sexta-feira, outubro 02, 2015

Vermelho


Este blogue anda hoje muito pela "esquerda da esquerda"..,

Há horas, no Chiado, ali entre o lugar onde já estiveram a famosa Livraria Moraes e, para gostos e memórias de dimensão lúdica mais ligeira, o cabaret Nina, estava à conversa com o meu amigo José Vera Jardim quando surgiu, vindo do lado do teatro S. Luís, o secretário-geral do PCP. Não saía, pela certa, da "arruada" muito grisalha do Partido Socialista que, pouco tempo antes, descera aos vivas e num esforçado entusiasmo militante a rua Garrett, "queimando os últimos cartuxos" e exaurindo as derradeiras esperanças.

Jerónimo de Sousa ia apressado, porque estes tempos de campanha são muito exigentes. Cumprimentámo-nos e o José Vera Jardim gabou a elegância física dos seus 68 anos. O líder comunista gracejou com o elogio e despediu-se, depois do breve encontro.

Creio que em 2008, Jerónimo de Sousa foi ao Brasil, a convite do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que é hoje uma coisa bastante diferente do histórico Partido Comunista Brasileiro, o "partidão", cuja figura mais importante foi o mítico Luiz Carlos Prestes, o "cavaleiro da esperança", retratado por Jorge Amado. Nos dias que correm, o PC do B parece ser o interlocutor brasileiro do PCP.

Uma visita de Jerónimo de Sousa a Brasília no quadro dos seus contactos brasileiros coincidia com a comemoração do 10 de junho que eu organizava na embaixada. Transmiti-lhe um convite para estar presente, mas, segundo fui informado, a sua agenda era incompatível com o evento. Tive pena.

Dois dias depois, porém, tive de deslocar-me ao Rio de Janeiro, para uma cerimónia na Academia Brasileira de Letras. Dei-me então conta, pelos jornais, que, uma hora e tal antes dessa ocasião, Jerónimo de Sousa proferia uma conferência na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a convite do PC do B. Aproveitei o tempo que tinha livre e fui assistir ao início da conferência do líder comunista, aproveitando para o cumprimentar pessoalmente e colocar a embaixada à disposição do que de nós necessitasse.

Jerónimo de Sousa, como é seu timbre pessoal, acolheu-me com grande simpatia, agradecendo a minha presença. Mas devo dizer que pressenti que ficou um tanto surpreendido ao ver o principal representante diplomático português naquele país num evento daquela natureza.

A nossa ordem constitucional funciona hoje com toda a normalidade, mas arrisco afirmar, com boa dose de probabilidade, que se devem contar pelos dedos de uma mão, em 40 anos de democracia, as ocasiões em que um embaixador de Portugal esteve presente num evento deste género, envolvendo o líder dos comunistas portugueses. Por mim, achei perfeitamente natural fazê-lo e, como é de regra, informei posteriormente Lisboa do facto. Contudo, a distância física não me permitiu assistir ao provável cerrar de alguns sobrolhos. Foi, porém, o lado para que dormi melhor...

4 comentários:

Anónimo disse...

Ó Embaixador, falou ai no cavaleiro da esperança, quantas pessoas em Portugal ou até mesmo no Brasil conhecerão esta magnifica obra de Jorge Amado? ai ele retrata a célebre coluna Prestes, que também muita gente dos dois lados do Atlântico não sabe o que foi. A sua melhor faceta é o senhor apesar de ás vezes me irritar, possuir uma grande cultura Geral. Para mim a hierarquia que sempre fiz das pessoas é pela sua riqueza ou pobreza cultural e nunca pela sua riqueza ou pobreza materia.l

Anónimo disse...

Sr. Embaixador,

Apesar de já exercer o cargo, mantém o estatuto.

Parabéns pela atitude que teve. Mais a tivessem.

Cordiais cumprimentos.

opjj disse...

JERÓMINO de Sousa é de facto um simpático mentiroso.Lá vai metendo a foice com uns camaradas cúmplices convencidos de espertalhões.Alguns até são uns palermões e acreditam em tudo.
Quando um tipo sem vergonha numa tribuna diz à boca cheia que pensões abaixo de 300€ pagam taxas moderadoras!
E assim vão os média rematando com a simpatia do homem que mente e cúmplices tb na mentira.
Cumps.

Anónimo disse...

Viver para contar...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...