições que se seguiram deram razão a António Costa e deram uma maioria absoluta ao PS. Pelo meio tinha havido uma pandemia que mostrara ao país o perfil de estadista de António Costa. Pedro Nuno Santos é um "general" dessas tropas. Mas não era só isso: era um "viúvo" da Geringonça. E essa é a tal grande ilusão.

O país pode ter gostado da Geringonça no período em que ela foi criada, tendo ela sido a cara de uma política que desfizera, com responsabilidade, o que a "troika" tinha imposto. Mas alguma água tinha entretanto corrido sob as pontes: a fórmula cheirava a passado. 

O Bloco mostrou evoluir para uma matriz ideológica algo agressiva, frequentemente paternalista (ou maternalista...), investindo numa agenda de políticas de nicho e de exploração de temáticas identitárias que, sendo porventura respeitáveis, não eram necessariamente populares. A sua mudança de liderança também não ajudou a tornar a proposta mais apelativa, "to say the least".  

O PCP afundou-se na simpatia popular com o seu seguidismo face a Moscovo na questão ucraniana, num tempo em que o país tinha optado sentimentalmente por Zelensky. O seu novo líder tem um estilo simpático de homem comum mas, como pretendem os nostálgicos que alinham naquela "igreja", foi escolhido precisamente para não trazer nada de novo.

Pedro Nuno Santos tentou retomar a ideia da Geringonça, com estas suas novas derivas? Claro que não, mas, no imaginário de muita gente, ele continuou a ser "o socialista da Geringonça" e, com ele na liderança, o PS passou a ser, para alguns, o partido que só não reeditou a Geringonça porque não teve condições para tal. E a Geringonça já tinha, há muito, deixado de ser popular. 

Além disso, o estilo público de Pedro Nuno Santos, que inteligentemente ele procurou suavizar, ainda surgiu marcado por um tom algo agreste, de uma espécie de "jota" escassamente amadurecido. E não teve tempo para reverter essa imagem, que a mim sempre me pareceu ter algo de bastante injusto. Repito o que disse atrás: Pedro Nuno Santos foi um governante de qualidade, a que é justo creditar um bom trabalho na área das Infraestruturas, não obstante algumas trapalhadas que não o ajudaram a acelerar a construção de uma imagem de Estado.

O apreciável resultado que tinha tido nas eleições de 2024 podem ter contribuído para Pedro Nuno Santos entender que estavam ultrapassados, no eleitorado, esses preconceitos a seu respeito. Não estavam. E num ambiente de crispada bipolaração, essa perceção negativa em seu desfavor acentuou-se.

O país só foi entretanto a votos porque Pedro Nuno Santos assim o quis. E essa, no domínio das culpas daquilo que aconteceu, é uma culpa apenas sua. O PS não devia ter caído na esparrela armada pelo primeiro-ministro, ao apresentar uma moção oportunista de confiança. E devia ter desmontado o "bluff" de Luís Montenegro, dizendo: "O primeiro-ministro quer um pretexto para ter eleições e quer embrulhar as trapalhadas éticas em que está envolvido numa moção de confiança. O PS não lhe dá essa oportunidade: por isso, não cai nessa esparrela, abstem-se na sua votação na Assembleia da República e avança para uma comissão parlamentar de inquérito onde tudo será devidamente esclarecido". 

O que teria acontecido, se Pedro Nuno Santos tivesse procedido dessa forma? Montenegro estaria agora fragilizado, entre a espada e a comissão de inquérito, o PS mantinha um número de deputados igual ao PSD e a extrema-direita mantinha o peso que tinha.

Depois, na inevitabilidade de eleições, o PS que Pedro Nuno Santos liderou não soube ler o país que ia votar em 18 de maio. Não apresentou políticas minimamente motivantes para setores de um eleitorado que, entretanto, se tinha deslocado para um terreno tomado por uma agenda de preocupações e de desencanto muito diversa das de um passado recente. A proposta socialista foi um pouco mais do mesmo, a que foram acrescentados uns pozinhos de novidade escassamente mobilizadora. E foi o que se viu. 

