quarta-feira, outubro 07, 2015

Restos eleitorais


Numa parede da rua onde hoje moro, manteve-se, por décadas, uma "pixagem", num registo muito amador e primário, que recordava a candidatura comunista às eleições presidenciais de 1976: "Eu voto Pato".

Passando-se isso no bairro da Lapa, tido naquela época revolucionária como um "coio" de burgueses reacionários, posso imaginar que a frase não fosse necessariamente destinada aos moradores da zona, cujo entusiasmo pelo candidato do PCP não devia ser dos mais esfuziantes. Numa sociologia eleitoral de pacotilha, pode mesmo especular-se que o objetivo seria suscitar um sentimento contrastante das "massas" em trânsito, fosse do proletariado apeado de serviço doméstico, fosse de outros trabalhadores que, de elétrico, atravessavam esse terreno do "inimigo de classe". Os 7,59% que Octávio Pato então obteve provou os limites do proselitismo comunista por esse tempo pós-25 de novembro.

A verdade é que a pintura, provando a sua inocuidade, se manteve por lá quase quatro décadas, só tendo desaparecido há uns escassos meses, talvez por decisão de alguma imobiliária, desejosa de evitar perguntas incómodas de um dos muitos chineses que, com visto "gold", pretendem transformar a Lapa num subúrbio de férias de Shangai.

Vem isto a propósito de uma "guerra" impossível que mantenho, desde há muito, contra o insalubre costume dos portugueses de não retirarem os cartazes eleitorais, logo nos dias imediatos aos sufrágios. Para pôr cobro a esta poluição visual, seria necessária legislação com coimas a impor aos partidos que não recolhessem a sua propaganda num prazo a definir. Mas imagino que os legisladores não sejam masoquistas.

Assim, por semanas, senão por meses, lá iremos continuar a cruzar, em posters ou "outdoors" que só a chuva se encarregará de ir degradando, com aquelas caras que nos enxamearam as ruas e as televisões nos últimos meses. Não todas, claro, porque houve duas que, por qualquer mas interessante razão, evitaram essa exposição. Mas, pensando bem, por que diabo os partidos o fariam se as próprias autoridades ainda deixam subsistir, lá para Cabo Ruivo, um letreiro que indica "Expo 98"?

7 comentários:

Anónimo disse...

O Embaixador ainda está ressabiado com mais uma derrota frustrante do seu Partido XuXIalisyta. Depois quem paga as favas é o PC e quando não é o PC é o Bloco. Enfim ó Embaixador um dia destes vai ver o seu partidozinho de falsetes cor de rosa a partir-se em muitos bloquinhos.

Anónimo disse...

Amigo Chico

Essa do letreiro sobre a Expo 98 faz-me lembrar a estória (de barbas) de quatro amigos que discutiam as habilidades dos animais que possuíam.O Italiano disse que tinha o melhor animal: um papagaio que cantava a Traviata; o seguinte: nada nada, eu tenho um cão que densa o Bolero de Ravel; o terceiro: isso não é nada comparado com o meu corvo que diz otorrinolaringologista; e o último: ganhei! Eu tenho um prato que diz Vista Alegre...

No entanto estou de acordo: limpem-se os cartazes de propagandas eleitorais ; e já agora outros que tais...

Abç do Leãozão

Anónimo disse...

Octávio Pato, o homem que tinha sempre a boca seca... A tinta do cartaz era mesmo boa...Houve convocações para uma qualquer manifestação numa data que, não anunciando o ano, se referia há um ou dois anos atrás...
Lembranças tristes ou talvez não...

Anónimo disse...

"O Embaixador ainda está ressabiado com mais uma derrota frustrante do seu Partido XuXIalisyta. Depois quem paga as favas é o PC e quando não é o PC é o Bloco. Enfim ó Embaixador um dia destes vai ver o seu partidozinho de falsetes cor de rosa a partir-se em muitos bloquinhos."

depois queixa-te que apareceu um syriza leva o pais para a esquerda que tu nao queres. Em caso de duvidas ve la

2.071 milhoes PSD+CDS
1.740+0.549+0.444=2.733 milhoes PS+CDU+BE

portanto vai la para casa rezar para que o ps continue como é, se nao ainda acordas um dia a maldizer os sonhos passados



Anónimo disse...

Bastaria a CML tomar a iniciativa.
Há 30 anos, a Cambio 16 tinha a notícia de que o Ayuntamiento de Madrid tomara a seguinte decisão:
- em período de campanha eleitoral, para poderem colar cartazes e colocarem outdoors nos espaços a isso destinados, cada partido era obrigado a depositar uma caução, que, à época, era muito cara:
- terminada a campanha, tinham, não me lembro bem, qualquer coisa como uma semana para limparem tudo e reaverem a caução;
- caso não o fizessem, esse dinheiro não era devolvido, no entendimento de que iria servir para pagar trabalho extraordinário de limpezas.
Mas isso era Espanha.. Aqui, em todos os bairros, há lixo de campanhas várias à vista e as juntas de freguesia, em vez de tratarem do assunto, facturam «eventos» vários que ainda fazem mais lixo..

Anónimo disse...

"(...)um alarmismo que me parece só ele vislumbra dentro do país (diplomatas estrangeiros telefonaram-me nas últimas horas para tentar perceber que "riscos" se prefiguravam no nosso horizonte)". Esses diplomatas estrangeiros são mesmo uns reamtados tótós, não é? Não entendem nada, não compreendem nada,andam por aí a ver arribar os tordinhos que vão em peregrinação para o sul à procura do sol. Quando precisam de escrevinhar qualquer coisita sobre os arcanos e hermetismo locais no âmbito do seus deveree funcionais,pedem explicações....

Anónimo disse...

Para o anónimo das 10:32, caro anónimo vou ser uma decepção para si, isto porque não rezo, sou Ateu.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...