quinta-feira, outubro 08, 2015

Raças humanas


Nadine Morano é uma antiga ministra, uma personalidade política da direita francesa que, em diversas ocasiões, já havia mostrado uma propensão para "flirtar" com algumas das ideias que fazem o seu caminho na extrema-direita do seu país. Diga-se que, nos últimos anos, isso também aconteceu com outras figuras do conservadorismo radical francês, agrupado na ala direita da UMP (partido agora rebatizado de Republicanos), os quais, aqui ou ali, ousaram pisar essa "zona cinzenta", numa manifesta tentativa de penetrar num eleitorado que sentem crescentemente seduzido por Marine Le Pen. Como é evidente, a questão migratória e os problemas de convivência de culturas, religiões e etnias que a França atravessa constituem o essencial desse debate.

O primeiro sinal dessa deriva, que está longe de honrar a direita democrática francesa, foi a atitude de muitos membros da UMP que, eliminados na primeira volta de uma eleição, e confrontados com a necessidade de recomendar aos seus eleitores uma dentre as opções do segundo turno, quebraram expressamente a chamada "regra republicana", que vigorava desde a Segunda Guerra Mundial para a extrema-direita e, em especial, desde que o Front Nacional existe: "tout sauf Front National", significando isso apoiar quem, do setor democrático, estivesse melhor colocado, fossem os socialistas ou mesmo os comunistas. Este princípio vigorou por décadas, mesmo quando o PC francês mantinha uma linha pró-Moscovo declarada: é que todos se recordavam da heroicidade dos comunistas na luta contra o nazi-fascismo. Foi assim triste ver alguns candidatos da UMP recusarem recomendar o voto nos socialistas ou nos comunistas, como forma de barrar o caminho à extrema-direita. Isso significava equiparar a esquerda à extrema-direita, o que é uma conhecida tese reacionária e fascizante. Por alguma razão o contrário nunca se passou: comunistas e socialistas aconselharam sempre o voto no candidato da direita democrática.

Mas voltemos a Nadine Morano. Há dias, num conhecido programa de televisão, Morano cometeu um lapso grave: referiu-se à França como "um país de raça branca". Foi o bom e o bonito! Morano explicou, pensando que isso atenuaria o gesto, que essa era uma expressão que havia sido utilizada pelo general De Gaulle, figura referencial da direita francesa. 

Morano não entendeu que algumas frases ou expressões, ditas numa determinada época, não sobrevivem necessariamente incólumes ao longo dos tempos, sendo sempre necessário fazê-las passar por um teste de contextualização. Com o "politicamente correto" a tomar conta do espaço público, é necessário cada vez mais aos políticos "policiarem-se" no que dizem, por forma a não incorrerem em ditos que possam ser lidos como ofensivos ou, no mínimo, deslocados no tempo. Veja-se o que tem acontecido com as tiradas sexistas e racistas de Donald Trump, o protocandidato republicano americano. E muitos recordarão o "sururu" que entre nós se levantou, com algum exagero, quando, um tanto inadvertidamente e citando uma expressão que fazia parte do património lexical de algumas gerações, o presidente Cavaco Silva se referiu um dia ao 10 de junho, apelidando-o de "dia da raça". Ia caindo "o Carmo e a Trindade"!

Voltando a Morano, devo dizer que me choca um pouco ver Nicolas Sarkozy, chefe do seu partido, os Republicanos (ex-UMP), "deixá-la cair" friamente depois desta declaração, ao ponto de ameaçar retirar-lhe a possibilidade de ser candidata às próximas eleições regionais. É que Sarkozy, curiosamente, conviveu bem com outras figuras do seu partido que desrespeitaram a "regra republicana". E dá-se o caso de que, em tempos muito complicados para o antigo presidente, Nadine Morano esteve sempre e incondicionalmente a seu lado, foi, quase sem paralelo, "a mais sarkozysta dos sarkozystas", defendendo-o nessas ocasiões bem difíceis. Convivo mal com a política quando o oportunismo e ambição esmagam a lealdade. 

9 comentários:

Rui Oliveira disse...

Pela última frase do seu texto, subentende-se, senhor embaixador, que vai passar a conviver mal com a politica do Partido da sua simpatia, quando o secretário-geral desse partido, denotando oportunismo e ambição, pretende trair aqueles que lhe foram leais dando-lhe o seu voto.

Cumprimentos

Rui Oliveira

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Rui Oliveira. Onde é que leu isso? Que eu tivesse dado conta, António Costa não deu o menor sinal de ser desleal para com quem o elegeu. Essa agora!

Jaime Santos disse...

António Costa tem dito desde sempre que não gosta do conceito do 'Arco da Governação', por isso se o PS fizer uma aliança com o BE e com o PCP, isso será tudo menos desleal para com quem nele votou. A questão é distinta, é saber se é possível uma plataforma comum para um Governo de Esquerda que não pise as linhas vermelhas que o PS traçou. Pessoalmente, acho isso impossível, pelo que o caminho natural é aquele aqui descrito pelo Sr. Embaixador, isto é o PS acordará com a Direita um apoio a um Governo minoritário desta. Mas, para quem considera que uma coligação de Esquerda desvirtua o resultado eleitoral, faço lembrar que no fim de contas, o que interessa é a correlação de forças na AR, que reflete, essa sim, a vontade popular. O resto, quem chegou primeiro ou quem chegou em segundo, é conversa que nem sequer tem lugar na Constituição da República... Quanto ao assunto do Post, acho muito mais grave a quebra do 'Pacto Republicano' pela Direita Francesa de que fala, do que a frase infeliz da Sra Morano que utiliza um conceito que há muito a Ciência mostrou ser completamente arbitrário... Os políticos não deveriam ter apenas cuidado com o que dizem, deveriam igualmente contribuir para acabar com preconceitos fundados em Teorias Científicas que foram invalidadas há muito...

