A grande "novidade" da política internacional nos últimos dias é a disposição manifestada pela Rússia para intervir militarmente no conflito sírio, ao lado do governo de Assad. O que não fica claro dos resultados dos primeiros ataques é se a prioridade nos alvos russos será o Estado Islâmico ou os restantes oponentes ao regime de Damasco.
Curiosamente, por estes tempos, muitos acham natural que os Estados Unidos e a França estejam a bombardear as posições do Estado Islâmico, sem qualquer mandato das Nações Unidas, mas levanta-se logo um "aqui d'el rei!" quando a Rússia toma uma atitude numa zona cuja proximidade ao seu território é bem maior do que de Washington ou Paris. Assad está longe de ser "flor que se cheire", mas até a comunidade ocidental já entendeu que tem que contar com ele se quiser tentar resolver o problema bem maior que é o surto islâmico armado que desestabiliza a região e aterroriza o mundo e está na origem próxima da vaga de refugiados que hoje é a questão que preocupa o ocidente e afeta particularmente a União Europeia. O que é verdadeiramente novo é que Assad passa a ter um aliado com força militar, a combater a seu lado.
Curiosamente, por estes tempos, muitos acham natural que os Estados Unidos e a França estejam a bombardear as posições do Estado Islâmico, sem qualquer mandato das Nações Unidas, mas levanta-se logo um "aqui d'el rei!" quando a Rússia toma uma atitude numa zona cuja proximidade ao seu território é bem maior do que de Washington ou Paris. Assad está longe de ser "flor que se cheire", mas até a comunidade ocidental já entendeu que tem que contar com ele se quiser tentar resolver o problema bem maior que é o surto islâmico armado que desestabiliza a região e aterroriza o mundo e está na origem próxima da vaga de refugiados que hoje é a questão que preocupa o ocidente e afeta particularmente a União Europeia. O que é verdadeiramente novo é que Assad passa a ter um aliado com força militar, a combater a seu lado.
Ninguém que atue militarmente naquela zona, fora do seu território nacional, pode reivindicar-se hoje de estar a agir sob qualquer legitimidade internacional, isto é, coberto por mandato das Nações Unidas. Dir-se-á que foi a Rússia (e a China) que impediu que o Conselho de Segurança das NU autorizasse uma intervenção na Síria, aquando do início da guerra civil naquele país. É verdade, mas também é um facto que, pouco antes, um mandato similar havia sido utilizado pela França e pelo Reino Unido na Líbia, com "backing" logístico dos EUA, acabando abusivamente por ser usado para derrubar Kadhafy, com os resultados que redundaram na "balcanização" tribal do país, com efeitos diretos na tragédia que é o tráfico de migrantes para a Europa. A Rússia aprendeu que os Estados ocidentais têm uma mentalidade de mestre-de-obras e que são sempre tentados a ações do tipo "já agora"...
A Rússia, entre ser respeitada a ser temida, escolheu a segunda opção. Ao reverter a seu favor a situação na Geórgia, ao "equilibrar" as pretensões ocidentais na Ucrânia e ao tomar a Crimeia sem qualquer cerimónia, Moscovo reassumiu-se como potência defensora daquilo que entende serem os seus interesses, de forma despudorada e algo preocupante, tanto mais que não é um poder sob um escrutínio interno democrático credível. Fá-lo agora também na Síria. Devemos sempre estar muito atentos quando um poder atua fora do seu território de forma militar, nomeadamente olhando sempre a proporcionalidade que vierem a assumir essas ações e o modo como elas correspondem, ou não, à vontade de outros Estados afetados. Mas, com franqueza!, os Estados Unidos, depois do caos que espalharam pelo Médio Oriente, com a invasão não autorizada pela ONU do Iraque, à procura das miríficas "armas de destruição maciça", são os últimos a poderem levantar um dedo acusador à Rússia.