Pedro Nuno Santos fez, entretanto, uma campanha eleitoral quase monotemática, não entendendo que o país vivia já num ambiente de amoralidade política que não iria punir excessivamente Montenegro. 

Com esses seus erros, e por essas razões, as coisas são hoje o que são. Essa é a sua culpa e, por isso, fez bem em sair. E esta é a minha opinião.

(Em tempo: para que se não diga que fiz "prognósticos depois do jogo", deixo aqui isto, escrito em 8 de março passado.)




19 comentários:

João Cabral disse...

"Pedro Nuno Santos substituiu António Costa com toda a naturalidade"
Não posso concordar. Alguém que fez o que fez enquanto ministro, mais a trapalhada da TAP e a desautorização do primeiro-ministro com o anúncio do aeroporto demonstravam alguém imaturo e impreparado sequer para um cargo de secretário de Estado. Mas ainda assim, o aparelho do partido quis lançá-lo como chefe e candidato nas legislativas. O resultado ficou à vista. Posto isto, Carneiro tem mais do que legitimidade para apresentar desde logo uma candidatura, como uma espécie de bofetada de luva branca sobre uma imensidão minoritária.

Anónimo disse...

Ouço muitos a falarem do desencanto dos portugueses com a geringonça. Se tal for verdade, como entender que os mesmos portugueses, tão desencantados com a geringonça, tenham a seguir dado uma maioria absoluta ao PS (que Marcelo não descansou até a desfazer?
J. Carvalho

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro J. Carvalho. Não foi a seguir. Foi mesmo depois do PS ter posto um ponto final na Geringonça e dos seus parceiros nesta terem contribuído para a queda do governo socialista.

Anónimo disse...

A qualidade de vida que muitos portugueses ainda têm, devem-na á constituição da Republica, que agora estas alminhas se propõem para desfazer. Esta constituição foi elaborada graças ao contributo da esquerda, e o povo assim que se sentiu bem na vida deixou-se embalar por arautos da ameaça comuna, e armados em sociais democratas trataram de dar maiorias á direita por receio que os comunas lhes tirassem o pão da boca.
O pcp também também ajudou com o seu ortodoxismo, apesar de ao contrario do que possa parecer, e do que afirmam, incluindo o sr. embaixador, depois da queda do muro, não tem nada a ver com Moscovo, sendo essa aliás mais uma maneira de lavar as cabecinhas do zé povo, com receio do papão comuna. Em breve voltarão a saber o que é um bicho papão.
Como diria Voltaire. A POLITICA É O MEIO PELO QUAL OS HOMENS SEM CARACTER, DIRIGEM OS HOMENS SEM MEMORIA. No tempo dele as mulheres ainda não contavam, mas aplica-se a elas do mesmo modo.

João Cabral disse...

Devo dizer que folgo em ler que o senhor embaixador considera o PCP uma "igreja" cujo líder é escolhido precisamente por não trazer nada de novo e que o BE é um partido algo agressivo e paternalista. Afinal, até concordamos em mais do que parece. Mas sei que se fosse eu a escrever isto aqui, não seria publicado.

Anónimo disse...

A coisa está preta como se usa dizer. Mas ainda não viram nada.
Se com um bocado de azar, o distribuidor de vacinas for eleito presidente, vai ser o fim da macacada. Como disse o barão de Itararé, se há um idiota no poder significa que os seus eleitores estão bem representados. E o adjectivo é á escolha, digo eu.

Flor disse...

Muito obrigada Sr. Embaixador. Li com muita atencao, como sempre. :)

Paulo Guerra disse...

Isto parece-me ser o que se costumava chamar de acertar no totobola à segunda-feira. Ou seja, basicamente PNS perdeu as eleições porque chumbou a moção de confiança e devia ter continuado a fritar o PM porque em Portugal é probido dar tatau ou derrubar Govts. Que se lixem os valores como a falta da idoneidade.

