Não faço ideia se a imprensa internacional destacou o assunto na
agenda das curiosidades, mas seria imperdoável se não tivesse ficado bem registado
o caso da desistência de uma candidata às eleições presidenciais portuguesas, alegadamente
por virtude da documentação para a instrução da respetiva candidatura ter sido
levada pelo vento que assolou os Açores. Creio que nunca o famoso anticiclone
tinha tido uma intervenção política tão significativa...
Verdade seja que, neste morno tempo de campanha presidencial,
este terá porventura sido o seu episódio mais excitante. Ao que vou lendo, os
candidatos dedicam-se a refeições e conversas corporativas, transportados por
ondas grisalhas de apoiantes, perante um país que parece esvaído num cansaço
político, depois da saga da indigitação governativa. Nada que deva desagradar
muito ao putativo incumbente que dispõe da mais óbvia notoriedade mediática,
que entra na semana natalícia com expetativas elevadas, devendo, no entanto,
cuidar em não ser filmado a comer bolo-rei, como sucedeu a alguém há uma
década, embora tenha sido a nós que saiu a fava...
Imagino que a António Costa não apeteça falar muito de eleições
presidenciais. Como tem sido triste regra recente, o PS balcanizou-se entre
candidatos que se reclamam da área do partido, conduzindo este a mais uma
situação embaraçosa. Não optar entre os voluntários pareceu-me ser uma atitude
sensata, embora também possa ser lida como desvalorizante da escolha. E, como o
passado recente provou à saciedade, o lugar tem muito maior importância nos
equilíbrios internos do que por vezes se supõe.
Passados que foram meses de excitação e combate político,
fica-se com a sensação de que o país está a viver um tempo de desejada
“acalmação”, não obstante ainda emerjam, aqui ou ali, histriónicas ressacas,
típicas das saídas inesperadas do poder. Atentas as expetativas baixas com que
o novo executivo foi recebido, a autoridade serena do primeiro-ministro, a
qualidade muito respeitável da sua equipa e o inesperado “bom comportamento”
dos seus companheiros de jornada induz uma imagem de estabilidade em que, há
semanas, ninguém apostaria.
Entramos daqui a dias em 2016. Se o défice deste ano se
aguentar, se o Banif acabar por não correr mal, se os patrões aceitarem pacificamente
o salário mínimo, se o orçamento vier a estugar ambições excessivas e a fazer
sorrir Bruxelas, quem sabe se tudo não pode vir a correr pelo melhor?! Ah! Mas
é muito importante que o senhor Draghi tenha muito boas festas para que nós
todos tenhamos um ano novo feliz.
5 comentários:
Muito bem.
Caro Seixas da Costa,
Olhe que o "famoso anticiclone" não teve intervenção directa no caso. Estivesse ele centrado na região e a depressão que levou os papéis não teria chegado às ilhas.
Cumprimentos.
JRodrigues
Francisco
Para si e para todos os seus comentadores umas Festas capitosas e um 2016 com um pouco mais de capital e boa saúde são os meus votos.
Não haverá por aí nenhum candidato que se disponha a ir até ao Guincho com as assinaturas dos proponentes na mala do carro? Se isso se concretizasse, e eu pudesse escolher, sugeriria um que em tempos se gabava de ir para lá logo de manhã dar umas braçadas.
António Costa surpreende sempre pela originalidade.
Costa é original.
Enquanto as originalidades surgirem, tudo vai correr às mil maravilhas.
A maior originalidade de António Costa não são as decisões apenas.
A maior é António Costa não ter nem as qualidades nem os defeitos da maioria dos portugueses.
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