quinta-feira, maio 15, 2025

Da Michelin


Há uns anos, num grupo de bons garfos, conceito que algumas vezes coincide com o de bons gastrónomos, vieram à baila da conversa as pataniscas. 

Nos tertulianos da mesa havia belíssimos cozinheiros, dos que sabiam da poda e do polme, tal como havia meros usufrutuários gustativos da arte alheia, de que eu era um insigne e incorrigível exemplar. Cada um de nós mandou então solenes bitaites sobre pataniscas - no meu caso centradas na sua deglutição, outros no processo de produção a montante da fase no prato. Nomes de restaurantes, chefes com fama e até mães dos alguns presentes que "as cozinhavam como ninguém", foram chamados a terreiro.

A certo ponto, um comentário de um dos até então silenciosos membros à mesa chamou a nossa atenção, pelo seu caráter imperativo: "Conheço um sítio onde se servem umas pataniscas dignas do Michelin". No meu caso, porque gosto muito dessa forma de honrar o bacalhau, que até nem tem de ser "de primeira", logo pedi o endereço dessa casa. Outros mostraram intenção de também tomar nota. 

Generoso e sorridente, o nosso informador deixou então as coisas mais claras: "Quando me refiro ao Michelin, não me refiro às estrelas, mas à consistência: as pataniscas que se servem naquela casa parecem borracha de pneu!"

Ontem à noite, no Porto, fui jantar ao último dos restaurantes clássicos da cidade que ainda não conhecia. O que é obra, acreditem! Há anos que andava para visitar esta casa. Esperava mesmo poder sair dali com umas notas que me permitissem escrever uma apreciação positiva, para uso e proveito dos leitores que fazem o favor de aqui me ler. E até previa ir penitenciar-me por só agora ter feito esta visita.

Mas de boas intenções está a Baixa portuense cheia! Entre outras coisas que se provaram, que estavam razoáveis mas nada de excecional, caí na asneira de mandar vir umas pataniscas. Uma desilusão: altas, maçudas, sem sabor, fritas por fora e desgostantes por dentro. Michelin? Mabor e é um pau! O arroz de feijão, num tacho a acompanhar, estava bom, vá lá!

E assim se não fez uma crónica gastronómica que a simpatia da empregada, as sobremesas e até o espaço talvez merecessem. Mas umas más pataniscas põem-me fora de mim!

9 comentários:

Flor disse...

E se calhar essas pataniscas altas e massudas tambem teriam uma ausencia....a de bacalhau ;) ;)

ematejoca disse...

Na cidade invicta as melhores pataniscas como-as na casa da Lulu.

Anónimo disse...

Umas pataniscas famosas, num sitio onde nunca fui, mas de que ouvi falar a primeira vez através do jornal a BOLA, onde levaram o Preudhomme a come-las quando veio para o benfica, era salvo erro, na travessa da queimada no bairro alto, e presumo que já não exista, mas lembro-me de, depois dessa cronica na Bola, ouvir falar muito bem do lugar. Se alguem se lembrar do nome, que indique sff ao sr. embaixador, se ainda existir.

Francisco Seixas da Costa disse...

Ao Anonimo. Seria o Alfaia?

Unknown disse...

Pataniscas ensopadas em óleo e sem bacalhau é catástrofe

Anónimo disse...

Não me recordo, mas penso que o dono ou gerente era tratado pelo jornalista como -amigo Emilio- se a memória não me atraiçoa.

Anónimo disse...

Após fazer uma pesquisa na net, veio o nome do restaurante, era ADEGA DA TIA MATILDE.

Anónimo disse...

Ainda existe é não é no bairro alto, Confusão minha.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Se calhar estavam mais para Fedima todo-o-terreno.

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