A Rússia "está-se nas tintas" por ter sido excluída do G9, que assim regressou ao G8 original. A "credencial" de respeitabilidade do mundo ocidental, que pareceu seduzir Moscovo na década e meia subsequente ao fim da URSS, hoje já lhe importa muito pouco, porque entendeu que o preço a pagar por ela, em termos de fragilização do seu papel, não necessariamente num mundo para o qual não tem poder de influência, mas essencialmente no seu "near abroad" estratégico, estava a ser muito elevado. O caso ucraniano levou ao extremo o seu isolamento e o regime das sanções daí decorrentes é pesado, porque afetam a sua depauperada economia, causticada simultaneamente pela queda dos preços do petróleo. Porém, com estas ações na Síria, a Rússia torna-se cada vez mais mais relevante geoestrategicamente perante o mundo. Tenho para mim que, no caso desta sua intervenção vir a redundar numa ajuda efetiva à contenção do Estado Islâmico (tendo como "side effect" e contrapartida a anulação ou contenção da guerrilha anti-Assad), um progressivo acolhimento deste novo perfil de Moscovo por parte do ocidente deverá vir a ocorrer.
8 comentários:
Mais uma análise fina ao papel da Rússia no (des)concerto das Nações.
o Jaime S.
fez no fundo o mesmo que a turquia
atacou os "terroristas". a turquia atacou os maiores combatentes do estado islamico os curdos do ypg e do pkk
(apesar de, segundo li, dos curdos serem tb um dos maior contingentes do estado islamico)
os ocidentais (como gostam de dizer alguns tipos que defendem uma certa visao do mundo, como se no ocidente so houvesse uma maneira de ver o mundo...) nem miaram
agora o mau da fita do putin parece que tambem acertou nuns terroristas ao lado e como disse vexa, aqui del rei aqui del rei
sobretudo aqueles senhores que andam a vender armas à arabia saudita e às "outras democracias do golfo" esses amigos da coligacao que andam a espalhar a paz e o amor que o ocidente lhes vende pelo YEMEN. e no ocidente ninguem fala. (la houve uns tipos da bbc...)
as elites da europa (politicos armas medias e afins) andam de rabo para o ar a ver passar os principes das arabias, mas ficam muito preocupadas com o senhor putin
olà seja lavado como dizia o outro
cumprimentos
Análise muito correcta sr embaixador, mas agora e num aparte seria bem mais eficaz bombardear estes despojos do império otomano com produtod de"Origem transmontana" o que sutia um duplo efeito pois matavam duplamente com a toxina botulínica e com a carne de porco que não é "hallal"
Excelente comentário.
E nós aqui bem longe (?) com os nossos probleminhas dos jotinhas, dos chouricinhos e das sadinhinhas e dos volkswaguenzinhos. dos costinhas e passinhos.
Neutrinhos como antigamente.
Haja Deus!
Subscrevo na integra
Hoje gostei muito deste seu post. Aliás Embaixador, já por várias vezes eu tinha deixado aqui esta minha posição face á Russia. Digo mesmo seja vem vinda de novo. Os Estados Unidos, são em grande parte os responsáveis pelo crescimento do Estado Islãmico, andam a fazer de conta que os combatem, mas a Russia com gente mais inteligente e capacitada que os Estados Unidos vai mostrar quem manda. Já no tempo da URSS, claramente os soviéticos eram mais avançados e inteligentes que os Americanos, estes ultimos apenas dominam no dinheiro, mas o Putin vai mostrar aos comboys quem manda. A Russia não é igual á bosta da União Europeia. Eu como europeu tenho nojo do pessoal politico e não só que a serve. Viva a Russia.
Excelente análise. A 'real politik' está de regresso ao discurso do Ocidente, depois de ter estado afastada durante a fase neo-conservadora de má memória. Se tivermos sorte, o mundo do sec. XXI irá parecer-se com o do século XIX, com um Grande Jogo em que os EUA substituirão a Grã-Bretanha do sec. XIX, e com a Rússia a fazer de Rússia (e onde o território em disputa é mais ou menos o mesmo). Se tivermos azar, irá parecer-se com a Europa durante e após a Queda do Império Romano. Contrariamente à tese do belo texto de Carl Schmidt, parece que as potências territoriais (e conservadoras), como a Rússia e a China, dispõem afinal de um prazo muito mais dilatado de validade dos que as potências marítimas (e liberais), o Império em que o Sol nunca se põe é hoje afinal uma vaga memória, talvez porque o Imperialismo e o Liberalismo não são exactamente compatíveis...
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