domingo, novembro 30, 2025

Hélder Macedo. 90 anos


Quem sou eu para falar do Hélder?! Não pertenço ao seu universo das letras, das academias ou das universidades. Em tese, os nossos percursos dificilmente se cruzariam: ele entre livros e seminários; eu noutros territórios mais prosaicos. Contudo, há bem mais de três décadas encontrámo-nos em Londres – cidade que ele tornou casa – e, desde então, construímos uma relação que dispensou quaisquer afinidades profissionais. E daí nasceu uma forte amizade.

Partilhamos um saudável ceticismo perante as verdades empacotadas, o pensamento preguiçoso e as certezas de almanaque, com uma dose teimosa de ironia afetiva sobre Portugal – o país a que regressamos sempre, mesmo à distância. Discutimos a democracia, o poder, as tensões do momento, a dificuldade de vislumbrar rumo no ruído global. Concordámos que Portugal continua a fazer as pazes consigo próprio através do esquecimento. Entre nós, houve sempre uma recusa partilhada: a do conformismo. Lembro-me que, nessas primeiras conversas em Londres, estavam às vezes o Rui Knopfli, o Eugénio Lisboa e, quase sempre, o Bartolomeu Cid dos Santos. Todos já se foram, como partiram o sorriso e a graça da Suzete. Mas nós vamos andando.

Há poucas semanas, no Britania, aqui em Lisboa, estivemos quatro horas sentados. Com chá, e creio que com scones, fizemos o nosso balanço irónico sobre o estado das coisas na pátria. Não saímos demasiado otimistas, e isto é um "understatement". O Hélder mantém uma lucidez única, um humor notável, uma curiosidade que não cede ao tempo. A memória dele é uma biblioteca onde nada foi arquivado por conveniência.

Hoje, no dia dos seus 90 anos, deixo-lhe um abraço muito forte. A nossa conversa não se esgota, caro Hélder.

Sem comentários:

Falta

Hoje, com imensa pena nossa, "marcamos falta" ao engenheiro António Mota no almoço natalício anual da Mota-Engil.