Já foi assim que Cavaco e Costa ganharam a maioria absoluta e da ultima vez Bloco e PC quase despareceram. Portanto o Luis é um estratega politico melhor que PNS. Então e o PS não tem nenhum animal politico que explicasse algo tão simples ao PNS? Claro que tem mas na época diziam todos na televisão que o país ia para eleições por causa do Luis. Da esquerda à direita, inclusive muita gente do PSD. Eu pelo menos não ouvi ninguém dizer que o país ia para eleições por causa do PNS.

Ok, eu admito que sigo pouco a politica partidária em Portugal mas foi a ideia com que fiquei. E partidos como o PS e o PSD não vão para eleições por dá cá aquela palha. O PS não teria sondagens diferentes?

Francisco Seixas da Costa disse...

Paulo Guerra devia ler isto: https://duas-ou-tres.blogspot.com/2025/03/tao-simples.html

Paulo Guerra disse...

Muito obrihado Sr. Embaixador. Mas não invalida o coro nas televisões em Portugal antes das eleições. O PS não tem um Senado?

josé ricardo disse...

Uma análise interessante, Sr. embaixador.
Tudo isto é muito circunstancial, como o foi a maioria absoluta do PS há dois anos.
Eu também acho que Pedro Nuno Santos fez mal em cair na armadilha de Montenegro ao chumbar a moção de confiança. E continuo a pensar que Pedro Nuno Santos é melhor potencial primeiro-ministro do que José Luís Carneiro (e Montenegro), tal como Rui Rio o é no PSD, em relação a Montenegro. E isto leva-nos a um ponto interessante: os líderes dos dois maiores partidos, atualmente, são segundas escolhas dos seus militantes, isto é, são candidatos derrotados internamente por quem, realmente, os conhece.
Agora, o partido mais saudável neste momento é, sem dúvida, o Chega. Hoje, o terceiro lugar é do PS; amanhã poderá ser do PSD. Só restará saber quem fica em primeiro.

aguerreiro disse...

O PNS foi fruta verde colhida antes do tempo!

Anónimo disse...

acho que pns não podia ter feito grande coisa, tendo ele sido um bom ministro, bastante capaz . os resultados da eleição foram determinados por um único fator: imigração. os comentadores referem este fator no meio de tantos mas ele é crucial. não foi por acaso que o governo mandou cá para fora os números de imigrantes, que são avassaladores (o ritmo, ou seja em termos matemáticos a primeira derivada, de entrada de imigrantes está perto de um record mundial). todos os outros temas (propostas setoriais, as incríveis avenças do montenegro e justificações atabalhoadas, os problemas do sns) ficaram completamente de fora da mente dos eleitores na hora de decidir.
um bom exemplo deste fator determinante da imigração são os resultados da outrora capital do pcp e das lutas operárias, a marinha grande (podia ser o seixal, também), onde o chega ganhou (quem quiser saber porquê que passe por lá e é fácil de ver). quando perguntamos às pessoas (o que os comentadores decididamente não fazem) o porquê do chega, dos operários a pessoas com formação superior, a resposta é simples: não queremos que a nossa terra se transforme em islamabad.

Carlos disse...

Sr Emabixador, concordo com muito do que escreve mas há uma divergência irreconciliável em relação a avaliação sobre o desempenho de Pedro Nuno Santos na qualidade de Ministro das Infarestruturas e da Habitação. Não foi um bom ministro! Foi mesmo um mau ministro quer o plano técnico quer no plano político.

Não podemos ser condescendentes com atos governativos que por inépcia causaram graves prejuízos. Foi a gestão da TAP desde decisões absurdas tomadas durante a pandemia com a interrupção dos voos durante meses, quando as outras transportadoras continuavam a voar, foi a escolha da gestão após a intervenção pública, foi o despedimento de Alexandra Reis, foi a total ausência de resposta a crise da habitação (aparte a perseguição aos senhorios), foi a gestão incompetente do leilão 5G. E no plano político não podemos esquecer o decreto sobre a localização do aeroporto de Lisboa.

