sábado, outubro 31, 2015

Um justiça "à la carte"

No caso José Sócrates, a respetiva defesa tem denunciado, de forma bastante agressiva, o que entende ser a arbitrariedade das instituições da Justiça, considerando, nomeadamente, que ela releva de uma sanha corporativa contra o ex-PM. Esta atitude dos advogados tem sido lida por grande parte da comunicação social como uma forma intolerável de pressão sobre o sistema judicial, saudando frequentemente a independência que este tem demonstrado.

Foi contudo interessante verificar que, aquando do surgimento das duas únicas decisões judiciais que parece favorecerem a defesa de José Sócrates - a obrigatoriedade da abertura do processo para consulta pela defesa e, agora, a decisão de proibir a divulgação de peças em segredo de justiça (e só destas) por parte de um grupo de comunicação social que se tem destacado nesta prática ilegal -, a reação da imprensa tenha sido exatamente de sinal contrário. Os operadores judiciais que proferiram as decisões foram acusados de objetiva cumplicidade com os interesses de Sócrates, rotulados de parcialidade e coisas de idêntico jaez.

Este tipo de reação conduz à impressão de que, afinal, a Justiça é independente quando decide contra José Sócrates mas é logo considerada cúmplice deste quando toma uma atitude que pode favorecer a sua defesa. Curioso, não é?  

13 comentários:

aamgvieira disse...

A quem quer contar a sua "história da carochinha"?

Um excelente texto de "british humor" !

Francisco Seixas da Costa disse...

Então explique lá aamgvieira!

ARPires disse...

Não explica nada, porque não sabe explicar coisa alguma, caríssimo embaixador!
A cegueira partidária tolhe-lhes a capacidade de pensar.
Um bom fim de semana para si e para os seus.

Joaquim de Freitas disse...

aamgvieira não pode explicar porque ele crê na justiça expedita! A direita portuguesa desde há muito que não crê que: "
« Les hommes naissent et demeurent libres et égaux en droit » .

Os atropelos à democracia , ao nível do Estado, e não só na justiça, que se verificam estes últimos dias, após as eleições ganhas pela direita, demonstram que a direita interpreta a democracia como lhe convém, e a tentação é grande de ir mais longe até impedir a maioria dos cidadãos, que estão à esquerda, de exercer o direito à alternância.

"« Le ventre est encore fécond d’où jaillit la bête immonde ». Devemos relembrar em permanência estas palavras de Bertolt Brecht! Salazar e os seus servidores eram ontem, não há muito tempo. Mas nunca desapareceram. Preferiram, durante um certo tempo, passar despercebidos, o tempo de deixar cair a febre da revolução.

E se se preparam a descer à rua, é que na sua forma contemporânea, a direita, aproveitando a placa de chumbo de Bruxelas que pretende imobilizar toda e qualquer resistência dos povos europeus, obrigando-os a aceitar, uma vez para sempre, que só existe uma politica económica possível, a sua, baseada na austeridade e no sacrifício para os mais desfavorecidos, que são a grande massa, pretende , desta maneira, inscrever-se duravelmente na paisagem política , social e ideológica e sem cessar renascer das suas cinzas.

Paisagem, na qual, para eles, não há lugar para ideias progressistas , mesmo numa democracia.

aamgvieira disse...

"Esta mesma cegueira de olhos abertos divide-se em três espécies de cegueira ou, falando medicamente, em cegueira da primeira, da segunda, e da terceira espécie. A primeira é de cegos, que vêem e não vêem juntamente; a segunda de cegos que vêem uma coisa por outra; a terceira de cegos que vendo o demais, só a sua cegueira não vêem.

Padre António Vieira, in "Sermões"

Jaime Santos disse...

O recurso a meios ilegítimos para fazer Justiça (como violar o Segredo do Processo) torna o Processo Judicial ilegítimo. E quem defende o contrário não sei o que seja, sei que não é nenhum democrata...

Joaquim de Freitas disse...

Seria interessante de conhecer qual é a espécie de cegueira que o afecta. Eu sei, mas nao ouso!

Unknown disse...

Preocupante é que haja alguma relação entre a possível subida ao poder do PS e a incrível decisão de um tribunal proibir um (vários?) média de publicar artigos, sem que haja decisão criminal contra o CM.

aamgvieira disse...

Sr Freitas e qual é a cegueira que o afecta?

Pode sempre "ousar" como diria Mao !

António Pedro Pereira disse...

Sr. António Cristóvão:
O senhor nunca nos desilude com os seus «lúcidos» e «isentos» comentários: um primor.
O senhor é o exemplo acabado do que o Senhor Embaixador FSC quer mostrar com o seu post.
Ele não se pronuncia sobre a culpabilidade do Sócrates, pois deverão ser os tribunais a fazê-lo.
Retomando o seu comentário, para si não é preocupante que tenha sido com a Direita no poder que o caso avançou (e muito bem, se há desconfianças e/ou indícios que se investigue), ao mesmo tempo em que outro caso não menos grave era arquivado por falta de provas.
E apesar de ter sido afirmado, em plena Comissão Parlamentar de Inquérito, por um interveniente nesse caso não menos grave, que a sua família recebeu 5 milhões em luvas de um pacote de 30 milhões para esse «benigno e útil fim».
Portanto, para si as preocupações têm geometria variável: nuns casos um ângulo raso, noutros, um ângulo de 360 graus.
Ah, grande António Cristóvão!

Flor disse...

Preocupante!

AV disse...

Complementaria, se me permite, as suas observações com o 'recado à justiça' de Rentes de Carvalho, que nesta semana nos recordou a frase de Voltaire: "Pour savoir qui vous dirige vraiement il suffit de regarder ceux que vous ne pouvez pas critiquer".

ARPires disse...

Sr. Manuel Silva
Giro é um ângulo de 360 graus.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...