segunda-feira, outubro 05, 2015

5 de outubro


Tive o grato prazer de estar presente na cerimónia solene que, na Câmara Municipal de Lisboa, celebrou esta manhã o 105º aniversário do 5 de outubro de 1910, data que, estou seguro, o próximo parlamento não deixará de aprovar como feriado nacional, a par do 1° de dezembro. A identidade de um país também se faz das datas que marcaram o seu percurso histórico. E só uma insensibilidade insensata tirou dignidade institucional a estas evocações. Aguardo o seu rápido regresso ao calendário afetivo do país.

Fernando Medina fez um excelente discurso, com elevado sentido de Estado. A importância da questão europeia mas, igualmente, as linhas mestras do novo ciclo político que hoje se abre foram por ele realçadas com equilíbrio e rigor. O país deve seguir com atenção este jovem autarca, porque o vai encontrar muito num futuro em que, estou certo, terá um papel decisivo a desempenhar.

O presidente Cavaco Silva, frequentador regular deste evento outonal, só surpreendeu quem o não conhece ou anda muito distraído. Nesta cerimónia, e por uma vez, a sua palavra não suscitou a menor crítica, nenhuma afirmação controversa pôde ser-lhe assacada, evitou com maestria a injustiça de vir a ser acusado de uma leitura enviezada da situação decorrente do sufrágio de ontem. Gerir a palavra desta forma é uma consumada arte, embora a arte seja, como é sabido, uma coisa de leitura não unívoca. Cavaco Silva, que por algumas semanas mais representa a República que lhe saiu em sorte, pode hoje ter concretizado um sonho de mandato: fez o consenso, embora não necessariamente aquele que desejasse. Não teve palmas no seu discurso, não foi interrompido, os apartes que, a seu respeito, possam ter sido ditos foram-nos, seguramente, em voz bastante baixa, pelo que, como habitualmente, nada ouviu nem entendeu. Aplausos tiveram, e fortes, suspendendo o discurso de Fernando Medina, os antigos presidentes presentes, Mário Soares e Jorge Sampaio, já que Ramalho Eanes primou pela ausência. 

Nesta bela cerimónia, só fez falta quem lá esteve.

21 comentários:

Anónimo disse...

Mais um dia no "Jurassic Park".

Anónimo disse...

Embaixador, e então por onde andava a esfinge de Belém? por outro lado esse Medina, não era o tal que em desespero andava a pedir aos amigos dele que tivessem amigos do PC E DO BLOCO, para votarem no PS? esse gajo o que quer? diz que já lhe chamam réptil.

Carlos Fonseca disse...

Cavaco não foi à Câmara Municipal de Lisboa e talvez tenha uma boa razão para a ausência: ao contrário de outros tempos, pode não se sentir plenamente integrado neste regime.

Anónimo disse...

Que falta de paciência para comentários sem sentido e sem graça sobre o representante de Portugal eleito pelos portugueses feitos por um embaixador!
João Vieira

opjj disse...

Depreendo das suas sábias palavras que Cavaco Silva acertou com maestria na psicologia dos presentes.
Portanto ele até conhece o seu povo.Quem diria?
Tb a sua última linha é de mestre.
Não é fácil ser Presidente, quem pensa o contrário deveria fazer um tirocínio durante algum tempo. Espetarem facas nas costas do homem à queima roupa e ser enxovalhado por quem nunca se sujeitou a votos, não é digno.
Cumprir a constituição segundo o critério de cada vontade!
Cumps.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro João Vieira. Que não seja eu a razão de ser da sua perda de paciência. Ninguém o obriga a passar por aqui, já notou?

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro opjj. Só faltava que um qualquer eleito não pudesse sujeitar-se ao escrutínio crítico de um eleitor. Que diabo de noção de democracia a sua!

Anónimo disse...

Caro Seixas da Costa
Poderia não passar mas passo porque me dá na gana embora deteste ver antigos representantes de Portugal tomarem atitudes que o demitiriam se estivesse no activo
João Vieira

Alain Demoustier disse...

pensava que a silly season tinha acabado, mas WRONG...

Flor disse...

Penso que talvez receasse ter outro desmaio. :)

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro João Vieira. No ativo, como é de regra, um diplomata abstem-se de comentários sobre os eleitos da pátria. Era o que faltava um diplomata criticar presidentes, primeiros-ministros ou ministros. Aposentado, podemos exprimir livremente as nossas opiniões. Qual é a estranheza?

alvaro silva disse...

Mas que diferença sr embaixador após 105 anos passados, Não se viram farfalhudos bigodes nem escanhoados cavanhaques, nem republicanas de mamas ao léu e patriotismo inflamado. Só vi presidentes de câmara em bicos de pés e efeminados, presidentas andróginas e jerarcas decrépitos e reformados. Nem estudantes nem trabalhadores.Valha-nos a GNR mais a sua banda, mas faltou a cavalaria. Uma decadência

Anónimo disse...

Essse João Vieira, já vi que é um egiptologo, fanático da Esfinge,ahahahahahah. Nem o Carther era tão fanático pelos mistérios do egipto.

Anónimo disse...

João Vieira, mas a que diabo de manual foi você buscar que um diplomata aposentado não pode criticar um presidente em funções? Quantos exemplos quer, pelo mundo fora, de antigos diplomatas que criticam governantes em funções? Qual é a pena que propõe? O corte da reforma do embaixador? A proibição de outros diplomatas o cumprimentarem na rua?

Anónimo disse...

Caro Seixas da Costa: o problema é que não exprimiu opiniões, disse uma graçola que, a meu ver, não deve ser dita por antigos altíssimos funcionários que não perdem a "dignidade" da função, beneficiando dela, e portanto devem seguir as regras de contenção do activo.
Quanto ao anónimo apetece dizer: fanático é a sua tia! para estar ao nível.
João Vieira

Anónimo disse...

Só sei que este tristíssimo povo lhe deu cinco vitórias eleitorais. CINCO!! Sendo o sr. João Vieira, representante desse povo que o elegeu. Dentro em breve, este admirador apaixonado, vai ter de arranjar outro de semelhante cariz: culto, perspicaz, audaz, destemido, inteligente.

Fernando Oliveira disse...

"Ingratidão é uma forma de fraqueza. Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato".
Recordo-lhe aqui, senhor embaixador, o que pensava Goethe sobre a gente ingrata.

Cumprimentos
Fernando de Oliveira

Anónimo disse...

Caríssimo Chico

Vieiras, opjj & correlativos serão deste Mundo? Ou do outro? Deixá-los falá-los que eles calarar-se-ão

Abç do Leãozão

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Gabo-lhe a pachorra e a tolerância que revela para com um certo tipo de comentários e "comentadores". Só mesmo de quem é profunda e genuinamente democrata!

opjj disse...

Caro Dr. Seixas da Costa, sim,todos nós podemos criticar, mas com elegância. Não é preciso enlamear um Presidente só pq não fez a vontade de qq.Foi sujeito a uma violência imprópria.
Aponto-lhe um erro grave, deixou-se acobardar e manietar pela imposição de Sócrates.Ele sabia que caminhava-mos para o caos e não actuou.
Cumps

tgsc disse...

Depois das eleições alguns portugueses andam com os nervos a flor da pele, se esse é um blog aberto, opina quem que e passa quem aprouver. Compostura é básica na diplomacia.

João Miguel Tavares no "Público"