domingo, outubro 18, 2015

Botelho


Na residência da nossa embaixada em Brasília, onde vivi por uns anos, havia um grande óleo de Carlos Botelho, similar ao desta imagem. Na sala onde estavam belos quadros de Pomar, Resende, Menez e Hogan, e para onde eu levara os meus Palolo, Cruzeiro Seixas, João Vieira, Teresa Magalhães e até um Cesariny, a obra de Botelho ressaltava pelo seu tradicionalismo.

Um dia, dei comigo a tentar refletir por que razão me parecia que aquele quadro não "rimava" com todo o resto. E cheguei a uma conclusão muito pessoal: era eu quem acha muito pouca graça a Carlos Botelho, aquelas "Lisboas" diziam-me muito pouco e - já sei que, para alguns, vou dizer uma "barbaridade"! - acho o pintor sobrevalorizado na sua cotação pública.

Com a idade, ganhei a saudável liberdade para poder dizer que não gosto da maioria dos filmes de Manuel de Oliveira, de que, em geral, Torga me aborrece, de que Régio não faz bem o meu estilo preferido de poesia e coisas assim, como a pintura de Botelho, por exemplo. Guardo para outras ocasiões outros capítulos da minha "lista negativa"...

5 comentários:

Unknown disse...

Caro Francisco,

Carlos Botelho começou por ser muito bom e depois passou a ser muito igual.

Um abraço

JPGarcia

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó meu caríssimo Francisco nem calcula a gargalhada que soltei com este seu post. Finalmente explica-se que, afinal, sempre vamos tendo em comum algumas coisas, para além da estima que lhe dedico e que é muita, como a maioria dos seus leitores poderá testemunhar.
Bem haja pelo conluio - ao menos nós podemos neste domínio faze-lo - que me tornou tão feliz.
E, como sou mais velha, calcula quantos escândalos não causei já junto dos "entendidos", com a minha listinha negativa!

Fernando Frazão disse...

O Sr. Embaixador atreveu-se a escrever o que vai na alma de muitos intelectuais da nossa praça e quase constitui uma verdadeira heresia.
Fico muito curioso e expectante em relação aos comentários que o seu post vai ter.

Chapeau

Maria disse...

Nao vou entrar pela pintura mas sim pelo cinema. Recordo com imensa saudade discussoes acerrimas pela noite dentro acerca de Manoel de Oliveira. Estavamos geralmente em posicoes opostas mas nunca nos zangamos. Era o que faltava!!!

Mais adiantada nos anos e outros Oliveiras vistos e revistos, reconheco que nem todos os filmes de M. Oliveira sao maginificos (mas deve haver mais de 7....) Um amigo enviou-me recentemente 1 Oliveira ja antigo (1994) A CAIXA. Esteve no Festival de Cannes e embora nao seja tao extenso como "Le Soulier de Satin" (meras 7 horas...)encheu-me as medidas. Como e que me escapou? Que diabo? E curtinho, so 1 hora e meia e as interpretacoes de Luis Miguel Sintra,Beatriz Batarda Isabel Ruth, Diogo Doria,Glicinia Quartin, so para citar alguns,sao soberbas. Fiquei embasbacadae, se ainda nao viu, quer arriscar? Se nao gostar, aceito a sua descasca e estou pronta para outro amigavel debate!!!

Saudades

F. Crabtree

Manuel Augusto Araújo disse...

DE facto O Botelho não devia rimar com os outros, mas mesmo entre os outros a rima não devia ser fácil, embora fosse mais fácil. Todos os artistas têm obras menos conseguidas, mesmo os mais geniais, sobretudo quando a sua obra é extensa. Muitos Picasso ou Klee ou...estão longe, muito longe de nos deslumbrar. Com a idade vamos ficando com menos paciência para, por exemplo, ler quatrocentas páginas para nos alumbrarmos com umas quinze ou vinte ou mesmo começarmos a ler um romance enquanto se avoluma a interrogação isto está bem escrito mas a ausência de espessura é dolorosamente evidente. Depois há aqueles que são mais controversos como o Oliveira que percorre a escala completa da quase genialidade, A Caixa referida por F.Cabtree, é uma pequena pérola, até filmes quase execráveis, em todos os sentidos, como Cristóvão Colombo, o Enigma. Se noutros realizadores a pressão económica "obrigou-os" a enormes concessões, visite-se a obra de Nicholas Ray, o Oliveira nunca teve essa pressão e no entanto...Quando me acontecem esses sobressaltos lembro-me sempre do conselho que Séneca dava a Lucílio, logo numa das primeiras cartas que era, versão de memória, o de não se dispersar a ler inúmeros autores, não correr atrás das novidades, antes reler os autores que lhe deram motivo para o prazer de meditar e aprofundar o pensamento. É um enorme prazer rever, reler reouvir e descobrir o que já nos tinha maravilhado para redescobrir cantos em que nos tínhamos menos detido ou mesmo escapado, para filtrar mais finamente o que de novo aparece. Saudações, desculpas pelo espaço ocupado.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...