- Parece óbvio que o presidente da República vai nomear Pedro Passos Coelho para formar governo.
- Não faz o estilo de Cavaco Silva dar por adquirido que esse governo vai ser necessariamente derrubado, dando oportunidade, desde já, à alternativa que António Costa ontem lhe anunciou.
- Vamos assim assistir à tomada de posse de dezenas de ministros e secretários de Estado de um governo PSD/CDS com um prazo de validade pré-anunciado, o que pode não ser muito estimulante, mas cumpre os necessários rituais da democracia.
- Tudo indica que esse governo verá o seu programa derrotado no parlamento, pelo que se converterá, com toda a certeza, num dos mais curtos do nosso período constitucional, passando a ter como termos de comparação os governos de Mota Pinto e Nobre da Costa.
- Será muito curioso observar o leque de figuras Passos Coelho colocará nesse precário executivo.
- Uma hipótese é esse ser um governo "de sacrifício", com personalidades que estejam dispostas a serem "queimadas" num exercício que se sabe vão, figurantes de um cenário de dramatismo que se projetará por dias épicos em S. Bento, pelas televisões e pelas colunas tremendistas do "Observador".
- Outra hipótese, politicamente muito mais desafiante, seria Passos Coelho conseguir reunir um governo "de excelência", um naipe de eminentes figuras, altamente prestigiadas no país, por forma a tornar muito mais "chocante", no plano político, o derrube desse executivo, restando apenas saber que personalidades desse extraordinário quilate estariam dispostas a ir para um governo sem futuro.
- Devo dizer que esta segunda hipótese teria uma imensa virtualidade: obrigaria António Costa a "responder" com um governo de qualidade equivalente, porquanto o secretário-geral do PS, até para estar à altura do desafio e poder justificar perante o país o derrube desse tal "governo de excelência", não poderia deixar de formar também uma equipa "de luxo".
- No fundo, se fosse possível, este "subir da parada" poderia contribuir para que o país acabasse por ficar muito bem servido em termos governativos.
- Portugal vai passar por tempos politicamente muito interessantes, mas o nosso sistema democrático já foi, no passado, atravessado por tensões muito fortes e está aí vivo e recomenda-se.
quarta-feira, outubro 21, 2015
O próximo governo em 10 pontos
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Senado
Dois terços dos senadores do Partido Republicano americano não foram eleitos no dia 5 de fevereiro, isto é, na onda política Trump II. É de ...
13 comentários:
Pelos vistos, Cavaco Silva vai prestar mais um mau serviço ao País. Terá recebido a garantia de Passos Coelho de que iria conseguir obter nove votos de deputados de outros partidos? Só assim se pode entender esta possível nomeação de um governo provisório ou de iniciativa presidencial, para usar termos que desde há mais de trinta não conhecíamos em Portugal. Quase a terminar o seu segundo mandato, o actual presidente deixa o país em muito pior estado do que aquele em que o encontrou. E não é por falta de poderes constitucionais. Factos são factos.
JPGarcia
E o embaixador acha pensável, mesmo como hipótese, que uma "personagem brilhante" aceite integrar um governo minoritário de Passos e Portas , quando nenhuma personagem brilhante aceitou qualquer cargo do seu passado governo em maioria absoluta? A cena mais engraçada de ontem, a este respeito, foi Portas ter oferecido o seu cargo a Costa - fiquei também comovida: logo ele, Portas, tão representativo do eleitorado, com tantos milhões de votos às costas, fazer tal sacrifício pela pâtria...
Essas esperanças foi do que viveu a democracia. Agora, já se sabe, é sempre a “descer”. Ainda mais porque um governo de Costa não terá os “palmos de lei”. Tem um programa que perdeu, suportado por uma coligação com o fito de desapoiar o que ganhou. Logo não está sufragado.
Mas se refizerem a estrutura de apoio e defesa dos mais de 25 000 produtores das uvas, que produzidas na “única” região demarcada do Douro, dão como resultado, com processos consagrados, um vinho ímpar no mundo, conforme prometeu Ascenso Simões, já farão muito.
O Duriense
Os rituais da democracia assim o ordenam e assim deve ser, mas não seria do interesse do país e até da própria democracia (que cada vez mais é olhada como um fastidioso jogo partidário) evitar-se a nomeação de um governo nado-morto?
