Temo que uma agenda
política como a que vivemos, obsessivamente centrada na questão do governo, não
vá facilitar a que o debate sobre as eleições para a Presidência da República promova
um esclarecimento substantivo em torno das propostas dos candidatos a Belém.
Como era quase
inevitável, os candidatos, ao longo das próximas semanas, vão transformar-se numa
espécie de “comentadores” daquilo que o atual titular do cargo vier ou não a
fazer perante a situação política, adiantando como atuariam se acaso estivessem
no seu lugar. Numa versão benévola, pode ser que esta emergência, num contexto
político que não é especificamente o seu, possa ajudar a avaliar da maior ou
menor sensatez e sentido de Estado de cada um.
O resultado das eleições
legislativas está a fazer caminhar o país por aquilo que os anglo-saxónicos qualificam
de “unchartered waters” ou, usando a frase de Camões, “por mares nunca dantes
navegados”. Da mesma maneira que, nos últimos anos, em cada português se
descobriu um economista, podemos ter a certeza que todos nos vamos transformar,
nos dias que aí estão, em especiosos constitucionalistas, a começar pelos
candidatos presidenciais.
Independentemente do
saldo final da formação do governo, a próxima legislatura promete ser tudo
menos sossegada. Excluídos que parecem estar executivos maioritários, todas as
soluções à vista têm um forte potencial de fragilidade. Ora é nos cenários instáveis
que o papel de um chefe do Estado é sempre decisivo.
Por essa razão, seria
muito importante que o futuro ou a futura Presidente da República trouxesse ao
sistema político um sinal de forte autoridade, diria mesmo, de alguma elevação
e distância face às forças partidárias.
Não é isto, contudo, que
se vislumbra no horizonte, se observarmos o perfil dos três nomes com possibilidades
realistas de acesso ao topo da pirâmide institucional do país.
Dois deles emergem dos
partidos que estão, e prometem continuar a estar, cada um no seu lado da trincheira
política, em aceso e continuado confronto. Por essa razão, ser-lhes-á muito difícil
fazer “esquecer” a sua origem partidária, a menos que ensaiem delicados processos
de distanciação, quiçá assentes em discursos de “acalmação”. Não estou,
contudo, seguro de que consigam ganhar facilmente um estatuto reconhecido como de
independência, suscetível de reforçar uma imagem de potencial “honest broker”.
O terceiro candidato, a confirmar-se a perspetiva de um governo com o apoio de
toda a esquerda, tenderá, com naturalidade, a cavalgar essa onda. E, como é
óbvio, isso retirar-lhe-á, no “outro lado”, qualquer imagem de neutralidade e de
capacidade potencial para a arbitragem dos futuros conflitos.
Acho que é tempo de nos
preocuparmos também com as eleições presidências.
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")
4 comentários:
"Acho que é tempo de nos preocuparmos também com as eleições presidências."
Calma Sr. Embaixador ainda a procissão vai no Adro...
A coligação para ir à frente precisa de mais 1 candidato duas candidatas para elevarem o professor Marcelo...
O PAN pela sua idiossincrasia entre o racional e o respeito pelo irracional acho que devia conceber uma estratégia capaz de representar o seu eleitorado, sugiro alguém também da área cientifica da medicina e enfermagem veterinária com mestrado e se possível doutoramento em flora e fauna selvagem.
Os cerca de treze partidos sem assento parlamentar poderiam se quisessem sentar-se para discutir a possibilidade de se fazer representar talvez com um cavaleiro , um rei, um líder, um chefe, um troikista... sei lá
O que eu sei é que temos que deixar pousar os candidatos...
Embora eu já tenha o meu, só me falta o aval da minha conselheira velha senhora...
Os portugueses olham para esta coisa das presidenciais como um assunto que não interessa nem ao menino Jesus. Muito menos acham que Ele terá vindo convencer alguém a concorrer...
antónio pa
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