domingo, outubro 25, 2015

A direita e a rua

"A Rua" foi um conhecido jornal de direita, editado em papel forte, no pós-25 de abril, sob a direção de Manuel Maria Múrias. Era redigido num português "de lei", com um discurso a contraciclo com o ambiente da época: o facto de assumir a defesa de um regime que os militares tinham acabado de derrubar fez com que a vida do jornal fosse curta.

Fala-se agora por aí que "a direita vem para a rua". Para além de umas arruadas queques, com "lodens" e palhinhas à mistura, na transição de 85 para 86, só me recordo da direita portuguesa ter vindo para a rua em força atrás dos socialistas, na luta contra o PCP e a "esquerda militar", a "António Serpa fardada", como sempre dizia uma amiga minha.

Mas, atenção! Se a direita portuguesa, insatisfeita com o curso político, decidir vir para a rua manifestar-se, tem todo o direito a fazê-lo e ninguém deve opor a isso a menor resistência ou provocação. Embora alguma direita não acredite, o 25 de abril também se fez para que ela possa usufruir da plenitude dos direitos democráticos.

9 comentários:

João Forjaz Vieira disse...

Tem toda a razão: a direita, em que me incluo, participou em todas as manifestações do PS contra o PCP nos idos de Abril. E vi muita gente de londen e palhinha (tem alguma coisa contra?) Não participei em mais nenhuma manifestação, desde aí, e suponho que a gente a que pertenço, também não, até porque detestamos andar de camioneta de um lado para o outro com bandeirinhas na mão e sem saber muito bem onde estamos. Também tem razão em relação ao Observador: É o primeiro jornal, desde o vinte e cinco de Abril que não se afirma de esquerda ou isento (de esquerda). Acho-o muito inteligente e sobretudo tem um lote de articulistas que não estão presos ao passado e pensam no futuro como europeus de pleno direito. Passaram mais de quarenta anos do vinte e cinco de Abril e eu, que já sou um homem de idade já não fui do tempo "Salazarista", só fui do tempo incompetente do Marcelismo de modo que gosto muito que, finalmente, haja um jornal decente que possa ser lido sem irritação por pessoas de direita (A esquerda quer dar licença, ou incomoda-a?) (reconheço que desde há uns meses o Público tem melhorado bastante)
João Vieira

José Alberto disse...

A direita pode manifestar-se livremente assim como todos os partidos com assento parlamentar podem integrar, também livremente, qualquer governo. Ou não?

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Alberto: claro que sim!

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro João Forjaz Vieira. Essa o "isento (de esquerda)". Só não percebo por que não dizem: "somos de direita, com muito gosto e assumimos". Agora isso de não ser de esquerda, ser liberal, ser de centro-direita é uma espécie de pobreza ideológica envergonhada... Quanto aos Loden e palhinhas, claro que eu tinha tudo contra! Eu apoiava o Zenha!

septuagenário disse...

Nem direitas nem esquerdas devem invocar o nome de Salazar "em vão".

O Homem e a sua memória estão nos antípodas de tudo o que se passa hoje, neste país totalmente dependente de favores de "parceiros" angolanos e europeus, que nem nos respeitam.

Joaquim de Freitas disse...

Há , à direita, uma ilegitimidade fundamental da manifestação, sinónimo de desordem e de ameaça.

Nunca assisti, infelizmente, a "descidas" da direita na rua, em Portugal! Assisti em Paris, em Maio 1968, a uma, impressionante. Com Malraux e Peyrefitte, à cabeça, para a defesa da Republica e repor De Gaulle no seu lugar.

Ah, o slogan "« Charlie, on est avec toi », ficou-me na memoria. Pensei nele em Janeiro passado, quando li outro slogan " Je suis Charlie" .

Depois, houve as manifestações -procissões para protestar contra a suposta política anti clerical dos governos de esquerda!

A escala histórica, a direita desce menos à rua que a esquerda. Mas quando o faz é com uma grande eficácia.

Na realidade , os "direitistas, não querem ser assemelhados a "esses bárbaros que acampam às portas das nossas cidades" como eles classificavam os trabalhadores.

Seria "drôle" que assistíssemos a manifestações em Portugal contra a Frente Popular!

Mas, como escreve o Senhor Embaixador, que esse direito seja respeitado. Mesmo se for contra a Frente Popular seria um passo em frente para a causa da Democracia.

João Forjaz Vieira disse...

Talvez não tenha sido claro: a enorme maioria dos jornais de esquerda dizem-se isentos e apartidários. Talvez a esquerda julgue o mesmo dos jornais de direita mas, onde estão esses jornais? Observador? Qual outro? O problema em Portugal como tem sido amplamente referido é que a esquerda julga-se moralmente superior. Tem um complexo de superioridade semelhante às pessoas como Rui Rio e outros que julgam que os lisboetas se julgam superiores aos portuenses. Não julgam porque nem pensam nisso e efectivamente não são. O Observador fez o enorme favor de dar voz ao que as pessoas comuns, que não estão presas aos fantasmas do século passado, europeias, e com os olhos no futuro pensam: são de direita? Neste sentido são. No sentido europeu umas serão e outras nem tanto.
João Vieira

Joaquim de Freitas disse...

Senhor João Vieira : O que "lhe" faz pensar que os socialistas têm um complexo de superioridade moral é o facto que a estrutura económica do capitalismo é uma ditadura, e que numa ditadura não existe moral.
Só na democracia real é que pode haver moral. No capitalismo a moral não existe. O elitismo sim.
O socialismo tem por objectivo o bem comum e não o beneficio privado. Não se trata de "arranjar" o sistema mas de o substituir por um outro.
Numa sociedade capitalista, para se distinguir do povo e enganá-lo o elitismo injusto apoia-se sobre moções primárias. Noções como origem social, perfeitamente imoral, riqueza material, detenção de poder... Pseudo superioridades que provêm na realidade de certos instintos primatas , grosseiramente humanistas.

António Azevedo disse...

Pronto, agora vamos nós povo assistir pávidos a estes jogos e conjuras palacianos na corte disfarçados de discussões ideológicas sobre quem é mais de direita ou de esquerda e quem mais serve o povo, tendo como terreno de peleja os órgãos de comunicação pertencentes aos donos disto tudo, cujo único interesse é a pipa de massa do 20 20 que há que tomar conta utilizando os seus funcionários instalados nos partidos.
Já fizeram o trabalhinho de desmantelarem as estruturas económicas do interior que diziam que eram um entrave ao seu "trabalho" portanto agora é só ver quem vai comer mais diretamente da gamela.
antonio pa

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...