segunda-feira, outubro 19, 2015

Cadernos Dom Quixote

Muita gente da geração que viveu os tempos interessantes dos anos 60 e 70 do século passado teve nos Cadernos Dom Quixote uma importante fonte de referência sobre temáticas internacionais que, por cá, eram abordadas escassamente e a medo pela imprensa, as mais das vezes num registo crítico conservador ou, no polo oposto, num radicalismo que, de uma forma ou de outra, iria desembocar na Revolução de abril. A ousadia das Publicações Dom Quixote, sob a direção de Snu Abecassis, lançou então algumas dezenas desses pequenos e acessíveis cadernos, que juntavam textos traduzidos e pouco acessíveis, grande parte extraídos de publicações de pendor democrático com grande prestígio. A polícia política passou a detestar os Cadernos Dom Quixote, alguns dos quais foram apreendidos logo após a edição. Ainda guardo alguns dos números mais interessantes.

Neste tempo em que a Dom Quixote comemora os seus 50 anos de vida editorial, foi decidido retomar uma nova série de cadernos. Temas tão atuais como o Islão, a crise do euro ou a guerra na Ucrânia fazem parte deste reinício de uma coleção a que só podemos desejar a maior sorte.

Notei apenas uma diferença entre os Cadernos antigos e os modernos. Os primeiros chamavam-se "Dom Quixote" e estes são "D. Quixote", seguindo, aliás, uma subliminar mudança no nome da editora cuja razão um dia peguntarei aos meus amigos João Amaral e Duarte Bárbara.

Em tempo: como eu editei dois livros na "Dom Quixote", terei transitado como autor da "D. Quixote"? Não sei onde anda o meu contrato, mas já deve ter prescrito...

2 comentários:

Manuel Tomaz disse...

Sobre os Cadernos Dom Quixote, ao ler o seu post, lembrei-me de um episódio passado numa Tabacaria em Lisboa, no início dos anos 70. Alexandre O'Neill entregava um filme fotográfico para revelar. O empregado pediu-lhe o nome para registar no envelope, porem, não havia forma de compreender o "O'Neill". O Poeta, com um certo humor, mostra-lhe um livro das Edições Dom Quixote, que estava lá à venda, mesmo junto a ele, de sua autoria, para o empregado copiar o nome...







Abraham Chevrolet disse...


"Radicalismo que iria desembocar no 25 de Abril"? Hum,hum,tá bem,tá....

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...