Só para mostrar a falta de discernimento de PNS, convém ainda lembrar história rocambolesca protagonizada pelo assessor Frederico (nomeado por PNS e herdado por Galamba) que envenenou definitivamente a relação já tensa entre Costa e Marcelo. Este herói da CPI foi co-autor em setembro 2023 com Hugo Mendes do livro sobre os “patos que não voam”. Em 2025 Hugo Mendes aparece nas listas de candidatos a deputados em Lisboa em 4o lugar!

Não, PNS não foi um bom ministro! E não se compreende como alguém com o currículo governativo de PNS foi escolhido com entusiasmo para liderar o PS em 2024. PNS durante a campanha eleitoral em 2025 apontava o dedo ao governo de Luís de Montenegro erros de governação. Não é que não tenham sido cometido erros (um dos maiores foi a gestão das reivindicações do setor público como os professores) mas PNS não tinha qualquer autoridade moral para falar sobre estes temas!

PS - declaração de interesses: votei no PS em 2024 e 2025

marsupilami disse...

Um bom trabalho como ministro não se traduz necessariamente em sabedoria política e capacidade para dirigir um governo. PNS demonstrou que não a tinha no episódio do aeroporto: desautorizado por Costa, a única opção que lhe restava era demitir-se e assumir o confronto político. Não o fez, demonstrando falta de sentido político. Pusilanimidade, diriam os mais cruéis. Quanto a Costa, rodeou-se de gente que apenas lhe dizia o que ele queria ouvir. Perdeu uma oportunidade única para melhorar o País. Aparte conversas de campanha, nunca se nos dirigiu seriamente para explicar quais eram os grandes eixos da governação em matéria de política industrial e produtiva, e quais os objectivos que se propunha alcançar. Depois de se ter demitido, a tarde e a más horas, lembrou-se de fazer uma comunicação pedagógica ao País. Não com o intuito de mobilizar os cidadãos (pudera, já era tarde), mas para cuidar da sua imagem. Deixou a ideia de alguma superficialidade, muito conformismo, e uma pitada de narcisismo. É pena. Pior : a oportunidade perdida talvez ainda se venha a revelar prenhe de consequências trágicas para o País. (Votei PS em todas desde 2015)

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

«O país tinha optado sentimentalmente por Zelensky», é verdade; mas não racionalmente.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

«O País tinha optado sentimentalmente por Zelensky», é certo; embora não racionalmente.

Luís Lavoura disse...

O país só foi entretanto a votos porque Pedro Nuno Santos assim o quis. E essa, no domínio das culpas daquilo que aconteceu, é uma culpa apenas sua.

Exatamente.

Pedro Nuno Santos foi duplamente parvo. Primeiro, porque imediatamente a seguir às eleições de 2024 afirmou que, se o Governo AD alguma vez apresentasse uma moção de confiança, o PS votaria contra ela. (Não tinha nada que ter estado a dizer isso; não se deve abrir a boca sobre o futuro.) Segundo, porque, posto perante a moção de confiança, preferiu não desdizer o disparate que tinha dito há um ano, preferiu não reconhecer que fora um disparate.
Quem erra duas vezes merece perder o jogo.

Anónimo disse...

Nunca me passou pela cabeça q este resultado fosse possível. Sempre pensei q o país se fosse indignar com a conduta do PM. Fossem outros os tempos e o próprio PM teria pedido a demissão. Eu não percebi q o país tinha mudado. E, aparentemente, o PNS também não. Ele paga um preço elevado: deixa a vida política.

Mas também há q dizer q PNS tem traços de personalidade incompatíveis com a dignidade q o exercício do cargo de PM exige. A forma como responde às perguntas dos jornalistas na noite eleitoral é demonstrativa e… confrangedora (“por mim vou-me já embora” ou coisa parecida).

Melhores tempos virão… isto não é a crise do século terceiro e os bárbaros não estão às portas de Roma, ou talvez estejam…

Natas

Na NATO os secretários-gerais são locutores de um script escrito em Washington ou, pelo menos, com uma mensagem que, à partida, se sabe que ...