Anónimo disse...

O significado de “dia da raça portuguesa” nunca teve nada a ver com “raças humanas” ou “raça branca”! Estão sempre a “dar a volta ao texto”. (mas começo a desconfiar que querem incluir na raça humana outras espécies, só de ver as mesuras que lhes fazem e os direitos que lhes querem garantir. Até já estão no parlamento...)
E não estou aqui a defender ninguém, muito menos quem veio outra vez àquela "cena" das cagarras, sabendo (saberá?) que o resultado é exatamente o mesmo.
Agora é que se vai saber (ou confirmar o que nos pareceu até agora) de que são feitas as pessoas em especial o PM. Vamos ver as tais coragens e honestidades…

Anónimo disse...

E eu a pensar que a França eram um bastiao do wahabismo...

Mas alguma vez a matriz da frança nao é judaico-crista? ou o senhor embaixador nao achara estranho chegar a uma aldeia transmontana so ver pretos e arabes e com um bocado de sorte haver quem proponha a igreja para mesquita?
Bem sei que ser preto e arabe nao é crime, mas ha umas resmas de gentes do ghetto nada recomendaveis que nao se querem integrar nem coisa nenhuma. Se forem 2 ou 3 nao é grave. E se forem varias centenas de milhar. A França a eles?

ora veja la

https://www.youtube.com/watch?v=zJrmuAvHpFw


cumprimentos

Reaça disse...

O dia da raça, do 10 de Junho imortalizado pelas cerimónias do Estado Novo, não tem nada a ver com raça branca preta ou amarela, antes pelo contrário.

O dia da raça à portuguesa, era aquela raça que ia do Minho a Timor.

Atenção às insinuações.

Anónimo disse...

"politicamente correto" é a frase oficial dos burocratas de vários países e que deixa a UE a "bater os dentes", por culpa própria.

Este é o verdadeiro problema. Não tem a ver com raças e credos.

Tem a ver com a paulatina e acelerada subjugação da Europa pelos arautos do radicalismo extremista, suportados pelos petrodólares que nunca respeitaram nem respeitarão os outros e qu vão jogando por inveja e mesquinhez de espiríto na liquidação mental dos europeus, prguiçosos no seu egoísmo.

Só vão acordar(?) quando estiverem nos seus próprios países com as calças na mão.

Política interna pouco interessa, são jogos de ópera bufa para pavonear egos e alimentar incautos.


alvaro silva disse...

A estupidez do políticamente correcto. Há uma espécie humana que se divide em raças: branca, preta, amarela e parda , com multiplas variantes, mulatos cabritos cafusos, canarins xins, filipinos malabares, peles vermelhas mongós, bosquímanos inuits, e filhof de muita mãe e pai , de tudo e á vontade do freguês Nenhuma é insulto para ninguém, é apenas uma constatação.

rui disse...

NÃO HÁ TEMPO A PERDER: os 'globalization-lovers' que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa!
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Nazismo não é o ser 'alto e louro', bla bla bla,... mas sim... a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!
Existem 'globalization-lovers'... e existem 'globalization-lovers' nazis (estes buscam pretextos para negar o Direito à Sobrevivência das Identidades Autóctones).
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P.S.
Todos diferentes, todos iguais!...
Isto é: TODAS as Identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta!...
{nota: Inclusive as de 'baixo rendimento demográfico' (reprodutivo)!... Inclusive as economicamente pouco rentáveis!...}
- Uma NAÇÃO é uma comunidade duma mesma matriz racial onde existe partilha laços de sangue, com um património etno-cultural comum.
- Uma PÁTRIA é a realização de uma Nação num espaço.
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P.S.2.
Devemos estar preparados para a CONVERSA DO COSTUME dos nazis made-in-USA [nota: estes nazis provocaram holocaustos massivos em Identidades Autóctones]: «a sobrevivência de Identidades Autóctones provoca danos à economia…»
[Nota: é preciso dizer não ao nazismo democrático e sim ao separatismo, isto é: é preciso dizer NÃO àqueles que pretendem determinar/negar democraticamente o Direito à Sobrevivência de outros]
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P.S.3.
http://separatismo--50--50.blogspot.com/
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Anexo:
A propósito do problema demográfico:
- já há mais de dez anos (comecei nos fóruns clix e sapo) que venho divulgando algo que, embora seja politicamente incorrecto, é, no entanto, óbvio: promover a Monoparentalidade (nota: sem 'beliscar' a Parentalidade Tradicional, e vice-versa) é EVOLUÇÃO NATURAL DAS SOCIEDADES TRADICIONALMENTE MONOGÂMICAS...
{ver blogs http://tabusexo.blogspot.com/ e http://existeestedireito.blogspot.pt/}

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...