Ao exigir a Cavaco que nomeie Passos para formar governo, mais do que espreitar a possibilidade (remota) de uma "mão" de deputados se rebelarem contra António Costa e deixarem passar o governo de Passos/Portas, o que a direita pretende é arrecadar o trunfo (para o jogar mais tarde em busca de uma maioria absoluta) de o PS ter "abortado" um governo "eleito democráticamente". E Cavaco escudando-se nas regras, protegendo-se de um temporal de direita que a nomeação imediata de Costa provocaria, mas não cuidando de ponderar o real interesse do país, faz-lhes mais um jeito. O último.
A segunda hipótese é deveras a mais atraente.
Até acho que será possível.
Pode ser que o "susto" que António Costa está a provocar com as negociações com o BE e PC, desperte os chamados notáveis para sacrificarem o seu conforto (incluindo o financeiro) em prol do País.
De qualquer das formas, deve ser apresentado no parlamento um governo pela coligação.
É na AR que a discussão tem que ter lugar e ser transparente afim de ficarmos a saber tudo o que se passa e não em reuniões "secretas".
Concordo com o embaixador, os tempos políticos estão muito interessantes e, sobretudo, abrindo a porta à esperança e anunciando que já nada será como era. Entre escudar-se nas regras e dar luz verde a um governo nado-morto, para ver se na AR haverá alguma rebelião (no PS), diz bem dos interesses que este Presidente pondera. Já o mostrou à exaustão. Não creio que colha este argumento de termos de viver e conviver com um governo nado-morto.
Na AR terá, e deve ter lugar a discussão. Mas igualmente será transparente e ficaríamos a saber tudo o que se passa se o Presidente desse posse a quem garante à partida um governo estável, isto é, PS com o apoio BE_PCP. Assim, evitaria muito do teatro e da manipulação que continuará a desenrolar-se.
Uma equipa de estrelas? Nem que foras tenente! Queremos uma equipa de trabalho,que sue a camisola,que dê tudo o que tem e morra no campo,se preciso for... Estas imagens futebolísticas são de uma elegância...
Tenho as meninges a arder de tanto pensar quem serão os 9 deputados que mudarão o seu voto a favor da coligação, a bem do País.
Cumprimento-o :)
Só pelo prazer de ver Jerónimo (e seus sindicatos) agarrados, valia a pena ver o Costa uns tempinhos embrulhado no rolo que criou.
Mas pelos vistos, Cavaco Silva vai "queimar" essa etapa.
O pós 4Out15 e a descoberta do caminho para o poder.
Relevando o realista e saudável têxto do Sr Embaixador.
“O código cósmico” (a física quântica como linguagem da natureza)
«Se é que existe uma tal “consciência colectiva”, não faço a menor ideia de como comprovar a sua existência. Aqueles que apelam para uma consciência colectiva como «a vontade do povo» fazem-no geralmente para servir os seus interesses ou as suas opiniões políticas ou sociais»
Heinz R. Pagels, Gradiva (Lisboa)
A bem do Regime, hábito dos cinzentos dias ancien regime. Da Nação.
Não se preocupem, para vocês temos tempo !
O eurodeputado português Paulo Rangel disse esta quarta-feira em Madrid, no âmbito do congresso do PPE, que não percebe como o Partido Socialista pode fazer um acordo com o PCP - que propõe neste momento em Bruxelas que o orçamento comunitário inclua financiamento para a saída de Estados da zona euro.
É engraçado ler, no seu ponto 4, que, na sua evocação aos governos de curta duração, se tenha ido socorrer de dois exemplos encadeados de governos de iniciativa presidencial de Eanes. Conhecendo o "carinho" que aqui tem dedicado àquele ex-presidente e aquele que desconfio dedicará aos dois ex-primeiros-ministros mencionados, Nobre da Costa e Mota Pinto, tenho a minha opinião sobre a "casualidade" das suas escolhas. É que, se o III Governo constitucional de Nobre da Costa foi o mais breve da história da Democracia portuguesa (86 dias), outros houve que em caducidade ultrapassou a do IV Governo de Mota Pinto (251 dias),
caso dos 156 dias do V Governo, também de iniciativa presidencial de Maria de Lurdes Pintassilgo (mas essa acredito que, apesar da nomeação presidencial, lhe possa despertar outras simpatias...),
caso dos 217 dias do efémero II Governo de Mário Soares e da coligação PS/CDS
caso do 238 dias do XVI Governo PSD/CDS de Pedro Santana Lopes.
Claro que estes são apenas exemplos factuais, é sempre possível que nenhum deles lhe tenha ocorrido, meu caro embaixador.
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